997 resultados para Mulheres Condições sociais
Condições de trabalho de parteiras tradicionais: algumas caractersticas no contexto domiciliar rural
Resumo:
Este um estudo de abordagem qualitativa e dialtica, que tem como objetivo analisar as condições de trabalho da parteira tradicional, numa perspectiva de trabalho reprodutivo e, portanto, desvalorizado economicamente. A anlise foi construda tendo como categoria central o trabalho partir de pressupostos marxista e feminista. Os resultados obtidos nos permitem, afirmar que as parteiras realizam seu trabalho em precrias condições materiais, financeiras, relativas ao transporte e ao acesso e, ainda, ao ambiente de trabalho. A anlise dessa prtica nos proporcionou apresentar uma discusso em torno de algumas caractersticas do trabalho da parteira tradicional, o qual se caracteriza como trabalho reprodutivo, desvalorizado economicamente, informal, autnomo e eminentemente feminino. Se configura, ainda, como uma prtica social de sade popular legitimada pela comunidade. Na prtica obsttrica domiciliar rural evidenciamos relaes desiguais, medida que homens e mulheres realizam atividades diferentes numa mesma ocupao, cabendo s mulheres as tarefas que reproduzem o papel feminino.
Resumo:
Inicialmente so contadas duas histrias: uma ocorrida na Idade Mdia, em Florena, Itlia, e outra na dcada de 90, do sculo passado, no Rio de Janeiro, Brasil. Ambas referem-se ao princpio da Justia, o pilar tico da Eqidade. A partir da feita uma anlise de gnero da situao de sade das mulheres e o quanto ela reflete as iniqidades advindas das condições de desigualdade social a que esto submetidas. Conclui que adotar a eqidade de gnero como conceito tico associado aos princpios de justia social e direitos humanos significa re-olhar o cotidiano de milhares de mulheres, indignar-se com o sofrimento e provocar transformaes, sem confundir o direito assistncia digna e respeitvel por serem, antes de tudo, cidads, com o imperativo de t-las hgidas e produtivas, por serem geradoras e mantenedoras da fora de trabalho presente e futura, de quem a sociedade depende para a gerao da riqueza social.
Resumo:
O objetivo do estudo descrever a experincia de mulheres, vtimas da violncia domstica, que desistiram do processo contra seu agressor. As entrevistas foram orientadas pela questo: Como foi sua experincia de desistir da denncia contra seu agressor? Das convergncias dos depoimentos emergiram trs temas: o tempo vivido da agresso at a denncia e desistncia; o companheiro, a famlia, a delegacia da mulher; refletindo sobre a experincia vivida, que descrevem o fenmeno estudado. As participantes expressam sentimentos ambguos em relao ao agressor: afetividade, raiva, humilhao e medo. Reconhecem que so dominadas e humilhadas. Porm, noes de justia e igualdade entre os cnjuges no aparecem nos depoimentos. A desistncia do processo pode ser compreendida na concepo da reproduo da estrutura familiar, condicionada a fatores econmicos e sociais. Os resultados remetem reflexo sobre o papel da Delegacia da Mulher e das instituies de sade na assistncia mulher vtima da violncia domstica.
Resumo:
Este estudo objetivou caracterizar a rea de abrangncia da subprefeitura do Butant a partir dos indicadores compostos que representam as categorias autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano e eqidade; e discutir a adequao da utilizao dessas categorias para a operacionalizao da vigilncia da sade nesse territrio. Trata-se de um estudo exploratrio e descritivo, com abordagem quantitativa, cujos dados foram obtidos por meio de identificao de bancos de dados de domnio pblico, com informaes relativas a indicadores sociais e de sade, bem como os ndices de excluso/incluso social utilizados para a construo das categorias autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano e eqidade. Os resultados apontam que os indicadores compostos permitiram revelar as desigualdades nas condições de vida e sade presentes no territrio. Os distritos de Raposo Tavares e Rio Pequeno apresentam os piores ndices de excluso/incluso social na subprefeitura do Butant, configurando-se como os distritos que mais apresentam excluso social.
