899 resultados para Baixada Fluminense (RJ) Condições sociais
Resumo:
Esta tese busca tecer uma narrativa com as histrias de vida de alguns docentes, procurando perceber suas trajetrias, com o objetivo de pensar a forma como foram (re)criando sua profisso e suas vivncias no magistrio e como isto os fez interrogar os processos curriculares e os modos como, neles, tecemos conhecimentos e significaes, nas redes educativas que formamos e nas quais somos formados. A pesquisa, na perspectiva das pesquisas com os cotidianos, se articula ao GRPESQ Currculo, redes educativas e imagens, do Laboratrio Educao e Imagem (ProPEd/ UERJ) e procurou apoio em conversas/narrativas com professores(as) que passaram por experincias marcantes em Portugal e no Brasil, mais especificamente no municpio de Angra dos Reis. , em parte, uma pesquisa sobre memrias de quem ensinou/ensina nesse municpio do Estado do Rio de Janeiro que foi palco de intensas lutas por redemocratizao nos anos 80 e 90. Teria existido um tempo de lutas e conflitos, de muita participao poltica e engajamento durante os trs mandatos do governo do Partido dos Trabalhadores (1989-2000). Parcela significativa de uma gerao foi envolvida nos sonhos de democratizar a cidade. Angra, que fora na ditadura militar uma rea de segurana nacional, integrou, na poca, um conjunto de administraes municipais que, em vrios estados do Brasil, foram intituladas de democrticas e populares e que se distinguiram pela criao de experincias participativas e inovadoras que buscaram ampliar o contato e a incluso da populao na tarefa de co-gesto Estado/sociedade. Nesta tese, alm de buscar as narrativas de docentes que, hoje, so professores(as) em universidades, trago ainda narrativas de profissionais que continuam a exercer o magistrio na educao bsica em Angra dos Reis, sempre forjando novas tticas de ir recriando a si e a sua profisso. Como podem contribuir as memrias de professores(as) para se pensar os processos de formao ao longo de uma vida? Esta pesquisa, por meio de conversas com praticantespensantes que trabalham na educao pblica, procura responder a essa indagao e pensar as mltiplas redes de conhecimento e significaes nas quais foram se fazendo as experincias destes profissionais, sua forma de estar no mundo, pensar e existir. Dessa maneira, tambm foram importantes as narrativas de professoras portuguesas, suas memrias de vivncias expressivas no magistrio daquele pas nas ltimas dcadas, obtidas em estgio de doutoramento-sanduche, com o financiamento da Capes. No trabalho, narrativas e imagens so percebidas como personagens conceituais, tal como nos indicou Deleuze e vem sendo incorporado nas pesquisas com os cotidianos; criamos um outro que necessrio para o fluir do pensamento, para buscar um sobrevoo no vivido, numa tessitura de memrias que, entrelaando vrios fios, procura valorizar o protagonismo destes profissiona is. Como fundamentao terica, esta pesquisa tem apoio em autores como Nilda Alves, Michel de Certeau, Gilles Deleuze, Flix Guattari, Michel Foucault, entre outros
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Este trabalho uma tentativa de verificar quais os fatos considerados como violentos no interior da escola pelos diferentes atores escolares e compreender os seus significados. O cenrio escolhido para a investigao foi uma escola estadual, localizada no municpio de Nilpolis, na Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Concentrei a ateno sobre duas turmas de 2 srie do Ensino Mdio e observei a dinmica das relaes que se davam no interior desta escola. A partir da observao da dinmica em sala de aula cotidianamente, da realizao de entrevistas e aplicao de questionrios com os atores deste espao escolar tentei analisar os discursos sobre o fenmeno violncia escolar. A preocupao que orientou a produo deste trabalho que alguns fatos considerados como violentos pelos atores escolares podem perturbar a ordem escolar e seu incremento pode agir sobre o processo de ensino-aprendizagem e desempenho escolar.
