Nietzsche e a grande saúde. Para uma terapia da terapia


Autoria(s): Faustino, Marta Sofia Ferreira
Data(s)

12/02/2014

01/01/2014

Resumo

Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Filosofia

A presente tese apresenta uma análise aprofundada daquilo a que podemos chamar o pensamento médico-filosófico de Nietzsche, seguindo, para tal, dois fios condutores fundamentais. Por um lado, a noção nietzschiana de “grande saúde”, que, apesar de ter uma aparição escassa na obra publicada de Nietzsche, parece ocupar um local de destaque no contexto global do seu pensamento. A “grande saúde” surge, com efeito, sempre em contextos de alta relevância para o seu projecto filosófico (nomeadamente, sempre em relação com o seu “novo ideal”) e em associação clara a figuras-chave do seu pensamento (como os “espíritos livres” ou Zaratustra) ou até mesmo, ainda que indirectamente, a si próprio, o que deixa entrever a importância e centralidade que Nietzsche lhe terá atribuído para a execução da sua “tarefa”. Por outro lado, e porque o pensamento nietzschiano sobre a grande saúde e, em geral, toda a sua “filosofia médica”, não podem ser separadas do contexto global de um diagnóstico da cultura ocidental como doente e, consequentemente, do projecto englobante da sua reabilitação ou cura, procuramos inserir Nietzsche na tradição de pensamento que compreendeu a filosofia como uma forma de terapia. Iniciada por Sócrates, mantida até certo ponto por Aristóteles e particularmente desenvolvida pelas escolas helenistas, esta tradição viria mais tarde a ser novamente recuperada por Wittgenstein. A tese defende que Nietzsche pode correctamente ser inserido nesta tradição, ainda que esta inserção não seja isenta de consequências para a própria tradição em questão. Aquilo que torna Nietzsche particularmente interessante neste contexto é, com efeito, precisamente o facto de, se por um lado Nietzsche também parece usar a filosofia como um meio de terapia e, portanto, ter uma concepção terapêutica da filosofia, por outro lado é também extraordinariamente crítico desta mesma tradição e, mais genericamente ainda, de toda e qualquer tentativa – seja ela filosófica, moral ou religiosa – de curar a humanidade. Tal como analisamos em detalhe ao longo deste estudo, Nietzsche chega mesmo ao ponto de apontar precisamente todas as tentativas sucessivas de curar o homem como o cerne daquilo que diagnostica como a doença da cultura ocidental. Através de uma análise cuidada do diagnóstico nietzschiano, bem como das suas noções de doença, de saúde e, em particular, de grande saúde, procuramos mostrar como a “terapia” nietzschiana implicará, paradoxalmente, uma terapia da própria terapia, de tal forma que a sua inserção nesta tradição de pensamento significará, simultaneamente, a sua própria auto-supressão. Tendo Nietzsche como ponto de partida, a presente investigação conduzirá, assim, a um questionamento crítico genérico das próprias premissas e condições de possibilidade de uma filosofia – e, na verdade, de toda e qualquer prática, seja ela filosófica, moral, religiosa, ou mesmo clínica – que se entenda a si própria como uma forma de terapia.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/11389

101293062

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Relação

Apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio

Direitos

restrictedAccess

Palavras-Chave #Nietzsche #Saúde #Doença #Grande Saúde #Terapia #Cultura #Niilismo #Decadência #Moral #Epicurismo #Estoicismo #Cristianismo
Tipo

doctoralThesis