Resumo:
Pesquisa exploratria, retrospectiva, realizada na Pousada de Maria, em Curitiba, em 2007. Teve como objetivo caracterizar o perfil da violncia praticada contra mulheres residentes na Pousada de Maria, durante os anos de 1993 2007. Os dados foram obtidos atravs da anlise de 886 fichas de registro das vtimas, transcritos para um instrumento construdo para a pesquisa. As vtimas tinham idade entre 18 e 88 anos, baixa escolaridade, e sofreram violncia fsica, psicolgica, sexual e estrutural, principalmente pelos companheiros e pessoas conhecidas. Convivem com a violncia para manter a unio familiar, e rompem com ela na existncia de programas sociais e abrigos. A violncia um fenmeno frequente entre mulheres solteiras, com ensino fundamental incompleto: 24,6% delas sofreram violncia fsica, 24,15%, psicolgica, 14,22%, violncia estrutural. As solteiras, amasiadas e casadas devem ser inseridas como grupo de risco e objeto de ateno, pelos profissionais de sade no planejamento de aes preventivas.
Resumo:
Este artigo discute as representaes sociais de Agentes Comunitrios de Sade (ACS) acerca do consumo de drogas, como recorte de um estudo qualitativo de cunho etnogrfico, cuja produo dos dados ocorreu no perodo de janeiro/2006 a janeiro/2007. Um conjunto de tcnicas foi aplicado para profissionais que atuam numa Unidade Bsica de Sade de Salvador-BA, dentre eles 22 ACS. A Teoria das Representaes Sociais foi adotada como eixo terico, e gnero como categoria de anlise. Os ACS reconhecem a proximidade e o envolvimento das mulheres com o fenmeno das drogas na comunidade onde moram e atuam, porm no adotam em seu trabalho nenhuma ao direcionada para tal problemtica. As representaes sociais apreendidas reproduzem esteretipos e preconceitos em relao s drogas e s pessoas usurias de drogas, vinculadas, sobretudo, ao sexo e classe social, assinalando a invisibilidade do consumo de drogas como um problema de sade para o grupo estudado.
Resumo:
O objectivo da pesquisa foi contribuir para a compreenso da especificidade da componente feminina do fenmeno imigratrio em Portugal, especificamente das mulheres oriundas da Guin-Bissau, e compreender de que modo dimenses sociais e culturais da etnicidade se cruzam e concorrem na (re)construo da identidade, considerando as condicionantes estruturais, a par da aco individual, da sociedade de origem e da de acolhimento, e que interferem no poder estratgico dessas mulheres.
Resumo:
Este trabalho centra-se no estudo das dinmicas familiares e intergeracionais das mulheres africanas em contexto de bairro, tendo na sua base a esfera cultural. O seu principal objectivo contribuir para a compreenso do objecto de estudo em questo, luz de trs dimenses de anlise: familiar, pessoal e espacial e posteriormente, repensar a possibilidade de adopo de novos quadros de valores e perspectivas, em relao ao conceito de ghetto/bairro e ao papel da mulher africana no processo de reproduo cultural. Neste sentido foi desenvolvida uma abordagem multidisciplinar para compreender as dinmicas familiares e intergeracionais a partir dos enquadramentos tericos e conceptuais existentes. O estudo emprico foi desenvolvido atravs de um trabalho de natureza qualitativa, recorrendo-se anlise de contedo de entrevistas semi-directivas para assim dar visibilidade e compreensibilidade s prticas e experincias existentes no bairro. Fazem parte da amostra um grupo de mulheres africanas residentes em bairros sociais das zonas de Lisboa e Vale do Tejo constituda por 8 jovens mulheres, com idades compreendidas entre 16 e os 25 anos e 8 avs com mais de 50 anos. Como concluso reconhecemos a necessidade de representar os ghettos de hoje uma vez que, aps esta investigao, novas questes orientadoras poderiam ser formuladas, j que no se conheceu definies nicas ou consensuadas sobre o mesmo.