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A "reconstruo nacional" de Angola impressiona pela magnitude de seus empreendimentos visveis. Esta Tese trata de travessias conduzidas por diferentes atores sociais "atravs" e "apesar" da "reconstruo nacional". A partir de micronarrativas de algumas pessoas que compem a "Angola" contempornea e que, em algum momento, foram minhas interlocutoras, sigo por caminhos que operam como chaves interpretativas para traar os sentidos e os significados do ps-guerra no pas. Para transitar "atravs da reconstruo nacional" necessrio ser re-conhecido, no apenas por polticas repressivas e de gesto de populaes, mas tambm como sujeito de direitos. Aqueles que no obtiveram este re-conhecimento agenciam as brechas existentes em seus campos de possibilidades, "apesar da reconstruo nacional". Entre arranjos circunstanciais e (no) re-conhecimentos alguns ocupam, situacionalmente, a condio de borderlander. E "atravs" e "apesar" pessoas constroem suas vidas enquanto a nao se reconstri.
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O presente trabalho investiga as motivaes para a escolha do neopaganismo como religio por indivduos de contextos diferenciados na cidade do Rio de Janeiro e adjacncias. Foram etnografados rituais e eventos pblicos neopagos na cidade durante o perodo de 2012 a 2014. Tambm foram realizadas entrevistas com neopagos e analisada sua literatura religiosa. A pesquisa concentrou-se, sobretudo, nas atividades e vivncias do coven Chuva Vernal, de Wicca Xamnica. Como concluso sugerem-se duas hipteses principais sobre quais elementos explicariam a motivao para aderir e permanecer nessa religio: a lgica da distino, discutida por Simmel, e o conceito, usado por Manuel Castells, de identidade de projeto.
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O consumo de cocana e crack gera importantes repercusses para sade. Em relao aos usurios destas drogas, h predomnio dos homens sobre as mulheres. Em virtude das mulheres serem o grupo minoritrio, o cuidado de sade mental nem sempre observa as especificidades do gnero feminino e suas vulnerabilidades no processo sade-doena. Para investigar esta problemtica, foi proposto o objeto de estudo "As singularidades do gnero feminino no cuidado psicossocial s usurias de cocana e crack". Delimitaram-se os seguintes objetivos: Analisar o cuidado psicossocial s mulheres usurias de Crack e Cocana e Discutir a abordagem das singularidades do gnero feminino neste cuidado. Adotou-se como referencial terico da pesquisa a categoria Gnero. Para alcanar estes objetivos, optou-se por pesquisa qualitativa, que foi desenvolvida no nico CAPS ad do municpio de Duque de Caxias, localizado na Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Os participantes da pesquisa foram profissionais de sade que exercem o cuidado das mulheres usurias de cocana e crack. Para coleta de dados, utilizou-se a triangulao de tcnicas: a) observao sistemtica nos espaos de cuidado coletivo; b) entrevistas semiestruturadas com os profissionais de sade e c) anlise documental dos pronturios das mulheres. A anlise dos dados empricos foi orientada pela Hermenutica-Dialtica. Foram analisados 113 pronturios das mulheres assistidas no CAPS ad. A maioria das mulheres estava na faixa etria de 20 a 34 anos, solteiras, mes com prole menor de idade, que viviam com os familiares, no tinham fonte de renda prpria e envolvimento com a justia. Quase a totalidade utilizava tambm outras drogas, como tabaco, maconha e lcool. Foram entrevistados 17 profissionais de sade. As categorias da pesquisa foram: Concepes dos profissionais sobre o cuidado psicossocial: centrado na pessoa e centrado na doena; as questes do gnero feminino e as usurias de crack e cocana; a condio feminina e suas influncias no cuidado psicossocial. As singularidades de gnero no cuidado psicossocial foram reveladas no comportamento e enfrentamento das mulheres frente ao uso de cocana e crack, mas tambm nas estratgias de cuidado adotadas pelos profissionais. O cuidado psicossocial por vezes refora os esteretipos de gnero e, por outra, estimula o exerccio da autonomia feminina. Os profissionais apresentaram percepes determinadas pelas questes de gnero, atribuindo s mulheres caractersticas distintivas, como a "fragilidade" e a dependncia emocional, que interferem nas vivncias femininas acerca do uso de cocana e crack. A prostituio surgiu como uma consequncia da vulnerabilidade do gnero feminino no contexto de consumo de drogas. Recomenda-se a implementao de aes programticas direcionadas para as singularidades da clientela feminina e a discusso das iniquidades de gnero no mbito da formao profissional, da assistncia e da pesquisa para superar a prxis reducionista e a naturalizao das diferenas e da subalternidade feminina nestes espaos de produo de sade. Como integrante da equipe de sade, enfermeiros e auxiliares de enfermagem necessitam estar sensibilizados para as questes de gnero e terem uma maior participao no cuidado individual e coletivo desta clientela.
