9 resultados para Psychosis
Resumo:
RESUMO:As perturbaes psicticas so doenas mentais complexas sendo influenciadas na sua etiologia e prognstico por factores biolgicos e psicossociais. A interferncia do ambiente familiar na evoluo da doena espelha bem esta realidade. Quando em 1962 George Brown e colaboradores descobriram que ambientes familiares com elevada Emoo Expressa (EE) contribuam para um aumento significativo do nmero de recadas de pessoas com esquizofrenia (Brown et al., 1962), estava aberto o caminho para o desenvolvimento de novas intervenes familiares. A EE inclui cinco componentes: trs componentes negativos, i.e. criticismo, hostilidade e envolvimento emocional excessivo; e dois componentes positivos, i.e. afectividade e apreo (Amaresha & Venkatasubramanian, 2012; Kuipers et al., 2002). No final dos anos 1970 surgiram os primeiros trabalhos na rea das intervenes familiares nas psicoses (IFP). Dois grupos em pases diferentes, no Reino Unido e nos Estados Unidos da Amrica, desenvolveram quase em simultneo duas abordagens distintas. Em Londres, a equipa liderada por Julian Leff desenhava uma interveno combinando sesses unifamiliares em casa, incluindo o paciente, e sesses em grupo, apenas para os familiares (Leff et al., 1982). Por seu turno, em Pittsburgh, Gerard Hogarty e colaboradores desenvolviam uma abordagem que compreendia a dinamizao de sesses educativas em grupo (Anderson e tal., 1980). Para designar este trabalho, Hogarty e colaboradores propuseram o termo psicoeducao. As IFP comearam a ser conhecidas por esta designao que se generalizou at aos dias de hoje. Neste contexto a educao era vista como a partilha de informao acerca da doena, dos profissionais para os familiares. Nas sesses os profissionais eram informados acerca das manifestaes, etiologia, tratamento e evoluo das psicoses, bem como de formas para lidar com as situaes difceis geradas pela doena, e.g. risco de recada. Os trabalhos pioneiros das IFP foram rapidamente sucedidos pelo desenvolvimento de novos modelos e a proliferao de estudos de eficcia. Para alm dos modelos de Leff e Hogarty, os modelos IFP que ficaram mais conhecidos foram: (1) a Terapia Familiar-Comportamental, desenvolvida por Ian Falloon e colaboradores (Falloon et al., 1984); e (2) a Terapia Multifamiliar em Grupo, desenvolvida por William McFarlane e colaboradores (McFarlane, 1991). O incremento de estudos de eficcia contribuiu rapidamente para as primeiras meta-anlises. Estas, por sua vez, resultaram na incluso das IFP nas normas de orientao clnica mais relevantes para o tratamento das psicoses, nomeadamente da esquizofrenia (e.g. PORT Recomendations e NICE Guidelines). No geral os estudos apontavam para uma diminuio do risco de recada na esquizofrenia na ordem dos 20 a 50% em dois anos (Pitschel-Walz et al., 2001). No final dos anos 1990 as IFP atingiam assim o apogeu. Contudo, a sua aplicao prtica tem ficado aqum do esperado e as barreiras implementao das IFP passaram a ser o foco das atenes (Gonalves-Pereira et al., 2006; Leff, 2000). Simultaneamente, alguns autores comearam a levantar a questo da incerteza sobre quais os elementos-chave da interveno. O conhecimento sobre o processo das IFP era reduzido e comearam a surgir as primeiras publicaes sobre o assunto (Lam, 1991). Em 1997 foi dinamizada uma reunio de consenso entre os trs investigadores mais relevantes do momento, Falloon, Leff e McFarlane. Deste encontro promovido pela World Schizophrenia Fellowship for Schizophrenia and Allied Disorders surgiu um documento estabelecendo dois objectivos e quinze princpios para as IFP (WFSAD, 1997). No obstante os contributos que foram feitos, continua a existir uma grande falta de evidncia emprica acerca do processo das IFP e dos seus elementos-chave (Cohen et al., 2008; Dixon et al., 2001; Lam, 1991; Leff, 2000; McFarlane et al., 2003). Tambm em Portugal, apesar da reflexo terica nesta rea e do registo de ensaios de efectividade de grupos para familiares estudo FAPS (Gonalves-Pereira, 2010), os componentes fundamentais das IFP nunca foram analisados directamente. Assim, o projecto de investigao descrito nesta tese teve como objectivo identificar os elementos-chave das IFP com base em investigao qualitativa. Para tal, conduzimos trs estudos que nos permitiriam alcanar dados empricos sobre o tema. O primeiro estudo (descrito no Captulo 2) consistiu na realizao de uma reviso sistemtica da literatura cientfica acerca das variveis relacionadas com o processo das IFP. A nossa pesquisa esteve focada essencialmente em estudos qualitativos. Contudo, decidimos no restringir demasiado os critrios de incluso tendo em conta as dificuldades em pesquisar sobre investigao qualitativa nas bases de dados electrnicas e tambm devido ao facto de ser possvel obter informao sobre as variveis relacionadas com o processo a partir de estudos quantitativos. O mtodo para este estudo foi baseado no PRISMA Statement para revises sistemticas da literatura. Depois de definirmos os critrios de incluso e excluso, inicimos vrias pesquisas nas bases de dados electrnicas utilizando termos booleanos, truncaes e marcadores de campo. Pesquismos na PubMed/MEDLINE, Web of Science e nas bases de dados includas na EBSCO Host (Academic Search Complete; Education Research Complete; Education Source; ERIC; and PsycINFO). As pesquisas geraram 733 resultados. Depois de serem removidos os duplicados, 663 registos foram analisados e foram seleccionados 38 artigos em texto integral. No final, 22 artigos foram includos na sntese qualitativa tendo sido agrupados em quatro categorias: (1) estudos examinando de forma abrangente o processo; (2) estudos acerca da opinio dos participantes sobre a interveno que receberam; (3) estudos comparativos que individualizaram variveis sobre o processo; e (4) estudos acerca de variveis mediadoras. Os resultados evidenciaram um considervel hiato na investigao em torno do processo das IFP. Identificmos apenas um estudo que abordava de forma abrangente o processo das IFP (Bloch, et al., 1995). Este artigo descrevia uma anlise qualitativa de um estudo experimental de uma IFP. Contudo, as suas concluses gerais revelaramse pobres e apenas se podia extrair com certeza de que as IFP devem ser