818 resultados para Palavra professoral
Resumo:
RESUMO: Objetivou-se neste estudo analisar algumas representações femininas em “Sota e Barla”, conto que integra o livro Tutaméia, de João Guimarães Rosa, com vistas a resgatar como o autor se atém – na arcaica e tradicional sociedade patriarcal – à contraposição entre a virgem – para casar – e a prostituta – para o prazer. Esta dicotomia se faz presente no conto “Sota e barla”, cujo título estabelece, a priori, onde se situam socialmente os dois amores de Doriano: a prostitua Aquina, a sota – palavra que, no contexto do conto, significa amante –; e a donzela Bici, a barla – neologismo criado por Guimarães Rosa a partir da palavra barlaque: regionalismo do Timor Leste que significa compra de mulher para fins matrimoniais. Portanto, o título do conto prenuncia que a viagem de Doriano como chefe de uma comitiva é, também, uma travessia durante a qual ele terá que optar entre a prostituta e a virgem. Sua escolha, coerentemente com a moral patriarcal, recairá sobre a segunda.
Resumo:
O deus Eros nasceu do deus Caos e as entidades que saíram de Caos (inclusive Eros), surgiram por divisão e segregação. A partir do surgimento de Eros há o encaminhamento do universo para a união e coesão. A relação amorosa exige a reciprocidade, senão atrofia e morre. A palavra “partido”, que designa o objeto do nosso estudo, sugere que se trata de uma “parte” da sociedade que aspira hegemonizar uma concepção global da ordem econômica, social e política, e “a arte de fazer política” pode ser entendida como a habilidade de unir e somar forças num determinado campo ideológico. Daí a necessidade de “seduzir”, convencer, educar e engajar o maior número de pessoas no seu projeto partidário surje como corolário da militância política, onde política e paixão se interpenetram, de forma que ação e tesão comungam seus impulsos.
Resumo:
Em suas manifestações iniciais, a literatura na América Latina desempenhou um papel determinante no processo colonizador, funcionando muitas vezes como expressão dos padrões culturais do colonizador. Conforme desenvolveu-se, entretanto, a produção literária latino-americana possibilitou uma resistência às tendências colonizadoras, promovendo o resgate e revalorização de elementos característicos das tradições culturais nativas do continente americano. Esse papel de resistência foi amplamente estudado pelo crítico uruguaio Ángel Rama, sobretudo em seus escritos sobre a transculturação narrativa, conceito formulado a partir das contribuições do antropólogo cubano Fernando Ortiz. Rama mostrou-se particularmente interessado pelo modo como alguns escritores latino-americanos rearticularam no âmbito ficcional os aspectos próprios das tradições populares das regiões rurais da América Latina, criando a partir da fala dos habitantes do interior uma linguagem literária mais apropriada para expressar a visão de mundo engendrada por esses elementos culturais. Um dos autores estudados por Rama é Guimarães Rosa. De fato, os pontos centrais da proposta poética do escritor mineiro vão ao encontro do conceito de transculturação desenvolvido pelo crítico uruguaio. Nesse sentido, a proposta deste artigo é analisar o conto “Meu tio o iauaretê” (1961) para explicitar os procedimentos de transculturação narrativa empregados por Guimarães Rosa. O objetivo é explorar a partir da obra rosiana o papel de resistência cultural desempenhado pela literatura latino-americana, mostrando como o conto contribui para uma reafirmação e valorização de elementos próprios da cultura indígena frente a problemática da colonização.
Resumo:
O presente artigo problematiza por meio da análise a intervenção do fantástico no conto “Pirlimpsiquice”, que integra a obra Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Ao centralizar o episódio extraordinário da realização de uma peça teatral por um grupo de meninos de um Colégio de padres, a narrativa tematiza a palavra infantil como elemento transformador da realidade. A partir de proposições de Chaves (1978), Rosset (1998), Mello (2000), Jenny (1979) e Nitrini (2000), a discussão aborda o estabelecimento do duplo e a intertertextualidade no universo narrado, como recursos para a concretização do fantástico. A investigação indica que, no conto em análise, o faz-de-conta infantil funde-se ao faz-de-conta teatral e a representação assume o lugar do representado, estabelecendo uma tensão entre o imaginado e o real. Por sua condição imprevisível e inacabada, a nova realidade instaurada pela palavra infantil coincide com o viver verdadeiro, revelando o “transviver” protagonizado pelas personagens.