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Este estudo procura compreender como os detentos elaboram a vida cotidiana na priso e, em que medida o acesso aos dispositivos da educao e da religio disponveis no crcere podem contribuir para a reintegrao social do indivduo recluso. A pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de que a populao carcerria constituda majoritariamente de pessoas marcadas pela vulnerabilidade social e que no tiveram acesso aos direitos fundamentais ao exerccio da cidadania. Para estes indivduos, o espao escolar percebido como espao de sociabilidade e tambm de oportunidade de mudana, uma vez que, possibilita vislumbrar caminhos alternativos vida criminal. As observaes foram realizadas em quatro escolas localizadas em unidades prisionais do Rio de Janeiro. Trata-se de um estudo de carter etnogrfico que utiliza a narrativa dos presidirios sobre educao e religio como recurso metodolgico. Atravs de depoimentos e entrevistas, procura identificar experincias que produziram significados no contexto das escolas existentes no interior das prises e que revelam formas de elaborao da vida cotidiana pelos alunos detentos.
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Os terreiros de candombl tm papel fundamental na manuteno e difuso de tradies ancestrais: idiomas, arte, a preparao dos alimentos, as vestimentas, cnticos, danas, batuques e toda sorte de smbolos materiais e imateriais, mantidos, repassados e transpassados pela tradio e memria de vrias geraes. Para a observao e anlise de parte deste complexo cultural, a presente dissertao analisar algumas aes culturais e educativas desenvolvidas no Il Omiojuar, terreiro de Candombl da Baixada Fluminense, regio metropolitana do Rio de Janeiro, liderado por Me Beata de Iymonj, yalorix, ativista e referncia na luta pela liberdade religiosa e pelos direitos humanos na Amrica Latina. Por ser uma temtica extensa, pois se trata de um complexo cultural com um imenso e diverso volume de informaes, saberes e fazeres, onde o terreiro ter sua prpria dinmica e especificidade, escolhi observar os processos educativos atravs de duas aes culturais desenvolvidas nos cotidianos do terreiro pesquisado: o projeto cultural OriRe e a participao do terreiro no projeto A Cor da Cultura, por intermdio de sua associao cultural sem fins lucrativos, o INDEC (Instituto de Desenvolvimento Cultural do Il Omiojuar). Para tanto, utilizaremos entrevistas, relatrios de trabalhos, conversas, imagens fotogrficas e imagens da web. A concluso da pesquisa ocorre justamente no ano em que o terreiro pesquisado comemora seus 30 anos de existncia
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O tema que nos propomos a estudar Choque de Capital: criminalizao da pobreza e (re)significao da questo social no Rio de Janeiro. A delimitao espao temporal de nosso estudo situa-se na cidade do Rio de Janeiro, de 2009 a 2012. O perodo selecionado corresponde a primeira gesto do prefeito Eduardo Paes (PMDB) e os primeiros anos de execuo das denominadas aes de Choque de Ordem. A proposta apresentada tem como pressuposto a centralidade do estudo da metrpole e a relao entre especulao imobiliria e capital financeiro, como um dos motivadores da criminalizao da pobreza na contemporaneidade, cujo principal objetivo tornar os espaos "ordenados" fonte de lucro, no importando as consequncias impostas s classes subalternas. Considerando que este paradigma evidencia um processo de criminalizao das classes subalternas e a necessidade compreendermos o modo especfico de enfrentamento pobreza por parte da prefeitura do Rio de Janeiro considerando suas implicaes para o Servio Social, optamos pelo seguinte caminho de estudo traduzido na forma dos captulos assim identificados: I-Barbrie e passivizao: aportes para compreenso da banalizao da violncia no Brasil, II- Das bases de tradio autoritria ao Esplendor do Estado de Polcia e III- Reordenamento urbano, mdia e consenso no Rio de Janeiro: Choque de Ordem para quem?. Acreditamos que o estudo aprofundado desses temas propiciaro um entendimento acerca da realidade, base insuprimvel para sua transformao.