Resumo:
Em frica nas ltimas dcadas a famlia, como uma categoria social e moral, ganhou novos contornos. Nos discursos dominantes, quer institucionais quer do senso comum, destaca-se uma viso paradoxal da famlia. Evocada como um pilar identitrio e social de importncia sempre renovada, a famlia contempornea tambm categorizada como estando em crise, desestruturada" e consequentemente apontada como raiz de muitos dos problemas sociais actuais. Com base em dados etnogrficos recolhidos com famlias das reas urbanas pobres da cidade do Mindelo (Cabo Verde), propomos uma anlise crtica para alm dos discursos sobre a crise da famlia. As redes familiares transnacionais, as transformaes nas relaes de gnero e novas dinmicas de reciprocidade inter-geracional sero revelados como recursos centrais para uma maioria de cabo-verdianos pobres estruturarem as suas identidades e percursos de vida e assim fazerem face crescente incerteza que caracteriza os contextos africanos contemporneos.
Resumo:
Quando iniciei, no Bairro do Alto da Cova da Moura, o trabalho que deu origem a esta tese, apercebi-me que era ali que os tambores se poderiam reinventar, que os ritmos anteriormente vividos ou escutados se recriavam na batida do pilo, na forma de fazer rap, no funan, na msica rap ou no Col S. Jon. Foi neste contexto ambguo de construes culturais simultaneamente reflexivas e experienciais que procurei uma estadia longa no terreno, a passagem para o interior do bairro, espao-tempo da pesquisa, a construo de um objeto de estudo e de um percurso metodolgico. A experincia de campo mostrava-se-me como um processo dialctico e dinmico, como construo dialgica e pragmtica, atravs da qual trabalhava o terreno como um meio simultaneamente de comunicao e conhecimento e procurava encontrar nos mtodos modos de reconstruo das condições de produo dos saberes. Residia a o problema do espao afetivo e intelectual, vital e ao mesmo tempo cognitivo, que a observao de terreno enquanto dilogo e processo de palavra. Havia que ter em conta a experincia pragmtica e comunicativa de terreno, atravs das resistncias e da receo afvel, dos mal entendidos e compromissos, dos rituais interativos, da tomada de conscincia da observao do observador, que esto na base da construo e da legitimao do terreno como espao-tempo da pesquisa. A insero no terreno permitiu-me a viagem por muitos temas possveis, por muitas reas de investigao. O percurso realizado conduziu-me a este trabalho que constitui uma abordagem dos processos de produo e reproduo de um ritual cabo-verdiano, Col S. Jon, na Cova da Moura, um dos bairros da periferia urbana de Lisboa. A tese uma construo etnogrfica, por comparao e contraste, de mltiplos fazeres, (re)fazeres a muitas vozes. Vozes dos que o fazem, repetem, dizem. Vozes do quotidiano ou escrita de poetas que o consideram, prenda m grande dum pve e que t faz parte de s vida(Frusoni). Saber dos antroplogos que o dizem imagem e metfora da forma como os cabo-verdianos se representam, modo como se contam a si, para si, para os outros. tambm representao de uma comunidade que se explica a si mesma, e ao explicar-se se constri para si e para os outros a partir de dois eixos, de duas histrias que simultaneamente se cruzam e diferenciam: uma explicitada pelas palavras e simbolizada pela dana do col, veiculando o contexto social e cultural das interaes e dos processos sociais; outra sugerida pela dana do navio, representando a historicidade de um povo - o cruzamento dos destinos de homens e mulheres que atravessando os mares atrados pela aventura, arrastados ou empurrados pela tragdia se juntaram e plantaram na terra escassa e pobre das Ilhas, no centro do Atlntico, da partindo ainda hoje, numa repetio incessante do ciclo da aventura, da tragdia ou da procura, na terra longe, da esperana de uma vida melhor. A reconstituio do Col S. Jon, fora do pas de origem, confrontada com outras realidades sociais adquire, neste contexto, novas dimenses e sublinha outras j existentes. Adquire a forma elegaca da recordao, espcie de realidade ontolgica da origem fixada num tempo e num espao; a de lugar de tenso dialctica com a sociedade recetora no processo migratrio e de conscincia reflexiva da diversidade e alteridade resultante do encontro ou do choque com outra cultura; a de simulacro tornando-se objeto repetvel, espetculo em que ressaltam sobretudo a forma esttica ou fora dramtica, um real sem origem na realidade ou produto de outra realidade, a da praxis ou convenincia poltica distante da participao dos seus atores. A tese coloca-nos perante o questionamento, o olhar reflexivo, da pesquisa antropolgica: simultaneamente experincia social e ritual nica, relao dialgica com os atores sociais, processo de mediao, de comunicao, e a consequente dimenso epistemolgica, tica e poltica da antropologia. Coloca-nos tambm perante a viagem ritual - passagem ao terreno, imagem e escrita e a consequente procura de reconhecimento e aceitao do percurso realizado. O processo de produo do filme Col S. Jon, Oh que Sabe! completa-se com o da escrita, sntese de uma experincia e aparelho crtico do filme. Ambos tem uma matriz epistemolgica comum. Resultam da negociao da diferena entre o Eu e o Outro e da complexa relao entre a experincia vivida no terreno, os saberes locais, os pressupostos tericos do projeto antropolgico. Ao mesmo tempo que recusam a generalizao, refletem uma construo dialgica, uma necessria relao de tenso e de porosidade entre experincias e saberes, uma ligao ambgua entre a participao numa experincia vivida e a necessria distanciao objetivante que est subjacente em qualquer atividade de traduo ou negociao intercultural, diatpica.