baseadas nas necessidades dos participantes e que os terapeutas devem assumir diferentes papis ao longo da interveno. Da reviso foi possvel perceber que os factores teraputicos comuns como a aliana teraputica, empatia, apreo e a aceitao incondicional, podiam ser eles prprios um elemento isolado para a eficcia das IFP. Outros estudos enfatizaram a educao como elemento chave da interveno (e.g. Levy-Frank et al., 2011), ao passo que outros ainda colocavam a nfase no treino de estratgias para lidar com a doena i.e. coping (e.g. Tarrier et al., 1988). Com base nesta diversidade de resultados e tendo em conta algumas propostas prvias de peritos (McFarlane, 1991; Liberman & Liberman, 2003), desenvolvemos a hiptese de concebermos as IFP como um processo por etapas, de acordo com as necessidades dos familiares. No primeiro nvel estariam as estratgias relacionadas com os factores teraputicos comuns e o suporte emocional,no segundo nvel a educao acerca da doena, e num nvel mais avanado, o foco seria o treino de estratgias para lidar com a doena e diminuir a EE. Neste estudo conclumos que nem todas as famlias iriam precisar de IFP complexas e que nesses casos seria possvel obter resultados favorveis com IFP pouco intensas. O Estudo 2 (descrito no Captulo 3) consistiu numa anlise qualitativa dos registos clnicos do primeiro ensaio clnico da IFP de Leff e colaboradores (Leff et al., 1982). Este ensaio clnico culminou numa das evidncias mais substanciais alguma vez alcanada com uma IFP (Leff et al., 1982; Leff et al., 1985; Pitschel-Walz et al., 2001). Este estudo teve como objectivo modular a EE recorrendo a um modelo misto com que compreendia sesses familiares em grupo e algumas sesses unifamiliares em casa, incluindo o paciente. Os resultados mostraram uma diminuio das recadas em nove meses de 50% no grupo de controlo para 8% no grupo experimental. Os registos analisados neste estudo datam do perodo de 1977 a 1982 e podem ser considerados como material histrico de alto valor, que surpreendentemente nunca tinha sido analisado. Eram compostos por descries pormenorizadas dos terapeutas, incluindo excertos em discurso directo e estavam descritos segundo uma estrutura, contendo tambm os comentrios dos terapeutas. No total os registos representavam 85 sesses em grupo para familiares durante os cinco anos do ensaio clnico e 25 sesses unifamiliares em casa incluindo o paciente. Para a anlise qualitativa decidimos utilizar um mtodo de anlise dedutivo, com uma abordagem mecnica de codificao dos registos em categorias previamente definidas. Tommos esta deciso com base na extenso aprecivel dos registos e porque tnhamos disponvel informao vlida acerca das categorias que iramos encontrar nos mesmos, nomeadamente a informao contida no manual da interveno, publicado sob a forma de livro, e nos resultados da 140 nossa reviso sistemtica da literatura (Estudo 1). Deste modo, foi construda uma grelha com a estrutura de codificao, que serviu de base para a anlise, envolvendo 15 categorias. De modo a cumprir com critrios de validade e fidelidade rigorosos, optmos por executar uma dupla codificao independente. Deste modo dois observadores leram e codificaram independentemente os registos. As discrepncias na codificao foram revistas at se obter um consenso. No caso de no ser possvel chegar a acordo, um terceiro observador, mais experiente nos aspectos tcnicos das IFP, tomaria a deciso sobre a codificao. A anlise foi executada com recurso ao programa informtico NVivo verso 10 (QSR International). O nmero de vezes que cada estratgia foi utilizada foi contabilizado, especificando a sesso e o participante. Os dados foram depois exportados para uma base de dados e analisados recorrendo ao programa informtico de anlise estatstica SPSS verso 20 (IBM Corp.). Foram realizadas exploraes estatsticas para descrever os dados e obter informao sobre possveis relaes entre as variveis. De modo a perceber a significncia das observaes, recorremos a testes de hipteses, utilizando as equaes de estimao generalizadas. Os resultados da anlise revelaram que as estratgias teraputicas mais utilizadas na interveno em grupo foram: (1) a criao de momentos para ouvir as necessidades dos participantes e para a partilha de preocupaes entre eles representando 21% de todas as estratgias utilizadas; (2) treino e aconselhamento acerca de formas para lidar com os aspectos mais difceis da doena 15%; (3) criar condies para que os participantes recebam suporte emocional 12%; (4) lidar com o envolvimento emocional excessivo 10%; e (5) o reenquadramento das atribuies dos familiares acerca dos comportamentos dos pacientes 10%. Nas sesses unifamiliares em casa, as estratgias mais utilizadas foram: (1) lidar com o envolvimento emocional excessivo representando 33% de todas as estratgias utilizadas nas sesses unifamiliares em casa; (2) treino e aconselhamento acerca de formas para lidar com os aspectos desafiadores da doena 22%; e (3) o reenquadramento das atribuies dos familiares acerca dos comportamentos dos pacientes, juntamente com o lidar com a zanga, o conflito e a rejeio ambas com 10%. A anlise longitudinal mostrou que a criao de momentos para ouvir as necessidades dos familiares tende a acontecer invariavelmente ao longo do programa. Sempre que isso acontece, so geralmente utilizadas estratgias para ajudar os familiares a lidarem melhor com os aspectos difceis da doena e estratgias para fomentar o suporte emocional. Por sua vez, foi possvel perceber que o trabalho para diminuir o envolvimento emocional excessivo pode acontecer logo nas primeiras sesses. O reenquadramento e o lidar com a zanga/ conflito/ rejeio tendem a acontecer a partir da fase intermdia at s ltimas sesses. A anlise das diferenas entre os familiares com baixa EE e os de elevada EE, mostrou que os familiares com elevada EE tendem a tornar-se o foco da interveno grupal. Por sua vez, os familiares com baixa EE recebem mais estratgias relacionadas com aliana teraputica, comparativamente com os familiares com elevada EE. So de realar os dados relativamente s estratgias educativas. Foi possvel observar que estas tendem a acontecer mais no incio dos grupos, no estando associadas a outras estratgias. Contudo de notar a sua baixa