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O hip hop um movimento poltico, social e cultural presente nas periferias do Brasil desde 1980. O hip hop vem se desenvolvendo ao longo dos anos, criando espao, ganhando visibilidade e ampliando o seu pblico, principalmente entre os segmentos das juventudes urbanas. O presente trabalho teve como objetivo principal investigar o Movimento Enraizados, uma organizao hip hop da Baixada Fluminense, que articula e interage com parceiros em diversos estados e alguns pases. Nesse contexto, o estudo selecionou trs questes como eixos para a anlise. Como foi criada a Rede Enraizados e quais so suas principais caractersticas? Como o Movimento Enraizados produz territrios existenciais na Baixada Fluminense? Como o Movimento Enraizados utiliza a linguagem radiofnica para expressar suas aes? Para a anlise das questes levantadas, a pesquisa utilizou o referencial terico de Antonio Negri e Deleuze & Guattari, costurando os conceitos de comum, multido, rdios livres, ritornelos, territrios. A sede do Movimento Enraizados, em Morro Agudo / Nova Iguau, o centro Rede Enraizados e responsvel pela dinamizao das informaes em seus diversos canais de comunicao. Ao disparar seus projetos e iniciativas na construo de uma rede intercontinental de apoio-mtuo, o Movimento Enraizados desterritorializa sentidos e prticas da Baixada Fluminense. Essa desterritorializao produz uma mensagem potente de militncia cultural para jovens e fortalece redes para a construo de novas resistncias biopolticas nesses territrios.
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Orientado pelo debate sobre a diferena, o presente estudo analisa questes de gnero e sexualidade relativas ao processo de constituio do currculo de Educao em Direitos Humanos, procurando identificar que significados deslizam, disputam hegemonia e ganham espao e/ou so silenciados em textos voltados Educao Bsica, autodefinidos como relativos Educao em Direitos Humanos reunidos em acervo pedaggico produzido pelo Ncleo de Educao Continuada (NEC). O NEC um projeto de extenso da Faculdade de Educao da Baixada Fluminense, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que atua h 15 anos com a proposta de articular aes de extenso, pesquisa e ensino com a temtica dos direitos humanos, desenvolvendo projetos escolares em parceria com o poder pblico e instituies da sociedade civil. Este estudo se insere em uma abordagem ps-estruturalista, assumindo como referencial terico as contribuies dos Estudos Culturais e Ps-Coloniais. Nele, o conceito de discurso desenvolvido por Chantal Mouffe e Ernesto Laclau (2000, 2004) utilizado como categoria de anlise para investigar a diferena como processo de produo discursiva e, na perspectiva da Educao em Direitos Humanos, discutir com base em Aura Helena Ramos (2011) a Educao em Direitos Humanos como eixo articulador da diferena. Apoia-se em Elizabeth Macedo (2007, 2011) para analisar o currculo como produo cultural e em Guacira Louro (2002, 2010) para pensar as questes relativas a gnero e sexualidade na Educao. As anlises e concluses, sempre provisrias e contingentes, indicam que o discurso dos textos curriculares que compem o material emprico do estudo permite identificar a ateno em relao s diferenas de gnero e a invisibilizao das diferenas em relao ao tema sexualidade, silenciamento que produz e sustenta o preconceito contra as homossexualidades.
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Para romper o processo verticalizado que impe um modelo produtivo para o campo sem a participao dos principais interessados, foi proposto, como parte do projeto ?Insero e Competitividade do Agricultor Familiar do Extremo Sul da Bahia no Agronegcio da Mandioca e do Abacaxi?, o uso de metodologias participativas, visando melhoria do processo de socializao das tecnologias e de construo do conhecimento. Nos assentamentos Lajedo Bonito e So Miguel, localizados nos municpios de Guaratinga e Porto Seguro, respectivamente, foram utilizados o Diagnstico Rural Participativo e de grupo focal, para identificar as caractersticas dos grupos relativas s formas de organizao, sistema produtivo, organizao da produo e alocao de mo-de-obra, dentre outros fatores. Foram realizadas incurses nos lotes para reconhecimento dos sistemas de produo adotados nas unidades familiares. A partir do diagnstico, foi realizado o planejamento participativo das comunidades. Em ambos os processos foram identificadas necessidades de melhorias estruturais e estruturantes, relacionadas, principalmente, ao processo produtivo e s condições sociais. Posteriormente aos diagnsticos, foram instaladas nos assentamentos reas com mandioca e abacaxi, nas quais os agricultores praticaram diferentes formas de cultivo com especial ateno s tecnologias e novos processos propostos. Aps trs anos de conduo dos trabalhos em campo com os agricultores, as metodologias participativas mostraram-se como ferramentas eficientes no processo de autoconhecimento das comunidades assentadas, permitindo no s a identificao dos problemas, mas tambm o seu dimensionamento e a proposio de solues. A instalao de unidades de observao nas reas dos agricultores constitui-se numa ferramenta clssica para a oferta de tecnologias. No entanto, para que os novos conhecimentos sejam consolidados, fazem-se necessrios tanto o acompanhamento regular pela assistncia tcnica como o financiamento das atividades agrcolas, sem o que o aprendizado pode ser perdido ao longo do tempo.
