999 resultados para UFMG


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A tendência de algumas visões naturalistas de deduzir o sentido da ação humana da sua natureza biológica conduz a naturalizar a violência como fenômeno político inexorável. A violência naturalizada leva a sociedade para a dinâmica da inexorável violência, cuja única solução é a legitimação de uma violência total. Propomos, neste ensaio, a desconstrução crítica dos determinismos naturalistas por meio da análise da ação humana e da especificidade de sua potência que se manifesta como potência criadora (Cornelius Castoriadis) e potência do não (Giorgio Agamben). A potência da ação humana transcende os determinismos da sua natureza biológica, embora por eles esteja condicionada.

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O caráter comunitário da filosofia de Aristóteles resulta das diversas formas de análise da política que o filósofo apresenta na articulação dos seguintes aspectos: a tese de que o ser humano é um animal político; o modo como esta é realizada na comunidade política, na qual o logos se manifesta como atividade discursiva compartilhada; o cultivo de determinadas virtudes ético-políticas presentes na convivência humana, sobretudo, a amizade; a autossuficiência do cidadão e o seu vínculo com a autarquia da comunidade política. A retomada de um moderno conceito de comunidade, na tentativa de reatualizar os princípios gerais do comunitarismo aristotélico, pode ser compatível com determinadas teses liberais, sobretudo a questão da liberdade (autonomia) individual e o fato do pluralismo ético e político nas sociedades modernas.

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Neste artigo, interrogamos os funcionamentos do conceito de platô em "Mil Platôs" (1980), a obra-prima de Deleuze e Guattari. Essa pesquisa esclarece, de forma concreta, duas linhas de pensamento, que são a epistemológica, por um lado, e a ética, por outro, enfocando os parágrafos nos quais Deleuze e Guattari usam efetivamente esse conceito. Do ponto de vista epistemológico, o conceito de platô permite praticar uma maneira de escrita rizomática e a explicação antiteleológica. Do ponto de vista ético, esse conceito, tirado de Gregory Bateson, nos convida a formar a alegria contínua e global, ou a gaieté em termos espinosistas.

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In this article I present a possible solution for the classic problem of the apparent incompatibility between Mill's Greatest Happiness Principle and his Principle of Liberty arguing that in the other-regarding sphere the judgments of experience and knowledge accumulated through history have moral and legal force, whilst in the self-regarding sphere the judgments of the experienced people only have prudential value and the reason for this is the idea according to which each of us is a better judge than anyone else to decide what causes us pain and which kind of pleasure we prefer (the so-called epistemological argument). Considering that the Greatest Happiness Principle is nothing but the aggregate of each person's happiness, given the epistemological claim we conclude that, by leaving people free even to cause harm to themselves, we still would be maximizing happiness, so both principles (the Greatest Happiness Principle and the Principle of Liberty) could be compatible.

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Este trabalho analisa o conceito de esperança nas obras de Condorcet e Kant. Defende-se que o conceito de esperança no progresso da humanidade é de fundamental importância para a compreensão da filosofia política de ambos os autores. Por um lado, esperança oferece um horizonte de sentido que protege suas propostas políticas de visões de mundo antagônicas; por outro, ela se incorpora no próprio projeto político tendo ao mesmo tempo a função de motivação e de criação de instituições políticas com caráter pedagógico.

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Em "Teoria da vanguarda", de Peter Bürger, o choque é compreendido como o artifício intencional dos movimentos de vanguarda contra a autonomia do esteticismo modernista, a fim de devolver a arte à práxis vital. Adotando uma perspectiva distinta, o choque, para Adorno, expõe antes a crise da experiência da formalização do tempo decorrente da incongruência entre as forças produtivas e as relações de produção na sociedade industrial, sendo que dois caminhos artísticos distintos derivam da inflexão histórica da crise da experiência. Em Schoenberg, na esteira do que Bürger classificaria como esteticismo, o choque seria amortizado pela expansão da linguagem musical, mediante seu registro. Em Stravinsky, o procedimento mecânico de golpes rítmicos e de montagem, em consonância com a profusão de vivências do choque, surge como elemento regressivo. Os choques não seriam dispositivos críticos, mas sismogramas de reações às mudanças da consciência subjetiva do tempo na modernidade. O artigo procura enfatizar as premissas conflitantes entre Bürger e Adorno quanto à posição do conceito de choque, assim como as críticas de Bürger ao modernismo adorniano.

