843 resultados para Epistemologia das Ciências Humanas
Resumo:
O artigo parte da enunciação da tese de que ao desejo desmesurado dos grandes pela apropriação/dominação absoluta opõe-se um desejo não menos desmesurado e absoluto do povo de não sê-lo: dois desejos de natureza diferente que não são nem o desejo das mesmas coisas nem desejo de coisas diferentes, mas desejos cujo ato de desejar é diferente. Considerando que cada desejo visa sua efetividade absoluta, cada um tenta se impor universalmente tornando-se duplamente absoluto: por um lado, tende à dominação total (os grandes) ou à liberdade plena (o povo); por outro, tenta se impor ao conjunto do corpo político. Cada desejo somente se sustenta do desejo que lhe é heterogêneo. Cada um persegue uma finalidade própria cuja realização plena será a ruína de toda vida coletiva. Boas instituições e boas leis asseguram a liberdade na medida em que forem capazes de impedir que grandes ou povo consumam seu desejo ou que abandonem seu desejo próprio para assumir o do outro. Contudo, ao inscrever a ordem da lei na desordem dos dissensos, Maquiavel descartou a ideia de uma ordem institucional como solução definitiva da desordem dos dissensos. Consequentemente, nenhuma lei ou instituição é capaz de resistir definitivamente ao risco da corrupção. Isso obriga ao retorno periódico às origens: a experiência do momento constitutivo da violência originária que, expondo os homens ao risco, restaura o prestígio e vigor iniciais de Estados e instituições.
Resumo:
Este artigo enfoca o modo como a teoria husserliana da lembrança se insere, por um lado, na estrutura significativa formulada primeiramente nas Investigações lógicas e, por outro, nos moldes da percepção como unidade temporal. Para tanto, apresenta-se, respectivamente na primeira e na segunda seções, o arcabouço das teorias husserlianas da significação e da percepção como retenção. Na terceira seção, é analisada a segunda forma de lembrança - a rememoração -, segundo o fio condutor em que Husserl a investiga nos contextos da atenção, retenção, afecção e inconsciente. Finalmente, será considerado se o núcleo teórico da primazia do significado e do fluxo da consciência é, de fato, uma base propícia para a compreensão da lembrança em seu caráter de signo.
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O artigo procura acompanhar as linhas de força envolvidas na concepção deleuzeana de causalidade, particularmente em suas distâncias para com as noções equivalentes no mecanicismo, no platonismo e no hegelianismo. O interesse é ressaltar como tal noção, desde que sublinhada como causalidade interna ou causa sui, favorece o estabelecimento da diferença como origem do ser, requisito ontológico fundamental no pensamento de Deleuze. Para tanto, mostraremos, argumentando em favor da pertinência do comentário de Michael Hardt, o contexto que, atravessando especialmente as relações de Deleuze com a produção de Bergson, situa a causalidade na imanência, na mesma medida em que a afasta do território da negação. Nessa direção, vamos nos valer ainda de aspectos vinculados a uma interessante controvérsia de tradução.
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Este texto pretende discutir, do ponto de vista kantiano, o que pode ser ensinado e o que pode ser aprendido em Filosofia. Seu objetivo é construir os argumentos hipotéticos de Kant em face do método estruturalista de leitura de textos filosóficos. Para circunscrever este tema, aparentemente muito amplo, tomaremos como fio condutor um célebre texto de aula de I. Kant, publicado por G. B. Jäsche sob o título Manual dos Cursos de Lógica Geral. Kant ministrou este curso por mais de quarenta anos, até o término de suas atividades docentes em 1797, e nele apresenta considerações bastante fecundas e atuais sobre o ensino da História da Filosofia e sobre a formação do filósofo. A partir da distinção entre conhecimento histórico e conhecimento racional, e da distinção entre o conceito de filosofia na escola e o conceito de filosofia no mundo (AK 9:24), procuraremos apresentar as contribuições kantianas que podem ainda ser consideradas pertinentes para se discutir o modo de ensinar Filosofia e a formação do filósofo.
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O presente trabalho aborda a concepção de causalidade apresentada pelo filósofo escocês David Hume no Tratado da natureza humana (TNH) e propõe, como argumento central, que a ideia de relação causal deriva de uma impressão reflexiva e toma a forma de uma crença imaginária cujo objeto é uma conjunção constante. Começando por analisar os conceitos de impressões e ideias, sobre os quais Hume elabora sua teoria da percepção, o texto explora, em seguida, os fundamentos do processo de associação de ideias, do qual a noção de causalidade é um modo; um breve estudo dos efeitos políticos decorrentes de uma concepção de causalidade assentada na crença e nos hábitos de percepção põe termo a este artigo.
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"Pierre Bayle propose-t-il une histoire de la philosophie?" La question n'est pas destinée à recevoir une réponse simple. Elle est posée afin d'interroger l'entreprise intellectuelle atypique de Bayle, sa manière de convoquer les philosophes et les systèmes philosophiques dans sa propre pensée, de les présenter dans son Dictionnaire historique et critique.