utilizao, a rondar apenas os 5%.O Estudo 3 (descrito no Captulo 4) surgiu como uma forma de completar a anlise do Estudo 2, permitindo uma viso mais narrativa do processo e focando, adicionalmente, as mudanas que ocorrem nos participantes. Com base nos mesmos registos utilizados no Estudo 2, codificmos de forma secundria os registos em duas categorias i.e. marcadores de mudana e marcadores emocionais. Os marcadores de mudana foram cotados sempre que um participante exibia comportamentos ou pensamentos diferentes dos anteriores no sentido de uma eventual reduo na EE. Os marcadores emocionais correspondiam expresso intensa de sentimentos por parte dos participantes nas sesses e que estariam relacionados com assuntos-chave para essas pessoas. Os excertos que continham a informao destes marcadores foram posteriormente revistos e articulados com notas e comentrios no estruturados que recolhemos durante a codificao do Estudo 2. Com base nesta informao os registos foram revistos e, utilizando um mtodo indutivo, elabormos uma narrativa acerca da interveno. Os resultados da narrativa foram discutidos com dados de que dispnhamos, referentes a reunies com os terapeutas envolvidos na interveno em anlise (Elizabeth Kuipers, Ruth Berkowitz e Julian Leff; Londres, Novembro de 2011). Reconhecemos que, pela sua natureza no estruturada e indutiva, a avaliao narrativa est mais sujeita ao vis de observador. No obstante, os resultados deste Estudo 3 parecem revestir uma consistncia elevada. O mais relevante foi a evidncia de que na interveno em anlise ocorreram mudanas emocionais significativas nos familiares ao longo das sesses em grupo. Numa fase inicial os familiares tenderam a expressar sentimentos de zanga. Seguidamente, os terapeutas iam nterrompendo o discurso de reminiscncias, direccionavam o discurso para as suas preocupaes actuais e os familiares pareciam ficar mais calmos. Contudo, medida que os 143 participantes mergulhavam nos problemas com que se confrontavam na altura, os sentimentos de zanga davam lugar a sentimentos de perda e angstia. Nessa altura os terapeutas enfatizavam o suporte emocional e introduziam progressivamente tcnicas de reenquadramento para ajudar os participantes a avaliar de forma mais positiva as situaes. Este trabalho dava lugar a sentimentos mais positivos, como a aceitao, apreo e a sensao de controlo. O Estudo 3 evidenciou tambm o que designamos como o Efeito de Passagem de Testemunho. Este efeito aconteceu sempre que um membro novo se juntava ao grupo. Os membros antigos, que estavam a ser o alvo das atenes e naturalmente a receber mais interveno, mudam de papel e passam eles prprios a focar as suas atenes nos membros mais recentes do grupo, contribuindo para a dinmica do grupo com as mesmas intervenes que os ajudaram previamente. Por exemplo, alguns membros antigos que eram altamente crticos nos grupos em relao aos seus familiares passavam a fazer comentrios de reenquadramento dirigidos para os novos membros. Por fim, o Captulo 5 resume as concluses gerais deste projecto de investigao. Os estudos apresentados permitiram um incremento no conhecimento acerca do processo das IFP. Anteriormente esta informao era baseada sobretudo na opinio de peritos. Com este projecto aumentmos o nvel de evidncia ao apresentar estudos com base em dados empricos. A anlise qualitativa do Estudo 2 permitiu pela primeira vez, tanto quanto do nosso conhecimento, perceber de forma aprofundada o processo subjacente a uma IFP (no contexto de um ensaio clnico que se revelou como um dos mais eficazes de sempre). Identificmos as estratgias mais utilizadas, as relaes entre elas e a sua diferente aplicao entre familiares com baixa EE e familiares com alta EE.O Estudo 3 completou a informao incluindo aspectos relacionados com as mudanas individuais durante o programa. No final foi possvel perceber que as IFP devem ser um programa por etapas. Nos Estudo 2 e 3, evidencimos que numa fase inicial, os terapeutas dedicaram especial ateno para que os familiares tivessem espao para partilharem as suas necessidades, disponibilizando logo de seguida estratgias para promover o suporte emocional e estratgias de coping. Num nvel subsequente do programa, o trabalho teraputico avanou para estratgias mais direccionadas para regular a EE, mantendo sempre as estratgias iniciais ao longo das sesses. Assim apesar de a educao ter sido um componente importante na IFP em anlise, houve outras estratgias mais relevantes no processo. A evidncia gerada pelos Estudos 2 e 3 baseou-se em registos histricos de elevado valor, sendo que os constructos subjacentes na poca, nomeadamente a EE, continuam a ser a base da investigao e prtica das IFP a nvel mundial em diferentes culturas (Butzlaff & Hooley, 1998). Conclumos que as IFP so um processo complexo com diferentes nveis de interveno, podendo gerar mudanas emocionais nos participantes durante as sesses. No futuro ser importante replicar o nosso trabalho (nomeadamente o Estudo 2) com outras abordagens de IFP, de modo a obter informao acerca do seu processo. Esse conhecimento ser fundamental para uma possvel evoluo do paradigma das IFP. ----------- ABSTRACT: Background: Psychotic-spectrum disorders are complex biopsychosocial conditions and family issues are important determinants of prognosis. The discovery of the influence of expressed emotion on the course of schizophrenia paved the road to the development of family interventions aiming to lower the emotional temperature in the family. These treatment approaches became widely recognised. Effectiveness studies showed remarkable and strong results in relapse prevention and these interventions were generalised to other psychotic disorders besides schizophrenia. Family interventions for psychosis (FIP) prospered and were included in the most important treatment guidelines. However, there was little knowledge about the process of FIP. Different FIP approaches all led to similar outcomes. This intriguing fact caught the attention of authors and attempts were made to identify the key-elements of FIP. Notwithstanding, these efforts were mainly based on experts opinions and the conclusions were scanty. Therefore, the knowledge about the process of FIP remains