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Em seu livro, "Perception as a Capacity for Knowledge" (2011), John McDowell defende que a garantia fornecida pela percepção é infalível. Para tanto, é preciso entender o papel que a razão tem na constituição de estados perceptivos genuínos. Por meio dela, posicionamos estes estados no espaço lógico das razões. Assim, não só fazemos do estado perceptivo um episódio de conhecimento, mas também obtemos conhecimento de como chegamos a este conhecimento. McDowell sustenta que esta condição para o conhecimento, a posse da capacidade de posicionar um estado perceptivo no espaço lógico das razões, não o compromete com o intelectualismo. Neste artigo, defendo que o internismo de McDowell não está totalmente livre do intelectualismo e que o internismo é mais plausível não só sem intelectualismo, mas também sem reflexividade.

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Neste artigo, pretendo examinar a tese cartesiana da livre criação das verdades eternas a partir da conjugação dos atributos divinos que, segundo Descartes, são conhecidos por nós e sua tese de que, entre as verdades eternas livremente criadas por Deus, estão incluídos os princípios lógicos. A partir desse exame, concluo que, até onde o intelecto finito do homem pode conceber, a tese cartesiana da livre criação das verdades eternas envolve ao menos as seguintes teses: a) Deus, por ser infinito e puro pensamento em ato, estabelece necessariamente em si todas as essências e verdades, incluindo essências e verdades que para o intelecto finito parecem impossíveis, já que lhe aparecem como contraditórias; b) ao estabelecer as essências e verdades, Deus instancia algumas (e assim as cria) como conteúdos de ideias inatas nas mentes finitas, que são criadas com estrutura lógica; c) ao estabelecer as essências e verdades, Deus instancia no mundo atual ao menos algumas das essências e verdades não contraditórias instanciadas nas mentes finitas; e d) embora a mente humana finita não as possa conceber clara e distintamente, é certo que Deus instancia no mundo atual ao menos algumas das essências e verdades que aparecem como contraditórias, isto é, instancia no mundo atual ao menos algumas das essências e verdades que para a mente finita aparecem como impossíveis por serem por ela inconcebíveis, o que é confirmado por ao menos dois casos mencionados por Descartes.

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O artigo procura avaliar a consolidação e os desdobramentos da função heurística e simbólica ocupada pelo Ungeheuer [o monstro ou o monstruoso] na filosofia kantiana, tendo em vista a emergência do horizonte da racionalidade moderna. Uma reconfiguração dessas imagens do Monstro e da Monstruosidade parece ter lugar no momento mesmo em que a filosofia moderna procurou pensar sua identidade e seus limites. O pensamento de Kant, que ocupa - de fato ou de direito - um lugar central nessa ruptura, apresentaria de modo exemplar, embora não evidente, o percurso dessa transformação.

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De acordo com as interpretações mais conhecidas (por exemplo, Hofmann, Strauss, Löwith ou Kuhn), o pensamento jurídico e político de Carl Schmitt mantém distância de Aristóteles. Este artigo tem a intenção de mostrar que a concepção de direito de Schmitt, apesar de ser desenvolvida em um contexto diferente, contém semelhanças significativas com o entendimento de direito em Aristóteles. Para mostrar essa proximidade, considera-se especialmente a noção de totalidade presente no conceito aristotélico de polis, que implica que a unidade política é o principal modo de se realizar o direito.