Resumo:
Este trabalho de investigao constitui uma aproximao sociolgica no mbito da sade internacional e no contexto da sociologia da sade, em particular da sade dos migrantes, relativamente s suas representaes e prticas de sade e de doena. O objecto de investigao centra-se na anlise das questes sobre a sade e a doena dos imigrantes a partir de uma perspectiva sociolgica. O estudo teve como principal objectivo compreender atravs de relatos pessoais a forma como os indivduos entendem a sade e a doena no campo das representaes sociais de sade e analisar os seus comportamentos em termos das suas prticas de sade e de doena. Pretendeu-se estabelecer uma anlise comparativa dos dados de forma a fazer sobressair semelhanas e/ou divergncias das representaes e das prticas de sade e de doena dos entrevistados. A nossa inteno era verificar se elas se deviam a factores socioeconmicos, a factores culturais e de identidade tnica, ou combinao de ambos. No plano terico, o trabalho aqui apresentado enquadra-se em vrias reas das Cincias Sociais, (sociologia da sade, sociologia das migraes e antropologia da sade). A hiptese geral centrava-se na ideia de que as representaes e as prticas de sade e de doena destes imigrantes se inscreviam num quadro particular onde apareciam interferncias do carcter cultural e da pertena tnica. Estas dimenses podiam no entanto, variar consoante os contextos socioeconmicos. A hiptese pressupunha que os imigrantes apresentariam perfis distintos no que se refere autoavaliao e percepo do estado de sade, s representaes, crenas e atitudes face sade e doena, s experincias e comportamentos, aos estilos de vida e s prticas de sade e percursos de doena. O estudo foi efectuado junto de uma amostra de 40 indivduos cabo-verdianos da primeira gerao em Portugal, mais precisamente os que residem na regio de Lisboa, a qual para efeitos de anlise foi dividida em diferentes grupos: grupo social (grupo popular e grupo de elite), gerao (mais jovens e mais velhos) e gnero (homens e mulheres), (20 pessoas em cada grupo). Optmos por uma metodologia qualitativa atravs da realizao de entrevistas semiestruturadas para recolha da informao. O tratamento dos dados consistiu na anlise de contedo temtica das entrevistas e na identificao de diferenas e semelhanas entre e intra cada um dos subgrupos. A anlise dos resultados comprova a existncia de diferenas entre os grupos sociais relativamente s representaes e prticas de sade e de doena. Elas foram determinadas mais pelos factores socioeconmicos do que pelos aspectos culturais e de etnicidade. Essas diferenas fizeram tambm sobressair dois tipos de viso: uma cosmopolita e outra existencial. Na primeira estamos perante uma viso mais articulada ao mundo e que se relaciona com as ideias expressas pelo grupo de elite e na segunda uma viso existencial, mais ligada s condições materiais de existncia e que corresponde s representaes feitas pelo grupo popular. Foi demonstrado que os indivduos mais velhos do grupo popular encaravam a sade e a doena de forma semelhante ao modelo biomdico, enquanto os do grupo de elite iam mais ao encontro do modelo biopsico- social. As representaes de sade e de doena traduziram-se em definies que foram desde o orgnico ao social. O primeiro correspondia ao discurso do grupo popular que restringia mais a sade a aspectos fisiolgicos e o segundo ao do grupo de elite, que encarava a sade e a doena enquanto fenmenos mais globais e externos aos indivduos. Tambm se evidenciou, quando da anlise dos dados, ao nvel dos subgrupos de gnero e gerao no seio do mesmo grupo social, que as diferenas eram menos evidentes entre eles do que as que encontrmos quando comparmos os subgrupos separadamente por grupos sociais distintos. Quanto ao grupo estudado, apesar da heterogeneidade verificada entre os seus membros, particularmente no que se refere aos factores socioeconmicos, observou-se que existia um aspecto unificador decorrente das suas heranas culturais. Em geral, os indivduos sobrevalorizaram a sua identidade tnica e a cultura de origem comum. A pertena a grupos sociais diferentes, mas a uma mesma cultura e identidade, d origem a uma partilha do sentimento de pertena cultural, mas no a comportamentos e prticas idnticos. Pretende-se, por fim, contribuir para o conhecimento dos imigrantes enquanto cidados e indicar a necessidade de reajustar as estruturas de sade s transformaes multiculturais, que neste momento so vividas a rpidos ritmos de mudana.
