Empresas como agentes de benefício para o mundo: reflexão sobre visões de futuro no Brasil


Autoria(s): Domingues, Ideli
Data(s)

24/02/2015

24/02/2015

2009

Resumo

O objetivo desta pesquisa consistiu em explorar os fatores comuns das visões de futuro de três segmentos da comunidade paulistana (executivos, empreendedores sociais e pensadores), especialmente no que diz respeito às possíveis alianças cooperativas entre o mundo dos negócios e a sociedade como um todo, como também as estratégias utilizadas para concretizá-las. Indagamos se, com suas experiências de vida, os sujeitos entrevistados protagonizavam suas visões de futuro; quais eram os aspectos em comum dessas visões referentes ao futuro e ao futuro dos negócios; as estratégias utilizadas para concretizar essas visões comuns, percebidas como positivas, e de que maneira podiam contribuir para o desenvolvimento de uma relação cooperativa entre os negócios e a sociedade. Utilizamos 30 entrevistas (10 em cada segmento), em amostra acidental, gravadas e, posteriormente, submetidas a uma análise segundo o referencial da Psicologia Social de Enrique Pichon-Rivière, incluindo alguns dos indicadores do processo interacional (cooperação, comunicação e telecomunicação) e da reação dos entrevistados e entrevistadores com relação aos conteúdos aplicados (transferência e contratransferência). Baseamo-nos no protocolo de Investigação Apreciativa do projeto "Business as an Agent of World Benefit" da Weatherhead School of Management e conceitos convergentes com o referencial adotado no que se refere ao interjogo entre o homem e o mundo, o protagonismo, o contar histórias, o projeto como planejamento de futuro e a criação de novas metáforas. Com relação ao futuro imaginado, encontramos como resultado unânime a preocupação com o meio ambiente, a mudança de valores (com a revisitação da noção de bem-estar, as “mortes subjetivas” por preconceito, o acolhimento expandido aos profissionais da saúde e a saúde como valor); a interconexão (presente no mundo contábil, nos modelos econômicos equitativos, na visão do administrador como estadista, na integração entre o “dentro e fora do negócio”, na consciência da riqueza como medida global e não individual, na ética, no voluntariado por consciência, no cuidado com o ambiente, consigo mesmo, com o outro e com a vida e a morte); coerência, vínculo e escuta (com foco na qualidade das relações e não na tecnologia, no honrar o próximo, no compartilhamento de experiências, na mão dupla entre negócios e comunidade, no bom trato para com as crianças e adultos), inclusão/exclusão (com a criação de espaços públicos intencionalmente inclusivos e a real inclusão dos excluídos na empresa); a educação (através do raciocínio que lide com a linearidade vigente e estimule pensar na complexidade, do reconhecimento de aspectos saudáveis e construtivos no cotidiano, e da formação que abrange gerentes, empreendedores e comunidade, incluindo conhecimento, ética e gratidão); interioridade (alma do negócio, intuição, transcendência como diferencial influindo em uma nova percepção de lucro, sacralidade da vida, encontro consigo próprio); lucro (revisão desse conceito com foco na vida, no bem-estar, no enraizamento das pessoas); consumo/consumidor (com relação à mudança na forma de analisar investimentos inteligentes, uma nova visão de pobreza); longo prazo (ligado à sustentabilidade, à autovalorização das pessoas e à educação dos funcionários). Há muitas estratégias atuantes nos diferentes segmentos, as pensadas são: a intencionalidade de inclusão em espaços públicos por diversos agentes, a revisão do conceito de bem-estar, os benefícios compartilhados, a inclusão mais precoce do jovem no mundo dos negócios e não como forma de exploração, o incentivo às atitudes de liderança nos jovens para o novo mundo e o longo prazo, como tema a ser mais aprofundado. Quanto à relação entre negócios e sociedade parece não haver clareza entre os segmentos quanto ao papel desempenhado pelas empresas, pelas ONGs e pelas comunidades. Surgem pontos como a necessidade da expansão de idéias inovadoras por meio de instituições sem fins lucrativos, do fortalecimento da sociedade civil, de um novo conceito de organização social, das ONGs não serem mais necessárias, das comunidades solidárias como instituições de direito e da ampliação do sentido da responsabilidade social estendido ao ecossistema.

The objective of this research consisted in exploring the common factor of visions of the future in three segments of the São Paulo community (executives, social entrepreneurs and thinkers), especially with respect to possible cooperative alliances between the world of business and society as a whole, as well as the strategies used to fulfill them. We investigated whether, with their experience of life, the interviewed subjects practiced their visions of the future; what were the common aspects of these visions regarding the future and the future of business; the strategies used to fulfill these common visions perceived as positive and how they could contribute for the discovery of a cooperative relation between business and society. We had 30 interviews (10 from each segment), in accidental sample, recorded and later submitted to an analysis according to Enrique Pichon-Rivière’s Social Psychology referential, with the inclusion of some indicators of the interactive process (cooperation, communication and telecommunication) and of the reaction of the interviewed and interviewers in relation to the applied contents (transference and counter-transference). We based ourselves on the Appreciative Investigation protocol of the project “Business as an Agent of World Benefit” of the “Weatherhead School of Management” and concepts converging with the adopted referential with respect to the intergame between man and the world, the protagonism, the story telling, the project as a plan for the future and the creation of new metaphors. Regarding the imagined future, as a unanimous result we have the concern with the environment; the change of values (with the revisiting of the welfare notion, the “subjective deaths” by prejudice, the expanded reception of the health professionals and health as a value); the interconnection (present in the accounting world, in the fair economic models, in the vision of the administrator as a statesman, in the integration between the “inside and outside of the business”, in the conscience of wealth as a global and not individual measure, in ethics, in the volunteering by conscience, in the concern with the environment, with oneself and with the other as well as with life and death); coherency, linking and listening (focused on the quality of the relationships and not of technology, on honoring the other, on the sharing of experiences, on the giving/receiving between business and community, on the good care of children and adults); inclusion/exclusion (with the creation of intentionally inclusive public spaces and the effective inclusion of the excluded in the company); education (through the reasoning that deals with the current linearity and stimulates the thinking on complexity, through the acknowledgement of every day’s healthy and constructive perspectives, and through the formation that involves managers, entrepreneurs and communities, including knowledge, ethics and gratitude); interiority (soul of the business, intuition, transcendence as a differential that influences a new perception of profit, holiness of life, encounter with oneself); profit (review of this concept with the focus on life, on welfare, and in the grounding of people); consumption/consumer (in relation to the change in the way of analyzing intelligent investments, a new vision of poverty); long term (connected to sustainability, to people’s self-valorization and to the education of the employees). Among the many planned strategies used in the different segments, we can mention the intention of inclusion in public spaces by several agents, the review of the welfare concept, the shared benefits, the more precocious inclusion of youngsters in the world of business not as a form of exploitation, the incentive of leadership attitudes in young people for the new world and long term, as a topic to be deeply analyzed. As for the relation between business and society, it seems that these segments are not very clear on the role performed by the companies, by the NGOs and by the communities. Issues emerge on the need for expansion of innovating ideas by non-lucrative institutions, the need of strengthening civil society, of a new concept of social organization, of the NGOs not being necessary any more, of the solidary communities to be considered as legal institutions and of the expansion of the sense of social responsibility, extended to the ecosystem.

Identificador

http://hdl.handle.net/10438/13410

Idioma(s)

pt_BR

Relação

Relatório de pesquisa FGV/EAESP/NPP;n.35

Palavras-Chave #Psicologia social #Investigação apreciativa #Protagonismo
Tipo

Paper