unclear. Aims: To find out which are the key-elements of FIP based on empirical data. Methods: Qualitative research. Three studies were conducted to explore the process of FIP and isolate variables that allowed the identification of the key-elements of FIP. Study 1 consisted of a systematic literature review of studies evaluating process-related variables of FIP. Study 2 subjected the intervention records of a formerly conducted effective clinical trial of FIP to a qualitative analysis. Records were analysed into categories and the emerging data were explored using descriptive statistics and generalised estimating equations. Study 3 consisted of a narrative evaluation using an inductive qualitative approach, examining the same data of Study 2. Emotional markers and markers of change were identified in the records and the content of these excerpts was synthesised and discussed. Results: On Study 1, searches revealed 733 results and 22 papers were included in the qualitative synthesis. We found a single study comprehensively exploring the process of FIP. All other studies focused on particular aspects of the process-related variables. The key-elements of FIP seemed to be the so-called common therapeutic factors, followed by education about the illness and coping skills training. Other elements were also identified, as the majority of studies evidenced a multiple array of components. Study 2,revealed as the most used strategies in the intervention programme we analysed: the addressing of needs; sharing; coping skills and advice; emotional support; dealing with overinvolvement; and reframing relatives views about patients behaviours. Patterns of the usefulness of the strategies throughout the intervention programme were identified and differences between high expressed emotion and low expressed emotion relatives were elucidated. Study 3 accumulated evidence that relatives experience different emotions during group sessions, ranging from anger to grief, and later on, to acceptance and positive feelings. Discussion: Study 1 suggested a stepped model of intervention according to the needs of the families. It also revealed a gap in qualitative research of FIP. Study 2 demonstrated that therapists of the trial under analysis often created opportunities for relatives to express and share their concerns throughout the entire treatment programme. The use of this strategy was immediately followed by coping skills enhancement, advice and emotional support. Strategies aiming to deal with overinvolvement may also occur early in the treatment programme. Reframing was the next most used strategy, followed by dealing with anger, conflict and rejection. This middle and later work seems to operate in lowering criticism and hostility, while the former seems to diminish overinvolvement. Single-family sessions may be used to augment the work developed in the relatives groups. Study 3 revealed a missing part of Study 2. It demonstrated that the process of FIP promotes emotional changes in the relatives and therapists must be sensitive to the emotional pathway of each participant in the group.
Resumo:
RESUMO: Em 2011, a Associao Psiquitrica Mundial lanou um programa de bolsas de investigao para psiquiatras em incio de carreira a partir de pases de renda baixa ou mdia-baixa, no mbito deste programa, o autor foi selecionado para uma bolsa de pesquisa no Centre for Youth Mental Health/Orygen Youth Health Research Centre da Universidade de Melbourne. Orygen, a principal organizao de pesquisa e traduo do conhecimento do mundo com foco em problemas de sade mental em pessoas jovens. O estgio foi baseado em Preveno e Interveno Precoce Psychosis Centre (EPPIC), que faz parte do Orygen. EPPIC fornece programa de tratamento abrangente e integrada, baseada na comunidade para o primeiro episdio de psicose. Esta dissertao descreve o modelo EPPIC, e seus componentes essenciais e fatores que so necessrios para uma implementao de servio direito. Alm disso, uma proposta de criao de um programa-piloto de interveno psicose precoce discutido. Este programa inclui um programa de extenso inovadora que combina princpios comerciais slidos, com metas sociais, a fim de combater especificamente a maior barreira para o tratamento da psicose precoce na Bolvia: o estigma da doena mental. Ao utilizar uma equipe de tratamento mvel, multidisciplinar, que enfatiza os papis dos gerentes do caso treinados focada em fornecer indivduo intensiva e apoio familiar no lar, este programa ir prestar cuidados culturalmente apropriados que ir alavancar contribuies de um suprimento limitado de psiquiatras e mudar longe da dependncia um sistema mdico fragmentado. ---------------------------- ABSTRACT: In 2011, the World Psychiatric Association launched a programme of research fellowships for early-career psychiatrists from low- or lower-middle income countries, within this programme, the author was selected to a research fellowship at the Centre for Youth Mental Health/Orygen Youth Health Research Centre at University of Melbourne. Orygen, is the worlds leading research and knowledge translation organization focusing on mental ill-health in young people. The traineeship was based on Early Psychosis Prevention and Intervention Centre (EPPIC), which is part of Orygen. EPPIC provides comprehensive, integrated, community-based treatment program for first-episode psychosis. This dissertation describes the EPPIC model, and its core components and factors which are necessary to a right service implementation. Additionally, a proposal to establish a pilot early psychosis intervention programme is discussed. This programme includes an innovative outreach programme that combines sound business principals with social goals in order to specifically target the largest barrier to early psychosis treatment in Bolivia: the stigma of mental illness. By utilizing a mobile, multidisciplinary treatment team that emphasizes the roles of trained case managers focused on providing intensive individual and family support in the home, this programme will provide culturally appropriate care that will leverage contributions from a limited supply of psychiatrists and shift dependence away from a fragmented medical system.