Resumo:
Este trabalho de investigao constitui uma aproximao sociolgica no mbito da sade internacional e no contexto da sociologia da sade, em particular da sade dos migrantes, relativamente s suas representaes e prticas de sade e de doena. O objecto de investigao centra-se na anlise das questes sobre a sade e a doena dos imigrantes a partir de uma perspectiva sociolgica. O estudo teve como principal objectivo compreender atravs de relatos pessoais a forma como os indivduos entendem a sade e a doena no campo das representaes sociais de sade e analisar os seus comportamentos em termos das suas prticas de sade e de doena. Pretendeu-se estabelecer uma anlise comparativa dos dados de forma a fazer sobressair semelhanas e/ou divergncias das representaes e das prticas de sade e de doena dos entrevistados. A nossa inteno era verificar se elas se deviam a factores socioeconmicos, a factores culturais e de identidade tnica, ou combinao de ambos. No plano terico, o trabalho aqui apresentado enquadra-se em vrias reas das Cincias Sociais, (sociologia da sade, sociologia das migraes e antropologia da sade). A hiptese geral centrava-se na ideia de que as representaes e as prticas de sade e de doena destes imigrantes se inscreviam num quadro particular onde apareciam interferncias do carcter cultural e da pertena tnica. Estas dimenses podiam no entanto, variar consoante os contextos socioeconmicos. A hiptese pressupunha que os imigrantes apresentariam perfis distintos no que se refere autoavaliao e percepo do estado de sade, s representaes, crenas e atitudes face sade e doena, s experincias e comportamentos, aos estilos de vida e s prticas de sade e percursos de doena. O estudo foi efectuado junto de uma amostra de 40 indivduos cabo-verdianos da primeira gerao em Portugal, mais precisamente os que residem na regio de Lisboa, a qual para efeitos de anlise foi dividida em diferentes grupos: grupo social (grupo popular e grupo de elite), gerao (mais jovens e mais velhos) e gnero (homens e mulheres), (20 pessoas em cada grupo). Optmos por uma metodologia qualitativa atravs da realizao de entrevistas semiestruturadas para recolha da informao. O tratamento dos dados consistiu na anlise de contedo temtica das entrevistas e na identificao de diferenas e semelhanas entre e intra cada um dos subgrupos. A anlise dos resultados comprova a existncia de diferenas entre os grupos sociais relativamente s representaes e prticas de sade e de doena. Elas foram determinadas mais pelos factores socioeconmicos do que pelos aspectos culturais e de etnicidade. Essas diferenas fizeram tambm sobressair dois tipos de viso: uma cosmopolita e outra existencial. Na primeira estamos perante uma viso mais articulada ao mundo e que se relaciona com as ideias expressas pelo grupo de elite e na segunda uma viso existencial, mais ligada s condições materiais de existncia e que corresponde s representaes feitas pelo grupo popular. Foi demonstrado que os indivduos mais velhos do grupo popular encaravam a sade e a doena de forma semelhante ao modelo biomdico, enquanto os do grupo de elite iam mais ao encontro do modelo biopsico- social. As representaes de sade e de doena traduziram-se em definies que foram desde o orgnico ao social. O primeiro correspondia ao discurso do grupo popular que restringia mais a sade a aspectos fisiolgicos e o segundo ao do grupo de elite, que encarava a sade e a doena enquanto fenmenos mais globais e externos aos indivduos. Tambm se evidenciou, quando da anlise dos dados, ao nvel dos subgrupos de gnero e gerao no seio do mesmo grupo social, que as diferenas eram menos evidentes entre eles do que as que encontrmos quando comparmos os subgrupos separadamente por grupos sociais distintos. Quanto ao grupo estudado, apesar da heterogeneidade verificada entre os seus membros, particularmente no que se refere aos factores socioeconmicos, observou-se que existia um aspecto unificador decorrente das suas heranas culturais. Em geral, os indivduos sobrevalorizaram a sua identidade tnica e a cultura de origem comum. A pertena a grupos sociais diferentes, mas a uma mesma cultura e identidade, d origem a uma partilha do sentimento de pertena cultural, mas no a comportamentos e prticas idnticos. Pretende-se, por fim, contribuir para o conhecimento dos imigrantes enquanto cidados e indicar a necessidade de reajustar as estruturas de sade s transformaes multiculturais, que neste momento so vividas a rpidos ritmos de mudana.