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O objetivo deste artigo é examinar a hipótese de que a teoria kantiana do direito público seja estruturalmente antinômica, a despeito de que Kant só lhe tenha admitido o aspecto paradoxal. Com efeito, a teoria kantiana do direito público simultaneamente sustenta: (i) que o ingresso dos homens em um estado juridicamente organizado depende da obediência ao comando da razão que nos ordena celebrar o pactum unionis civilis e aceitar a submissão a uma ordem constitucional civil; (ii) que devemos aceitar como nosso legítimo soberano a quem quer que tenha condições de efetivamente impor seu poder sobre nós. Bons intérpretes como Bouterwek e Hermann Cohen pensaram, contudo, que a verdadeira dificuldade dessa análise é uma desconcertante confusão dos conceitos de soberano e de soberania. A hipótese que procuramos explorar neste artigo é a de que se obterá um melhor entendimento da posição de Kant se admitirmos que os dois planos de análise e as teses conflitantes a que se acaba de aludir estão em uma posição reciprocamente equivalente à que se encontram tese e antítese nas antinomias dinâmicas analisadas na "Crítica da razão pura".

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Este artigo se propõe a apresentar a formulação feuerbachiana do fundamento sensível do pensamento, buscando mostrar que nesse empreendimento Feuerbach: [1] toma como base uma teoria da objetivação, inseparável de uma teoria do homem como essência-gênero (Gattungswesen); [2] formula uma interpretação do desenvolvimento moderno da filosofia ao qual sua proposta filosófica seria imanente e do qual seria o resultado necessário; e [3] chega a formular as bases de uma nova posição ética, no plexo Eu-Tu. Desse modo, sua posição ontológica, ao reivindicar o sensível como o verdadeiro, não se constitui num imediatismo, pois o sensível aí apresentado é ele mesmo mediado pela existência genérica dos homens.

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O estudo da questão do conflito a partir da "História de Florença" nos fornece elementos capazes de mostrar que a reflexão maquiaveliana não se desenvolve de modo tão simples e linear quanto parece nos "Discursos". Com efeito, revelará que a oposição entre dois tipos de conflito - positivo e negativo - descrita nos "Discursos" se define progressivamente, a partir da análise da história florentina, como de um só tipo - trágico e violento - baseado sobre contraposições que não são possíveis de serem resolvidas em termos de uma virtù clássica, característica do primeiro período da história de Roma. Esta transformação levanta um conjunto de interrogações para as quais, de algum modo, o presente estudo pretende oferecer respostas: teria Maquiavel renunciado à ideia de conflito como fundamento da liberdade republicana e se entregado à utopia de uma ordem homogênea e estável? A que se deve atribuir o fato de as discórdias não haverem produzido em Florença os mesmos efeitos que em Roma? Seriam todas as discórdias naturais e, portanto, inevitáveis, ou poderia haver divisões "artificiais" e, portanto, evitáveis?

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O presente artigo se propõe a confrontar uma leitura antirrealista da obra do fenomenólogo Edmund Husserl e a sugerir que ela pode ser interpretada mais adequadamente como marco do realismo científico. Para tanto, primeiramente, será exposto um dos mais recentes e elaborados projetos nos quais Husserl se relaciona ao Empirismo Construtivo de Van Fraassen. Posteriormente, serão assinaladas as dificuldades encontradas para interpretar algumas teses de Husserl desde o marco antirrealista, enfocando, principalmente, a discussão sobre os inobserváveis, mostrando como a sua existência não é uma tese indiferente à fenomenologia husserliana. Por fim, será indicado como Husserl poderia estar mais próximo do marco realista.

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Este artigo procura refletir acerca do ponto a partir do qual Habermas afirma a inatualidade da crítica social da primeira geração frankfurtiana, em específico Adorno, a saber, a ideia de que a crítica radical da racionalidade articulada com a análise social conduziria inevitavelmente a uma aporia analítica, a qual só poderia ser superada pela mudança de paradigma no interior da teoria crítica. Focalizando como Adorno busca manter a situação aporética da crítica social, busco redimensionar a aporia tirando-a do registro de obstáculo inultrapassável em direção à condição de possibilidade do exercício crítico.