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O que ocorre quando crianças de 8 anos são solicitadas a reescrever, em provas escolares, textos-fonte previamente lidos por sua professora? Analisando 116 textos escritos por 30 estudantes de terceiro ano do Ensino Fundamental em escola pública paulista, o estudo procurou investigar: 1) As operações de escrita utilizadas pelos participantes; e 2) A possibilidade de encontrar criação em textos cuja proposta inicial era a de reprodução parafrástica. Partiu-se de uma concepção de linguagem que a vê tanto como um trabalho linguístico, um elemento ontológico fundador do ser humano (ROSSI-LANDI, 1985) quanto salienta seu caráter voltado para à variação e para a criatividade (BENVENISTE, 1991). Concluiu-se que, mesmo em exercícios escolares nos quais aparentemente existe pouco espaço para a inventividade, o exercício da escrita autoral pode irromper, pois as brechas de incompreensão e/ou equívoco que os textos apresentam para as crianças abrem oportunidades para o surgimento da subjetividade. Palavras-chave: escrita; reformulação parafrástica; autoria.
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Sylvia Orthof (1932-1997) consagrou-se como uma das mais importantes escritoras da literatura infantil brasileira. Entre suas temáticas recorrentes, os animais não humanos figuram em profusão, assim sendo, este estudo objetiva verificar a destacada presença dos gatos na obra da autora arrolada, e mais especificamente os bichanos não domésticos vivenciando momentos de especial cumplicidade com outros seres não humanos. Para tanto, realiza a análise dos seguintes textos zooliterários - o conto de animais História engatada e da fábula poética Gato pra cá, rato pra lá. As formulações críticas e teóricas, nomeadamente, de Jacques Derrida (2011) e (2003), Nelly Novaes Coelho (1991) e Fanny Abramovich (1999) fundamentam a leitura.
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O objetivo principal deste artigo é verificar a possibilidade de haver ou não traços da arbitrariedade que levem, mesmo que remotamente, à iconicidade na língua brasileira de sinais, haja vista que iconicidade e arbitrariedade são dicotomias que atravessam, até hoje, discussões entre os linguistas. Nesse estudo, elas não são tomadas como fenômenos isolados e estanques, pois se definem uma em relação à outra. Para realizar este trabalho optou-se pela pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, cuja proposta foi realizar uma investigação à luz da teoria semiótica greimasiana. Antes, porém se fez necessário discutir acerca da linguística de modo geral, focando na linguística da língua brasileira de sinais, uma língua de modalidade visuo-espacial. O corpus da pesquisa constituiu-se a partir da seleção de sinais pertencentes à categoria verbo não direcional. Esta categoria foi selecionada devido aos verbos pertinentes a ela serem isentos de marcas de concordância; verbos sem concordância não deixam a iconicidade transparente. Neste recorte, apresentam-se algumas reflexões acerca das análises fundamentadas no modelo do quadrado semiótico greimasiano, de sentido iconicidade => não-iconicidade => arbitrariedade e arbitrariedade => não-arbitrariedade => iconicidade. Estes percursos nortearam a investigação. As análises reafirmam a dicotomia existente entre a arbitrariedade e a iconicidade. Os resultados acerca da arbitrariedade possui algum aspecto que remeta à iconicidade evidenciaram que os sinais analisados têm os parâmetros ponto de articulação (PA) e expressões não manuais (ENMs), confirmando, assim, que os verbos não direcionais se correlacionam com a iconicidade.
Resumo:
Neste ensaio, baseado sobretudo nos estudos de Baker, Bogaerde e Jansma (2016) e de Pfau, Steinbach e Herrmann (2016), apresentamos as fases por que passam os bebês surdos, desde seu nascimento, para adquirirem uma língua de sinais como L1. Transitamos teoricamente, então, entre os períodos pré-linguístico, de uma palavra, das primeiras combinações, das combinações múltiplas até o estágio mais avançado. Tecemos, ainda, alguns comentários sobre a aquisição de segunda língua por crianças surdas. É importante dizer que aqui não consideramos, embora seja preciso, não só o contexto linguístico para o desenvolvimento das LS, como também o contexto extralinguístico. Por exemplo, crianças surdas filhas de pais surdos tendem a ter um processo de aquisição de uma LS de forma mais satisfatória do que crianças surdas filhas de pais ouvintes que dominam apenas uma LO. Além disso, há discussões importantes sobre surdos que usam implantes cocleares: alguns consideram que podem aprender apenas uma LO; outros que devem ser bilíngues bimodais (ou seja, dominar uma língua oral e uma língua de sinais). Esses assuntos precisam, ainda, ser mais bem desenvolvidos.