1000 resultados para Filosofia das Ciências da Natureza
Resumo:
Após tecer rápidas considerações sobre arte e nada, o presente texto reinterpreta o 4'33'', de John Cage, no atual contexto de superprodução semiótica. Salienta-se que, ao invés de ser uma abertura para a vida, a peça depende tanto de uma justificativa teórica, quanto de uma disposição formal. Vem desta uma dupla possibilidade, pois o silêncio de 4'33'' pode ser tanto concebido como o objetivo (impossível) a ser alcançado, quanto um meio para se interromper o falatório das coisas. Correspondendo a estas duas possibilidades estão diferentes estruturas de dissociação de meios e fins: a busca concentrada e uma passividade agressiva. Estas duas posturas são relacionadas no texto ao estado atual do capitalismo, caracterizado por uma superprodução mercantil de signos.
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Partindo do quadro de René Magritte, La trahison des images (Ceci n'est pas une pipe), este texto pretende tecer um comentário sobre as relações entre arte e realidade. Visando esse objetivo, tentarei interpretar a obra do pintor belga à luz do ensaio heideggeriano sobre a "Origem da obra de arte", não sem antes passar em revista alguns resultados da análise contida no livro de Michel Foucault, assim como algumas reflexões do filósofo da arte norte-americano Arthur Danto.
Resumo:
Neste artigo, pretendemos expor uma interpretação da teoria tomásica do juízo assertórico (enunciado), analisando os aspectos semânticos, epistêmicos e ontológicos dessa teoria. São explicitados os elementos constitutivos do juízo: conceito, imagem, predicação (composição e divisão), reflexão, afirmação, negação, verdadeiro e falso. O artigo mostra que, interpretada dessa forma, a teoria do juízo pode contribuir para o esclarecimento das distinções que serão tematizadas pela metafísica tomásica: as distinções entre ser, ente, essência e existência.
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Para Maquiavel, o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos. Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso. Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo.
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Com o agravamento dos conflitos religiosos no reino francês, principalmente a partir da segunda metade do século XVI, a questão do direito de resistência ao poder político voltou a ocupar um lugar de destaque no debate público. De um lado, autores que defendiam o direito dos súditos de resistir às ordens do monarca quando seus comandos fossem tirânicos, justificando, inclusive, o tiranicídio; de outro, autores que negavam esse direito e afirmavam o dever irrestrito de obediência à autoridade política legitimamente constituída. O objetivo deste texto é apresentar essa discussão e enfatizar alguns de seus aspectos que antecipam o debate moderno sobre o direito de resistência à autoridade política.
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Neste artigo pretendo apresentar a crítica de Hume ao argumento do desígnio bem como algumas interpretações acerca desta crítica, a partir de João Paulo Monteiro, Graham Oppy, Daniel Dennett e Richard Dawkins.
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Um dos problemas mais difíceis enfrentados pelos defensores de uma ética evolucionista é a falácia naturalista. Neste artigo, analisamos as soluções propostas por W. Rottschaefer e por R. Richards e verificamos não serem elas suficientes para eliminar o problema da falácia naturalista sem comprometer a especificidade da moral.
Resumo:
Aparentemente, ações e omissões não compartilham as mesmas propriedades. Um caso que ilustraria essa assimetria é a causalidade: enquanto as ações são explicadas como a realização efetiva de uma relação causal entre um agente e certos fatos, as omissões parecem dever ser explicadas como a ausência de relações causais entre uma pessoa e os fatos. Neste artigo, mostrarei que ações e omissões são, contrariamente às aparências, simétricas no que diz respeito à atribuição de causalidade genuína.
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O artigo distingue duas fórmulas do princípio do Direito em Kant; mostra que na primeira delas o Princípio Universal do Direito é formulado como um principium diiudicationis e na segunda a Lei Universal do Direito como um principium executionis das ações conforme ao Direito; examina as dificuldades suscitadas para ambas as formulações, quais sejam, a base para a definição do que é direito e a questão se as leis jurídicas têm e, caso tenham, qual é a sua força prescritiva; e, finalmente, propõe uma solução baseada na consideração de que as leis jurídicas constituem para Kant uma subclasse das leis morais e se baseiam no conceito de uma autorização ou faculdade moral de fazer o que é moralmente lícito ou obrigatório e de não fazer o que é moralmente proibido.
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Uma abordagem lexográfica do amor próprio nos escritos de Pascal: carta (1651) sobre a morte de seu pai, frag. La 978 e nove ocorrências nos Pensamentos. A partir dos diferentes "amores-próprios" enumerados pela tradição, o amor-próprio natural de Adão, anterior à Queda, que para Tomás de Aquino é indiferente, é identificado por Jansenius como pervertido em concupiscência. Em sua Apologia, Pascal segue a linha jansenista de um modo tão radical que os teólogos de Port-Royal julgaram preciso mitigar seus sentimentos a ponto de contradizê-lo, como fez Nicole, que descreveu o amor-próprio como um substituto hipocrítico do comportamento virtuoso.
Resumo:
Este artigo tem duas partes. Na primeira, é examinada a apropriação que Pascal faz do argumento cartesiano do Deus enganador no fragmento La 131 dos Pensamentos. Mostra-se aí uma leitura epistemológica cética do argumento de Descartes que o transforma em uma das premissas do argumento pascaliano da verdadeira religião. Na segunda parte, é examinada a apropriação que Huet faz deste mesmo argumento cartesiano no seu Tratado filosófico da fraqueza do entendimento humano (livro I, capítulo 10). Mostra-se nesta parte, com base no Tratado e nas anotações que Huet fez no seu exemplar dos Pensamentos, que a leitura cética huetiana do argumento cartesiano é derivada da leitura pascaliana do mesmo argumento, embora para um fim diferente do de Pascal: não como prova da doutrina da Queda, mas como indicação da fraqueza da razão desprovida da fé.