Reinvigorating and redesigning early intervention in psychosis services for young people in Auckland
Resumo:
RESUMO: Auckland tem sido pioneira na implementao de modelos de Interveno Precoce em Psicose. No entanto, esta organizao do servio no mudou nos ltimos 19 anos. Segundo os dados obtidos da utilizao do servio, no perodo de 1996 -2012 foram atendidos 997 doentes, que tinham um nmero mdio de 89 contactos (IQR: 36-184), com uma durao mdia de 62 horas de contactos (IQR: 24-136). Estes doentes passaram um nmero mdio de 338 dias (IQR: 93-757) em contacto com o programa. 517 doentes (52%) no necessitaram de internamento no hospital, e os que foram internados, ficaram uma mediana de 124 dias no hospital (IQR: 40-380). Os doentes asiticos tiveram um aumento de 50% de probabilidade de serem internados no hospital. Este relatrio inclui 15 recomendaes para orientar as reformas para o servio e, nomeadamente, delinear a importncia de uma viso organizacional e dos seus componentes-chave. As recomendaes incluem o reforo da gesto e da liderana numa estrutura de equipe mais integrada, com recursos dedicados a melhorar a consciencializao da comunidade, a educao e deteo precoce, bem como a capacidade de receber referenciaes diretas. Os Indicadores Chave de Desempenho devem ser estabelecidos, mas os Exames de Estado Mental em risco, devem ser removidos. Auckland deve manter a faixa etria alvo atual. A durao do servio deve ser aumentada para um mnimo de trs anos, com a opo de aument-la para cinco anos. A proporo de gestor de cuidados para os doentes deve ser preconizada em 1:15, enquanto o pessoal de apoio no-clnico deve ser aumentado. Os psiquiatras devem ter uma carga de trabalho de cerca de 80 doentes por equivalente de tempo completo. Um servio local de prestao de cuidados deve ser desenvolvido com, nomeadamente, intervenes culturais para responder s necessidades da populao multicultural de Auckland. A capacidade de investigao deve ser incorporada no Servio de Interveno Precoce em Psicoses. Qualquer alterao dever envolver contacto com todas as partes interessadas, e a Administrao Regional de Sade deve comprometer-se em tempo, recursos humanos e polticos para apoiar e facilitar a mudana do sistema, investindo de forma significativa para melhor servir a comunidade Auckland.----------------------------------- ABSTRACT: Auckland has been pioneering in the adoption of Early Intervention in Psychosis models but the design of the service has not changed in 19 years. In service utilisation data from 997 patients seen from 1996 -2012, patients had a median number of 89 contacts (IQR: 36-184), with a median duration of 62 hours of contact (IQR: 24-136). Patients spent a median number of 338 days (IQR: 93-757) in contact with the program. 517 patients (52%) did not require admission to hospital, and those who did spent a median of 124 days in hospital (IQR: 40-380). Asian patients had a 50% increased chance of being admitted to hospital. This report includes 15 recommendations to guide reforms to the service, including outlining the importance of vision and key components. It recommends strengthened managerial leadership and a more integrated team structure with dedicated resources for improved community awareness, education and early detection as well as the capacity to take direct referrals. Key Performance Indicators (KPIs) should be established but At Risk Mental States should be excluded. Auckland should maintain the current target age range. The duration of service should be increased to a minimum of three years, with the option to extend this to five years. The ratio of care co-ordinator to patients should be capped at 1:15 whilst non-clinical supporting staff should be increased. Psychiatrists should have a caseload of about 80 per FTE. A local Service Delivery framework should be developed, as should cultural interventions to meet the needs of the multicultural population of Auckland. Research capacity should be incorporated into the fabric of Early Intervention in Psychosis Services. Any changes should involve consultation with all stakeholders, and the DHB should commit to investing time, human and political resources to support and facilitate meaningful system change to best serve the Auckland community.