Resumo:
Nos ltimos trinta anos tem sido desenvolvido pouco esforo concertado para incorporar o gnero nas teorias das migraes internacionais. As teorias das migraes tm-se centrado nas causas das imigraes, no conseguindo encontrar respostas para uma diversidade de questes. As teorias no proporcionam uma real compreenso sobre quem so as mulheres migrantes, sobre as condições em que as mulheres migram e no explicam o predomnio das mulheres em determinados fluxos laborais, em detrimento de outros. No explicam, ainda, as circunstncias que encorajam as mulheres a tornarem-se migrantes transnacionais, a entrarem em canais de trfico ou a procurar asilo. A dificuldade escala internacional em incorporar o gnero nos estudos das migraes pontua, naturalmente, os estudos em Portugal e diferentes reas disciplinares tendem a centrar-se exclusivamente em determinados tipos de migraes, enfatizando diferentes explicaes. Este estudo privilegia uma perspectiva psicolgica de anlise (para alm das perspectivas sociolgica e econmica mais comuns na anlise da temtica). Nele as mulheres no representam uma das dimenses de anlise, constituindo o prprio objecto de estudo.
Col S. Jon, oh que sabe!: as imagens as palavras ditas e a escrita de uma experincia ritual e social
Resumo:
Quando iniciei, no Bairro do Alto da Cova da Moura, o trabalho que deu origem a esta tese, apercebi-me que era ali que os tambores se poderiam reinventar, que os ritmos anteriormente vividos ou escutados se recriavam na batida do pilo, na forma de fazer rap, no funan, na msica rap ou no Col S. Jon. Foi neste contexto ambguo de construes culturais simultaneamente reflexivas e experienciais que procurei uma estadia longa no terreno, a passagem para o interior do bairro, espao-tempo da pesquisa, a construo de um objeto de estudo e de um percurso metodolgico. A experincia de campo mostrava-se-me como um processo dialctico e dinmico, como construo dialgica e pragmtica, atravs da qual trabalhava o terreno como um meio simultaneamente de comunicao e conhecimento e procurava encontrar nos mtodos modos de reconstruo das condições de produo dos saberes. Residia a o problema do espao afetivo e intelectual, vital e ao mesmo tempo cognitivo, que a observao de terreno enquanto dilogo e processo de palavra. Havia que ter em conta a experincia pragmtica e comunicativa de terreno, atravs das resistncias e da receo afvel, dos mal entendidos e compromissos, dos rituais interativos, da tomada de conscincia da observao do observador, que esto na base da construo e da legitimao do terreno como espao-tempo da pesquisa. A insero no terreno permitiu-me a viagem por muitos temas possveis, por muitas reas de investigao. O percurso realizado conduziu-me a este trabalho que constitui uma abordagem dos processos de produo e reproduo de um ritual cabo-verdiano, Col S. Jon, na Cova da Moura, um dos bairros da periferia urbana de Lisboa. A tese uma construo etnogrfica, por comparao e contraste, de mltiplos fazeres, (re)fazeres a muitas vozes. Vozes dos que o fazem, repetem, dizem. Vozes do quotidiano ou escrita de poetas que o consideram, prenda m grande dum pve e que t faz parte de s vida(Frusoni). Saber dos antroplogos que o dizem imagem e metfora da forma como os cabo-verdianos se representam, modo como se contam a si, para si, para os outros. tambm representao de uma comunidade que se explica a si mesma, e ao explicar-se se constri para si e para os outros a partir de dois eixos, de duas histrias que simultaneamente se cruzam e diferenciam: uma explicitada pelas palavras e simbolizada pela dana do col, veiculando o contexto social e cultural das interaes