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Durante sculos, os segredos envolvidos no fabrico de produtos tradicionais, passaram verbalmente de gerao em gerao. Contudo, a busca de melhores condições sociais levou, nas ltimas dcadas, ao desenvolvimento de grandes centros urbanos, onde praticamente tudo o que se consome provm de outras regies do pas ou do estrangeiro.
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Tese de doutoramento, Estudos de Literatura e de Cultura (Estudos Americanos), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2015
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Cultura Moderna e Contempornea, n.5, vol. 1
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Esta tese aborda as prticas e as representaes de mulheres em idade frtil, que vivem em contextos sociais de pobreza. As prticas sobre o acesso e as formas de utilizao dos cuidados de sade reprodutiva. As representaes das mulheres relativamente maternidade e/ou fecundidade, verificando de que forma estas influenciam a utilizao de cuidados de sade reprodutiva (sade materna e planeamento familiar). E as representaes dos profissionais de sade e tcnicos de servio social sobre os comportamentos de fecundidade e as formas como as mulheres (pobres e no pobres) utilizam os cuidados de sade reprodutiva. Devido natureza do objecto de estudo e complexidade inerente, optou-se por utilizar uma combinao de mtodos qualitativos e quantitativos e respectivas tcnicas de recolha e anlise de dados, num mesmo desenho de estudo, tendo em vista a triangulao metodolgica, que ajudou compreenso mais profunda da realidade em estudo. Como tal dividiu-se a investigao em trs estudos: 1) o estudo exploratrio; que apoiou nas decises, nomeadamente na delimitao do objecto de estudo, dos objectivos gerais e especficos, das hipteses centrais de investigao e dos aspectos metodolgicos relacionados com o estudo de caso-controlo e o estudo qualitativo; 2) o estudo de caso-controlo (quantitativo); 3) o estudo qualitativo. Estudo de caso-controlo O estudo de caso-controlo foi realizado com mulheres em idade frtil, em que os casos so mulheres consideradas muito pobres, havendo dois controlos para cada caso: os controlos 1, que so mulheres consideradas pobres e os controlos 2, que so mulheres consideradas no pobres. Este estudo foi planeado com uma amostra de 1513 mulheres em idade frtil, com 499 casos seleccionados segundo um esquema de amostragem estratificada proporcional (de mulheres consideradas muito pobres) seleccionados da base de dados de beneficirios de RSI, da SCML. E 1014 controlos (de mulheres no consideradas como muito pobres): os controlos 1 foram seleccionados tambm segundo um esquema de amostragem estratificada proporcional dos restantes beneficirios da SCML; os controlos 2 foram seleccionados de forma bi-etpica, primeiro procedeu-se a uma amostragem aleatria simples de quatro Centros de Sade e de seguida optou-se por uma regra sistemtica de seleco das utentes desses Centros de Sade, mediante a aplicao de um formulrio de critrios de incluso. Os dados foram recolhidos atravs de um questionrio semi-quantitativo aplicado por entrevista. Responderam ao questionrio um total de 1054 mulheres, sendo que o total de respondentes distribui-se pelos grupos em estudo, isto , 304 referentes aos casos (muito pobres), e 750 respeitantes aos controlos [293 pertencentes ao grupo de controlos 1 (pobres) e 457 provenientes do grupo de controlos 2 (no pobres)]. Os dados foram analisados utilizando tcnicas estatsticas bivariadas e multivariadas. Concretamente, comeou-se pela anlise descritiva (frequncias absolutas e relativas; medidas de tendncia central: moda, mdia, mediana, mdia aparada a 5%) das variveis demogrficas e das variveis de fecundidade (representaes, tenses, prticas e controlo de fecundidade) em funo das variveis de condio social (gradientes de pobreza segundo os grupos em estudo). Seguiu-se a anlise de comparao e associao - o teste de Qui-quadrado para testar a homogeneidade e para testar a homogeneidade de varincias aplicou-se o