Resumo:
Para alm das variveis clnicas e sociodemogrficas existem concerteza importantes componentes individuais que desempenham um contributo importante no nvel de insight apresentado por cada pessoa doente, por exemplo, o nvel de inteligncia, personalidade, cultura, experincias passadas, memria, etc. A natureza clnica, emocional e/ou intelectual do termo ajuda-nos a compreender a complexidade da dificuldade que existe na sua traduo e, inclusive, na sua compreenso. Da que as definies atribudas ao conceito sejam muito distintas e variem consoante a formao terica do autor/investigador. Pretende-se, a partir dessa identificao/compreenso, promover a qualidade de vida destas pessoas atravs do desenvolvimento de novas aprendizagens que possibilitem uma cooperao activa. igualmente fundamental ir ao encontro das capacidade intactas de maneira a possibilitar a aquisio de novos(s) comportamento(s) que tenham um impacte positivo nas queixas, sinais, sintomas, incapacidade e disfuncionalidade apresentados pelo/a utente. Uma vez que a prpria conceptualizao do termo traduzir aquilo que se pretende avaliar,ser efectuada uma reflexo detalhada acerca dos instrumentos e definies que tm sido mais utilizadas para explorar o insight nas psicoses.Procurei, no meu trabalho de investigao, realar e promover a importncia que cada sujeito, alvo de interveno, desempenha ao longo do seu processo de recuperao e na preveno de recadas. No seguimento dos objectivos acima descritos, para alm da reviso terica efectuada ao fenmeno em termos de conceptualizao e estudos desenvolvidos na rea de investigao, foi,neste estudo, realizada a contribuio para a validao do instrumento Assessment of Insight in Psychosis: a re-standartization of a New Scale de Markov & Berrios (2003).O fenmeno de insight escolhido pela Insight Scale, relata menos as mudanas vividas em relao doena mental, e mais a actual conscincia e articulao de tais mudanas. Tendo como base uma abordagem psicopedaggica, o fenmeno do insight aqui explorado assentou numa perspectiva reabilitativa, actual e multidimensional, que fosse para alm das dimenses clnicas tradicionais. Neste sentido apresentada uma escala original, intitulada Escala de Avaliao do Insight e Identificao das Necessidades em Pessoas com Psicose, bem como um modelo de interveno psicopedaggico breve, assente nos pressupostos descritos ao longo do trabalho.-----------------------------------------ABSTRACT: The importance of insight in people with mental illnesses was first studied in psychiatry, in the first decades of the 20th century, by people as important as Lewis (1934) and Jaspers (1959). However, this field of investigation was left unexplored for many years. Only in the last decade has this phenomenon become the object of numerous scientific investigations, having been given special attention by its investigators. For this reason a significant number of instruments for evalauting insight in psychotic disorders were developed. Since then many papers have been published, which has allowed for a more in depth knowledge on the subject. Therefore, in recent years, the concept of insight has been developed in an attempt to clarify its compexity. A once dichotomic phenomenon, described in terms of presence or absence, became considered multidimensional, which made the identification of different levels of insight and different dimensions possible. Current concepts categorize insight into five dimensions: the awareness of the patient in relation to his/her mental illness, the awareness of the patient in relation to the social consequences of his/her illness, the awareness of the need for treatment, the awareness of the symptoms and the explanation of those symptoms in relation to the illness. The lack of insight in psychiatry, in general terms, and as this phenomenon has been described, the lack of awareness of having a mental illness, represents one of the most common symptoms of schizophrenia and affects a big part of the population that suffer from this illness. It is estimated that bewteen 50 and 80 per cent of patients with schizophrenia do not believe that they are ill, which, consequently has a big impact in the process of adherence to treatment. It is still not possible, however, to identify all the factors that determine the lack of insight in schizophrenics. There are psychological, social and cultural influences that almost certainly play their role in the lack of insight registered in this pathology.Since the impact of scizophrenia is felt in many aspects of the individuals life, its effective treatment should be directed at various levels, including the improvement of insight. One of the objectives of this study is to explore the relationship between the level of insight in psychosis and the clinical and sociodemographic variables, the psychopathology and its global functioning. As well as the clinical and sociodemographic variables, there are of course important individual components that contribute to the level of insight seen in each patient, for example, their level of inteligence, personality, culture, past experiences, memory, etc. The clinical, emotional and/or intelectual nature of the term helps us understand the difficulty that lies in its interpretation as well as in its comprehension. Therefore, the definitions attributed to the term are very different and vary according to the theoretical training of the investigator. It is intended, from this identification/understanding, to promote the quality of life of these people through the development of new findings that might enable an active cooperation. It is equally fundamental to observe their unimpaired capacities in order to enable the acquisition of new behaviour(s) that have a positive impact on the complaints, signs, symptoms, incapacity and disfunctioning seen in the patient.As the actual comprehension of the term explains what we intend to evaluate, a detailed reflection is made on the instruments and definitions that have been used the most to explore insight in psychosis.In this investigation I tried to underline and promote the importance that each subject, undergoing medical intervention, plays during his/her process of recovery and prevention of relapses. Considering the above mentioned objectives, as well as a theoretical review of the phenomenon in terms of conceptualization and investigative studies developed, this study contributed to the validation of the instrument.The insight phenomenon chosen by the Insight Scale, records less changes experienced in relation to the mental illness and more actual awareness and articulation of these changes. Based on a psychopedagogical approach, the insight phenomenon explored here settled on a rehabilitation, current and multidimensional perspective that would go beyond the traditional clinical dimensions. For this reason an original scale entitled Insight Evaluation Scale and Need Identification in Psychosis Patients is presented, as well as a psychopedagogical intervention model soon to be used with admitted patients based on the presuppositions described in this study.