e dos processos sociais; outra sugerida pela dana do navio, representando a historicidade de um povo - o cruzamento dos destinos de homens e mulheres que atravessando os mares atrados pela aventura, arrastados ou empurrados pela tragdia se juntaram e plantaram na terra escassa e pobre das Ilhas, no centro do Atlntico, da partindo ainda hoje, numa repetio incessante do ciclo da aventura, da tragdia ou da procura, na terra longe, da esperana de uma vida melhor. A reconstituio do Col S. Jon, fora do pas de origem, confrontada com outras realidades sociais adquire, neste contexto, novas dimenses e sublinha outras j existentes. Adquire a forma elegaca da recordao, espcie de realidade ontolgica da origem fixada num tempo e num espao; a de lugar de tenso dialctica com a sociedade recetora no processo migratrio e de conscincia reflexiva da diversidade e alteridade resultante do encontro ou do choque com outra cultura; a de simulacro tornando-se objeto repetvel, espetculo em que ressaltam sobretudo a forma esttica ou fora dramtica, um real sem origem na realidade ou produto de outra realidade, a da praxis ou convenincia poltica distante da participao dos seus atores. A tese coloca-nos perante o questionamento, o olhar reflexivo, da pesquisa antropolgica: simultaneamente experincia social e ritual nica, relao dialgica com os atores sociais, processo de mediao, de comunicao, e a consequente dimenso epistemolgica, tica e poltica da antropologia. Coloca-nos tambm perante a viagem ritual - passagem ao terreno, imagem e escrita e a consequente procura de reconhecimento e aceitao do percurso realizado. O processo de produo do filme Col S. Jon, Oh que Sabe! completa-se com o da escrita, sntese de uma experincia e aparelho crtico do filme. Ambos tem uma matriz epistemolgica comum. Resultam da negociao da diferena entre o Eu e o Outro e da complexa relao entre a experincia vivida no terreno, os saberes locais, os pressupostos tericos do projeto antropolgico. Ao mesmo tempo que recusam a generalizao, refletem uma construo dialgica, uma necessria relao de tenso e de porosidade entre experincias e saberes, uma ligao ambgua entre a participao numa experincia vivida e a necessria distanciao objetivante que est subjacente em qualquer atividade de traduo ou negociao intercultural, diatpica.
Resumo:
No contexto das atividades de formao de professores ao nvel da Universidade Pblica de Cabo Verde (Uni-CV), constatamos que existem algumas dificuldades associadas ao funcionamento dos estgios pedaggicos, que consideramos poderem ser superadas com recurso s tecnologias de informao e comunicao (TIC). Entendemos que o estgio curricular constitui uma das etapas decisivas para os futuros docentes de ensino secundrio no pas, garantindo-lhes a oportunidade de contato com estratgias de trabalho atuais e inovadoras para esses contextos. Esta comunicao enquadra-se num processo de investigao-ao que pretende dinamizar as metodologias de trabalho com os estagirios e seus orientadores no Departamento de Cincias Sociais e Humanas no campus do Palmarejo da Uni-CV. Para tal, pretende-se recorrer dinamizao de um espao virtual na Moodle, de forma a superar algumas das dificuldades previamente identificadas. Os dados aqui apresentados resultam de um diagnstico de necessidades de formao e representam uma breve avaliao das condições existentes para o acompanhamento dos estgios pedaggicos atravs de um ambiente online, onde se constatou que os estagirios e seus orientadores, alm de serem utilizadores e terem bons conhecimentos das TIC, gostariam de poder contar com um espao virtual que os apoiasse ao longo de todo o estgio.