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Propomos uma análise do verbete "Spinoza" do Dictionnaire Historique et Critique salientando a estrutura retórica do texto, em cujo centro se encontra a nova figura do ateu, construída por Bayle, o ateu especulativo ou "o ateu de sistema".
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Dans la remarque H de « Zabarella (Jaques) », Bayle aborde la question traditionnelle de la possibilité de l'éternité du monde. Après avoir proposé une reformulation de cette question, Bayle soulève deux objections à la position orthodoxe de la création du monde dans le temps. Puis il offre sa propre théorie du rapport de Dieu avec le temps. En analysant ses arguments, je soutiens, contre Jean Delvolvé, que Bayle considère son hypothèse comme susceptible d'écarter toutes les objections qu'il avait soulevées contre le système orthodoxe de la création ex nihilo.
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O texto de Bayle mais frequentemente citado como contendo o seu ceticismo mais radical é a nota B do artigo Pirro do Dicionário Histórico e Crítico. A filosofia cética presente nesta nota é dramaticamente apresentada por um abade católico em diálogo com outro abade. O artigo reúne considerações históricas, biográficas, bibliográficas e filosóficas que dão plausibilidade à hipótese que Pierre-Daniel Huet (1630-1721) foi o modelo histórico do personagem bayleano. Estas considerações contribuem para esclarecer a questão, bastante controversa, da natureza e escopo do ceticismo da nota B do artigo Pyrrho.
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Bayle est souvent considéré comme sceptique, mais sa conception de la raison n'est pas toujours claire ; ce qui en revanche est clair, c'est qu'il manifeste une profonde méfiance à l'égard des capacités de la raison de livrer une connaissance certaine. Cependant, une nouvelle interprétation de Bayle comme rationaliste «stratonicien » a été développée par Gianluca Mori, qui donne une description détaillée de Bayle comme philosophe critique désireux de rendre compte de toutes positions possibles dans leur complexité et de tirer toutes les conséquences des arguments invoqués au service des principes dits « stratoniciens ». Cette conception de Bayle comme rationaliste critique stratonicien rend possible une interprétation de Bayle moins comme un « supersceptique » à la Richard Popkin, que celui qui permet à la raison d'opérer avec une portée et une autorité plus grandes que ne le permettrait le scepticisme. Mori affirme que la conception de la raison chez Bayle est assez forte ; selon lui, la raison peut aller jusqu'au bout, avec une autorité absolue, et tirer des conclusions. Je soutiens que la conception de la nature et de la fonction de la raison chez Bayle se situe en fait entre le rationalisme stratonicien de Mori et l'interprétation « supersceptique » de Popkin. Comme Mori, je pense qu'il s'agit d'un rationalisme « critique » ; mais contre lui, je pense que la raison elle-même définit et recommande ses propres limites. J'appelle cette conception de la raison « sceptico-rationaliste » et, en suivant Bayle, je suggère comment le « bon sens » (qui fait partie de la raison) aide à définir ces limites.
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O objetivo do artigo é compreender como Bayle, no seu Dicionário, avalia a força da razão. Primeiro, apresento como seria o bom funcionamento da razão e de que modo esta, apoiando-se tanto nas ideias claras e distintas, como em princípios lógicos, metafísicos e morais, poderia estabelecer algumas verdades em filosofia. Em seguida, passo em revista quais seriam as principais dificuldades levantadas por Bayle para que a razão possa alcançar verdades e que alcance teria, segundo o filósofo, cada uma delas. Na parte final, faço um balanço das análises precedentes e proponho que, para Bayle, a razão não é destruída por essas dificuldades, mas, ainda assim, seria incapaz de estabelecer qualquer verdade em filosofia.
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Quelle place occupe la figure de l'« athée sceptique » dans le schéma baylien qui prend à contre-pied tant les apologistes « latitudinaires » (à la Garasse) que les théologiens plus « rigoureux » (à la Voetius) ? Bayle affirme d'une part une « latitude » de l'athéisme « spéculatif » beaucoup plus large que Voetius ne l'aurait accepté, mais d'autre part il fait valoir un concept précis de divinité que des apologistes comme Garasse auraient sans doute jugé trop restrictif. En outre, il est bien conscient de la différence qui sépare toute forme d'athéisme « dogmatique » ou « affirmatif » de l'athéisme « sceptique ». Mais il est important de remarquer que même les sceptiques sont considérés par Bayle comme des athées « positifs » ou des « Athéistes de spéculation » car, pour « être non Théiste, ou Athéiste », il n'est pas nécessaire « d'afirmer que le Théisme est faux ; il sufit de le regarder comme un problême ». Tout cela cadre bien avec sa conviction que, comme pour le théisme, « il y a différents dégrez d'Athéisme ».