Resumo:
RESUMO: O desenvolvimento de servios locais adequados deve ser baseado numa avaliao sistemtica das necessidades e resultados obtidos nos cuidados a uma populao de indivduos identificados como apresentando uma doena mental na rea de referenciao do servio. Neste sentido foram utilizados os seguintes mtodos: dados epidemiolgicos acerca das necessidades locais e taxas de utilizao de servios a nvel nacional e local, este ltimo com base no case-register. Os diagnsticos de maior prevalncia em ambulatrio so as perturbaes de humor e as perturbaes neurticas de stress ou somatoformes, com uma preponderncia de doenas mentais comuns (depresso e ansiedade) em servios de psiquiatria. Constatam-se baixas taxas de abandono da consulta (12%). A idade, a doena e a escolaridade esto correlacionados com o risco de drop-out, mas utilizada a regresso logstica, a idade e a escolaridade perdem o seu significado estatstico. Encontram-se taxas reduzidas de drop-out dos indivduos com psicose ou perturbaes bipolares, em virtude da interveno activa da equipa. Os custos de transporte, a distncia ao local de consulta e o tempo de espera para a primeira consulta so barreiras no acesso aos cuidados a nvel local. Os cuidadores no se sentem apoiados pela rede de suporte social e queixam-se sobretudo da acessibilidade, mas exibem elevadas taxas de satisfao com os servios prestados. Decidiu-se apostar numa organizao do servio baseada na comunidade, com intervenes baseadas na evidncia, dando prioridade ao doente mental grave e qualidade dos cuidados.----------- ABSTRACT: The development of appropriate local services should be based on a systematic assessment of the needs and outcomes of the population of individuals identified as mentally ill within the services catchment area. A number of methods may be used as proxies in assessing local needs for services, such as service utilization rates found nationally and locally, by case-register. The most prevalent diagnoses in ambulatory care are mood disorders and neurotic, stress and somatoform disorders, with a majority of common mental disorders (depression and anxiety) in psychiatric services. Low dropout rates (12%) are found in ambulatory care. Age, disease and education are correlated with the risk of drop-out, but after using logistic regression, age and education lose their statistical significance. Low drop-out rates are found in individuals with psychosis or bipolar disorders, because the active intervention from the team. The costs of transportation, distance and the waiting time for the first consultation are barriers in access of care locally. Carers do not feel supported by the network of social support and complain primarily of accessibility, but exhibit high levels of satisfaction with the services provided. It was decided to invest in a service organization based in the community with evidence-based interventions, giving priority to severe mental illness and quality of care.
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ABSTRACT: Schizophrenia with its disabling features has been placed in the top ten of global burden of disease and is associated with long-term decline in functional ability. General Practitioners not only have an important role in treating patients with an established diagnosis of schizophrenia but they can also contribute significantly by identifying people in early stages of psychosis as they are the first hand medical help available and the duration of untreated psychosis is a good indicator of patients prognosis. This cross sectional survey, conducted at the clinics of General Practitioners, was designed to assess the knowledge and practices of general practitioners in Peshawar on diagnosis and treatment of schizophrenia. A semi structured questionnaire was used to assess their knowledge and practices regarding schizophrenia. The Knowledge/Practice was then categorized as good or poor based on their responses to the questions of the administered questionnaire. Overall, the results showed that the knowledge and practices of general practitioners of district Peshawar were poor regarding schizophrenia and may be responsible for delayed diagnosis, inadequate treatment and poor prognosis.
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RESUMO: Os psicofrmacos desempenham um papel central no tratamento das doenas mentais. Apesar das divergncias verificadas nos padres de prescrio de psicofrmacos intra e inter pases, diversos estudos tm alertado para os riscos da polifarmcia e da sobredosagem, particularmente de antipsicticos. Em Portugal, o Plano Nacional de Sade Mental 2007-2016 prev a monitorizao peridica do padro de prescrio de psicofrmacos. No entanto, apenas existem dados relativos utilizao de psicofrmacos em ambulatrio, faltando dados relativos ao padro de prescrio nos cuidados especializados. Este estudo teve como principal objetivo estabelecer o Padro de Prescrio de Psicofrmacos em Unidades de Internamento Agudo de Servios de Psiquiatria em Portugal e determinar a prevalncia da polifarmcia e sobredosagem antipsictica, de modo a recolher dados que possam servir de base para posteriores monitorizaes. Mtodos: Censo de 1 dia da prescrio de psicofrmacos em 12 Unidades de Internamento Agudo de Psiquiatria em Portugal, num total de 272 doentes. Resultados: A larga maioria (94,1%) dos doentes includos estava medicada com mais do que um psicofrmaco. Apenas 1,1% dos doentes no tinham qualquer psicofrmaco prescrito e 4,8% encontravam-se em monoterapia. A mdia de psicofrmacos prescritos por doente era de 3,21,3, significativamente superior nos indivduos do sexo feminino, naqueles com antecedentes de acompanhamento em consulta de psiquiatria, nos que tinham internamentos prvios e nos que estavam internados voluntariamente. As classes de psicofrmacos mais prescritas de modo regular eram os antipsicticos (prescritos a 87,5% dos doentes), as benzodiazepinas (81,2% dos doentes), os antidepressivos (39% dos doentes) e os estabilizadores de humor (31,6% dos doentes). Dos doentes medicados com antipsicticos, 41,6% tinham prescritos pelo menos 2 antipsicticos em associao e esta prescrio combinada era significativamente superior nos doentes com internamento prvio e naqueles que tinham prescrito um antipsictico injetvel de ao prolongada. Excluindo as prescries em SOS, encontraram-se prescritas doses de antipsicticos superiores s recomendadas em 13,9% dos doentes, os quais eram significativamente mais novos. A sobredosagem antipsictica era significativamente superior nos