3 resultados para Walter Salles

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Este artigo visa – seguindo-se um viés de análise e um referencial teórico preponderantemente sociológicos – tecer algumas considerações acerca da visão que pairava sobre a infância e sobre os filhos, na sociedade patriarcal brasileira, tomando como objeto de análise o filme Abril despedaçado, dirigido por Walter Salles, e as obras literárias Infância e Vidas secas, de Graciliano Ramos. O fio condutor do filme parte da perspectiva infantil, pois é o Menino que conta a história de violência que permeia as relações entre sua família e a família vizinha. Também Infância – livro memorialista – é narrado sob a ótica infantil, embora o narrador seja adulto. No romance Vidas secas, os filhos do casal sertanejo protagonizam dois capítulos intermediários e nem sequer são nomeados, o que aponta para a massificação dos demais indivíduos da família em detrimento do poder do pater famílias. Evidencia-se, a partir disso, que, as três produções retratam universos sociais e familiares centrados nas arcaicas relações patriarcais, que nelas, as crianças – e também os filhos já adultos – são desconsideradas, reprimidas e até hostilizadas, com vistas à manutenção da ordem. No filme, nota-se que os pais, à luz da tradição, exercem sobre os filhos o poder de vida e de morte, ou seja, os filhos, na luta pela posse das terras, têm de responder com a própria vida, para que a honra e a autoridade patriarcais sejam mantidas soberanamente. O único momento em que os filhos ganham status e identidade é quando, ao serem mortos em nome da honra dos pais e da família, suas fotografias são entronizadas na galeria dos antepassados, recebem vela votiva, e passam a ser cultuados e sacralizados.

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A presente explanação desenvolve-se a partir das (MIGNOLO, 2003) cartas publicadas do escritor mineiro Fernando Sabino: Cartas na mesa (2002), Cartas a um jovem escritor e suas respostas (2003) e Cartas perto do coração (2011). Lidas em conjunto e de forma linear as cartas são (des)locadas de seu lócus (abstrato) original, isto é, o espaço intimo da convivência com os amigos. Tal fato já indica relevante característica do texto epistolar sinalizado no título da explanação, “pensamento nômade”, trata-se de uma metáfora fornecida por Brigitte Diaz em seu livro O gênero epistolar ou o pensamento nômade (2016) e que evoca, de forma apropriada, a natureza andarilha das cartas. Uma outra metáfora necessária e que transcende o texto é a das “teorias itinerantes” (MIGNOLO, 2003), sua presença justifica-se ao provocar reflexões em torno da teorização epistolográfica, visto que várias teorias já viajaram por cartas, como a psicanalise, fato que Jacques Derrida em Mal de arquivo (2001) menciona, e as considerações modernistas presente nas cartas de intelectuais como Mário de Andrade. Mas, e a teoria da carta? Terá ela viajado através do texto epistolar? Ou então foi forçada a, tal como um intruso, viajar a reboque nos espaços liminares da teorias européias? Ou, então, sua viajem foi inviabilizada justamente por ser “teoria” e não teorização?. Leitura essencialmente metafórica está envolta nas considerações de Walter Mignolo em Histórias locais/projetos globais (2003) acerca da dupla natureza da fronteira, geográfica e epistemológica, a fim de sustentar que a teorização epistolar nasce a partir das fronteiras.

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O propósito deste artigo é identificar marcas do narrador de tradição oral na obra literária Quase de verdade, de Clarice Lispector, destinada ao público infanto-juvenil. Como âncora teórica, deteve-se, especificamente, no narrador da tradição oral defendido por Walter Benjamin (1994), e que se encontra na iminência de desaparecer. Observou-se que o cão Ulisses, narrador da produção literária clariceana, selecionada para este estudo, apresenta diversas características da oralidade, culminando assim em evidente dialogismo com as especificidades do narrador benjaminiano.