teste de Levene e a normalidade da varivel quantitativa, nos grupos em estudo, foi testada atravs do teste de Kolmogorov Smirnov e o teste de Shapiro-Wilk. Sempre que as condições de aplicao da ANOVA no se verificaram, aplicou-se a alternativa no paramtrica: o teste de Kruskal-Wallis. O clculo do odds ratio da varivel ter gravidez e filhos foi efectuado de acordo com o proposto por Mantel-Haenszel aplicado nas situaes em que existem dois controlos por caso. Foram ainda utilizados modelos de regresso logstica (pelo mtodo Forward: LR) para avaliar a probabilidade de ser do grupo de casos (muito pobre), relativamente a ser do grupo de controlos 1 (pobre) e ser do grupo de controlos 2 (no pobre). E dois modelos de regresso logstica multinomial para estudar a relao entre uma varivel dependente de resposta qualitativa no binria [no presente estudo com trs classes - os trs grupos em estudo: casos (muito pobres), controlos 1 (pobres) e controlos 2 (no pobres)] e um conjunto de variveis explicativas (predictor variables), que podem ser de vrios tipos. A anlise efectuada confirma a existncia de gradientes de pobreza e a sua associao a gradientes de fertilidade, que se reflectem em termos de acesso sade e nos padres de utilizao de cuidados de sade reprodutiva. O facto de as mulheres terem tido filhos (varivel ter gravidez e filhos) aumenta a probabilidade (OR=1,17; p<0,001; IC = 1,08 1,26) de serem muito pobres, comparativamente a serem pobres e no pobres. Isto , a maternidade configura-se como um factor explicativo da pertena social das mulheres, sobretudo quando interligado com outros factores. Concretamente, verifica-se atravs da anlise dos modelos de regresso logstica que existe uma interligao entre a condio social das mulheres e um conjunto de caractersticas sciodemogrficas, que se configuram como factores de risco de pobreza, como sejam o baixo rendimento dos agregados, a dimenso dos agregados familiares, a baixa escolaridade e as pertenas tnicas. Quanto ao acesso econmico, constata-se que as mulheres muito pobres apresentam incapacidades financeiras para comportar custos com a compra de medicamentos muito superiores s restantes, constituindo-se esta como uma caracterstica forte para explicar a sua condio social actual. Em termos de utilizao de cuidados de sade reprodutiva percebe-se que as mulheres muito pobres so caracterizadas por baixa frequncia das consultas de reviso do parto, com todas as eventuais implicaes no seu estado de sade. Um aspecto pertinente prende-se com a sistemtica aproximao das mulheres pobres s muito pobres, distanciando-se em quase tudo das mulheres no pobres. Ou seja, existe um nmero considervel da nossa populao mdia com vulnerabilidades, que deveriam merecer uma ateno prioritria em termos de polticas sociais (nomeadamente, na rea da sade, do trabalho e do apoio social). Assim, de enfatizar a importncia de haver uma adequao das polticas de sade no sentido de assegurar que as populaes mais vulnerveis consigam utilizar de forma apropriada os cuidados de sade reprodutiva. Estudo Qualitativo Foi efectuado um estudo qualitativo, atravs de realizao de entrevistas e grupos focais. Concretamente, foram feitas oito entrevistas e dois grupos focais a mulheres provenientes de diferentes contextos socioeconmicos (pobreza e no pobreza), num total de 18 indivduos. Foram conduzidos dois grupos focais a profissionais de sade (enfermeiros e mdicos), num total de 15 participantes. E realizados quatro grupos de discusso a tcnicos de servio social, num total de 36 participantes. Todas as entrevistas e grupos focais foram gravados, seguindo-se a sua transcrio integral. Os dados foram analisados com base nos procedimentos de anlise de contedo habituais no mbito de abordagens qualitativas. No que diz respeito aos grupos focais, procedeu-se a uma anlise categorial temtica. Atravs da anlise das representaes de fecundidade percebe-se que para as mulheres, independentemente do grupo socioeconmico a que pertencem, o melhor e o pior dos filhos, envolve trs nveis: os sentimentos, o desempenho das funes parentais