2 resultados para Representação proporcional, desigualdade, Brasil

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A partir da análise da trajetória de algumas das principais personagens femininas dos romances O matador (1995) e Inferno (2000), da escritora brasileira contemporânea Patrícia Melo, nosso objetivo neste artigo é traçar alguns apontamentos acerca do modo como são aí representadas as relações de gênero, no contexto do feminismo contemporâneo. Passados quase quarenta anos da revolução sexual que marcou os anos 1970 no Brasil, a literatura de autoria feminina brasileira dada a público nos últimos anos tem acompanhado o desenvolvimento do modo de a mulher estar na realidade extraliterária. No entanto, em consonância comas preocupações de muitos(as) críticos(as) do feminismo contemporâneo,os(as) quais nos fornecem a metodologia aqui aplicada, há que se considerar os diferentes contextos em que a categoria mulheres - transposta para o universo literário - se constitui, bem como as modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais com as quais estabelece interseções. Nesse cenário, a autonomia e a condição de agente alcançadas, em tese, pela mulher, por intermédio das lutas feministas contra os desmandos da ideologia patriarcal, é relativizada. Demonstrar como isso ocorre na ficção de Patrícia Melo é nossa preocupação nesses apontamentos.

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A tentativa de narrar uma história que ainda se fazia, o período relativo à ditadura militar pós-64, foi o ponto de partida de vários romances publicados durante a década de 70 e nos anos imediatamente posteriores. A fragmentação marcante dessas narrativas aproximou-as da linguagem jornalística e do romance-reportagem, aspecto considerado por críticos da época como manifesto de certa impossibilidade de captar os acontecimentos em profundidade e como parte de uma estrutura alegórica incapaz de abordar a totalidade daquele momento histórico. Nesse contexto, Antonio Callado publica o romance Reflexos do Baile (1976), chamando atenção para a novidade de seus procedimentos formais em relação às obras anteriores do autor. Seguindo as narrativas de 70, o romance parte dos seqüestros promovidos pelos revolucionários durante a ditadura, para oferecer ao leitor uma narração fragmentada, marcada pela falta de diálogo entre as vozes que formam sua organização epistolar. Partimos do pressuposto que a especificidade de Reflexos do Baile desorganizou a tendência realista que, de acordo com a fortuna crítica sobre Callado, constituía sua obra, questionando um projeto de escrita o qual, segundo o próprio autor, buscava abarcar a História recente do Brasil. Desse modo, diferente dos críticos da época, acreditamos que a obra acaba por questionar a capacidade da narrativa captar coerentemente a vivência de uma época, assumindo em sua forma a precariedade do sujeito diante de uma experiência histórica traumática. A leitura de Reflexos do Baile, hoje, no momento em que o golpe militar de 1964 fez 40 anos, possibilita a abordagem de um episódio de nossa história cujo esclarecimento é constantemente adiado. Ao fazê-lo por meio de um texto que se opõe a uma leitura linear e coerente, vislumbramos aspectos possíveis apenas no âmbito da ficção, estabelecendo um vínculo com a história pautado sobretudo naquilo que foi silenciado pelos relatos oficiais.