e as privaes. E a maioria das mulheres assume que foi atravs de amigos, dos media e/ou de vizinhos que obteve as primeiras informaes sobre os mtodos contraceptivos. Revelando ainda a inexistncia de influncia familiar, especialmente das mes, na transmisso desses conhecimentos e informaes sobre contracepo, em todos os grupos socioeconmicos. Alis, a percepo generalizada de que o sexo foi um assunto tabu na educao destas mulheres. Muitas das mulheres no estudo descrevem uma preparao inadequada para o sexo e contracepo na primeira gravidez, acontecendo esta como resultado de impreparao e no de planeamento. Encontram-se semelhanas entre as mulheres provenientes de diferentes gradientes sociais, mas tambm se encontram diferenas, nomeadamente, acerca do papel do parceiro masculino no planeamento familiar e no planeamento das gravidezes. Existe uma diferena entre mulheres provenientes de grupos socioeconmicos distintos (muito pobres e pobres vs. no pobres) relativamente ao papel do parceiro na contracepo: no utilizao do preservativo porque companheiros no aceitam vs. as mulheres que assumem que as decises quanto contracepo so e foram sempre da sua responsabilidade. Os resultados vm mostrar a importncia atribuda ao sexo do mdico e a vergonha envolvida na utilizao dos cuidados de sade materna, cujas consequncias se revelaram impeditivas de realizao das consultas ps-parto. Vrios estudos j apontaram o desconforto durante o encontro biomdico nos cuidados pr-natais resultando de uma incapacidade da mulher para lidar com certas caractersticas do profissional de sade, que podem incluir idade, gnero e linguagem (cfr. nomeadamente, Whiteford e Szelag, 2000). Um outro aspecto em que h diferenas entre grupos socioeconmicos nos resultados do estudo de caso-controlo, e que vem ser ainda mais aprofundado atravs do estudo qualitativo, est relacionado com os apoios recebidos quando os filhos nascem e quando existe uma situao de doena. As mais pobres encontram-se numa posio de vulnerabilidade acrescida, porque no podem colmatar a falta de apoios, por exemplo com amas para tomar conta dos filhos, como admitido, por exemplo, por uma mulher de etnia cigana. Mas emerge uma semelhana entre as mulheres dos diferentes grupos socioeconmicos, quando reivindicam a necessidade de existir mais apoio, nomeadamente uma rede de creches. Os profissionais (sade e social) demonstram nas suas representaes as influncias do modelo biomdico de sade. Quanto s mulheres, consoante o seu contexto cultural, elas tendem a integrar num modelo prprio a sua relao com os cuidados de sade, especificamente com os cuidados pr-natais. Modelo esse que no exclui o uso dos servios biomdicos durante a gravidez, o que acontece que as mulheres conservam as suas crenas e algumas prticas tradicionais em face de novas. Deixando em aberto a possibilidade de negociao e transmisso de conhecimentos por parte dos profissionais de sade, processo facilitado com existncia de dilogo e abertura dos profissionais de sade para as especificidades culturais (cfr. outros estudos, nomeadamente, Atkinson e Farias, 1995; Whiteford e Szelag, 2000). Os profissionais atribuem ao pobre uma caracterstica-tipo: o imediatismo. Este condiciona a actuao dos indivduos pobres nas prticas de planeamento familiar e nas formas de utilizao de cuidados de sade reprodutiva. Por exemplo, para os profissionais de sade e tcnicos de servio social a utilizao correcta da contracepo depender do nvel educacional da mulher. Mas no se comprova tal facto nos estudos, havendo mesmo indcio de uma certa transversalidade nas falhas de utilizao, por exemplo da plula. Atravs do estudo de caso-controlo comprovase que a plula era o contraceptivo mais usado no momento em que as mulheres engravidaram do ltimo filho, sendo que aparentemente algo ter falhado (dosagem, esquecimento, toma simultnea de antibitico), no existindo diferenas entre os grupos socioeconmicos. A anlise reflecte a existncia de representaes nem sempre coincidentes entre mulheres e profissionais de sade, no que diz respeito maternidade, gravidez e fecundidade, mas tambm s necessidades e formas de utilizao dos cuidados de sade reprodutiva (sade materna e planeamento familiar). Chama-se a ateno para a importncia dos decisores terem estes factos em ateno de forma a adequar as polticas de sade s expectativas e percepes de necessidade por parte das populaes vulnerveis, procurando atingir o objectivo de utilizao adequada de cuidados de sade reprodutiva e, em ltima anlise, promover a equidade em sade. Concluses Gerais Esta investigao insere-se numa lgica de perceber as caractersticas associadas no continuum de pobreza, procurando-se os factores que explicam a posio relativa dos grupos nesse mesmo continuum. Em termos de sade, contata-se existir uma associao entre a no realizao de consultas de reviso do parto e as chances superiores de pertencer a um grupo socioeconmico mais pobre. Haver aqui lugar a um cuidado acrescido em termos de organizao de cuidados de sade para que estas mulheres, com vulnerabilidades de vria ordem, sejam devidamente acompanhadas, orientadas, apoiadas para a realizao deste tipo de consultas, envolvendo uma sensibilizao para gostar de si prpria, de valorizao individual, mesmo depois do nascimento dos filhos. As redes de sociabilidade so distintas consoante a posio que a mulher ocupa em termos de gradiente social, sendo que a posio mais vulnervel para as mulheres muito pobres e pobres, quer em situao de doena, quer em situao de apoio para os filhos e ainda em termos de privao material existe um efeito em termos de diluio das sociabilidades para grupos j to fragilizados a outros nveis. Ao descrever, analisar e caracterizar os gradientes de pobreza e privao mltipla entre os grupos de mulheres em estudo posso concluir que existem aspectos diferenciadores das mulheres pobres relativamente s mulheres no pobres.Mas elas manifestam sobretudo caractersticas que as aproximam das mulheres muito pobres. Ou seja, este grupo de pessoas est particularmente envolta numa multiplicidade de riscos sociais, uma vez que so mulheres que tm filhos, trabalham, tm redes de sociabilidade enfraquecidas e no podem contar com a ajuda do Estado em termos de medidas de apoio social, no sendo elegveis, por exemplo, para o RSI. Urge rever as condições de atribuio de medidas, no necessariamente com a configurao actual, mas que tenham em ateno este conjunto populacional. A actividade sexual comea muito cedo nas vidas das jovens, independentemente da provenincia socioeconmica, pelo que esse um aspecto que, penso, dever continuar a ser considerado em termos de sade sexual e reprodutiva por parte das diferentes entidades no que se refere educao e promoo para a sade. As questes relacionadas com a incapacidade para comportar custos de sade - deixar de comprar medicamentos, sobretudo, para as prprias mulheres, no poder pagar consultas em mdicos especialistas e dentistas - revelam-se srias, na medida em que fazem emergir as diferenas em termos de grupos socioeconmicos, constituindo-se como um factor associado com as iniquidades em sade ainda existentes em Portugal. Como sabido pelos estudos realizados, estas so tambm causas de pobreza. Assim, esta uma das reas a merecer actuao prioritria no sentido de contribuir para que caminhemos para uma sociedade com mais equidade. A existncia de diferenas na acessibilidade e no acesso geogrfico e econmico, marcada pelas diferenas em termos de gradientes sociais, deixa em aberto a necessidade de actuar no sentido de que o sistema de sade tenha polticas de promoo da equidade, nomeadamente a equidade de acesso econmico, na investigao desenvolvida sobre sistemas de sade. Parece que fica evidente a necessidade de monitorizar quais as interaces entre as polticas, de sade e sociais, e a variabilidade nas desigualdades sociais ao longo do tempo, ou seja, a importncia de monitorizar os efeitos das polticas nos grupos vulnerveis. S avaliando poderemos saber se as medidas devem continuar com contedo e formas de implementao actuais ou se, pelo contrrio, devero acontecer mudanas nas medidas de apoio para melhorar as condições sociais e de sade das populaes.