doentes do sexo masculino, nos desempregados e reformados, naqueles com internamento prvio, nos que estavam internados compulsivamente, naqueles com diagnstico de esquizofrenia ou outra psicose, naqueles medicados com antipsicticos em associao e nos que faziam antipsicticos injetveis de ao prolongada. Incluindo as prescries de antipsicticos em SOS, presentes em mais de metade dos doentes, a percentagem de doentes em sobredosagem antipsictica atingia os 49,2%. Concluso: Os resultados so indicadores de prticas de prescrio divergentes das recomendadas, o que pode ter implicaes clnicas e econmicas. Parece imperativo otimizar a prescrio de psicofrmacos nas unidades de internamento agudo de psiquiatria em Portugal, no sentido de melhorar a qualidade dos servios prestados ---------------- ABSTRACT: Psychotropic drugs play a central role in the treatment of mental disorders. Despite the variation in patterns of psychotropic prescription within and between countries, several studies have warned about the risks of prescribing more than one psychotropic drug at a time and high-doses, particularly antipsychotics. The Portuguese National Mental Health Plan (20072016) includes regular monitoring of patterns of psychiatric drug prescription. However, there is only available data on the pattern of use in outpatients, but no information regarding prescribing patterns at the level of specialized care. This study aimed to establish psychotropic drug prescribing patterns in acute psychiatric wards across Portugal and to determine the prevalence of antipsychotic polypharmacy and high-doses treatment, in order to collect data that can serve as a baseline for future monitoring. Methods: "One day census" of psychotropic drug prescribing in 12 Acute Inpatient Psychiatry Units in Portugal, in a total of 272 patients. Results: The majority (94.1%) of patients were treated with more than one psychotropic drug. Only 1.1% of patients had no psychotropic drugs prescribed and 4.8% were on monotherapy. The average prescribed psychotropics per patient was 3.2 1.3, significantly higher in females, in patients with a psychiatry history, in patients with previous admissions and in patients admitted voluntarily. The most commonly prescribed classes of psychotropic drugs on a regular basis were: antipsychotics (87.5% of patients), benzodiazepines (81.2% of patients), antidepressants (39% of patients) and mood stabilizers (31.6% of patients). Of patients taking antipsychotics, 41.6% had at least 2 antipsychotics prescribed in combination, and this prescription combination was significantly higher in patients with previous hospitalization and those who had been prescribed a long-acting injectable antipsychotic. Excluding p.r.n. prescriptions, we verified higher than recommended antipsychotic doses in 13.9% of patients, which were significantly younger. Antipsychotic high-doses was significantly higher in males, unemployed and pensioner patients, patients with previous hospitalization, involuntary admitted patients, those diagnosed with "schizophrenia or other psychosis", patients with a combination of 2 or more antipsychotics and in patients with long-acting injectable antipsychotics. Including antipsychotics p.r.n. prescriptions, present in more than a half of patients, the percentage of those on antipsychotic high-doses reached 49.2%. Conclusion: These results are indicative of prescribing practices divergent of those that are recommended, and this may have clinical and economic implications. It seems imperative to optimize the prescription of psychotropic drugs in Portuguese Acute Inpatient Psychiatry Units, in order to improve the quality of services provided.
Resumo:
RESUMO: Os circuitos fronto-estriatais constituem um sistema em ansa fechada que une diversas regies do lobo frontal aos gnglios da base, participando, com outras reas cerebrais, no controlo do movimento, cognio e comportamento. As Distonias Primrias, a Doena de Parkinson e a Hidrocefalia de Presso Normal, so doenas do movimento caracterizadas por disfuno do circuito fronto-estriatal motor. A conectividade funcional entre as diversas ansas do sistema fronto-estriatal, permite prever que as doenas do movimento possam tambm acompanhar-se de sintomas da esfera cognitiva e comportamental, cuja avaliao seria importante no manejo diagnstico e teraputico dos doentes. Objectivos Os nossos objectivos foram avaliar, por estudos clnicos, a relao entre sintomas motores, cognitivos e comportamentais em trs doenas do movimento com fisiopatologias diversas - distonias Primrias, Doena de Parkinson e Hidrocefalia de Presso Normal - analisando os dados sob a perspectiva terica fornecida pelo conhecimentos dos vrios circuitos frontoestriatais. Os nossos objectivos especficos para cada doena foram: a) Distonias Primrias: avaliao de disfuno executiva em doentes com Distonia Primria e relao com a gravidade dos sintomas motores b) Doena de Parkinson: 1. avaliao breve das funes mentais nas fases iniciais da doena, incluindo anlise longitudinal para determinao de factores preditivos para declnio cognitivo; 2. relao entre a funo motora e cognitiva e a Perturbao do Comportamento do sono REM, incluindo anlise longitudinal; 3.avaliao de sintomas psiquitricos, de um ponto de vista global e especificamente com incidncia sobre as Perturbaes do Controlo do Impulso (PCI). c) Hidrocefalia de Presso Normal: 1. caracterizao das alteraes da marcha, incluindo comparao com a Doena de Parkinson; 2. caracterizao das alteraes cognitivas e da relao entre estas e a disfuno da marcha; 3. estudo evolutivo das alteraes da marcha e cognitiva em doentes submetido a cirurgia e doentes no submetidos a cirurgia. Mtodos: A Distonia Primria, a Doena de Parkinson e a Hidrocefalia de Presso Normal foram diagnosticadas segundo critrios clnicos validados. Sempre que justificado, foram recrutados grupos de controlo, com indivduos sem doena, emparelhados para idade, sexo e grau de escolaridade. Os doentes foram avaliados com instrumentos de aplicao clinica directa, incluindo escalas de funo motora, testes neuropsicolgicos globais e dirigidos s funes executivas e escalas de avaliao psiquitrica. Testes aplicados nas Distonias Primrias: Unified Dystonia Rating Scale, Wisconsin Card Sorting Test, teste de Stroop, teste de cubos da WAIS, Teste de Reteno Visual de Benton; na Doena de Parkinson: Unified Parkinson's Disease Rating Scale, Frontal Assessment Battery (FAB), Mini-Mental State Examination (MMSE), REM-sleep behaviour disorder Questionnaire; Symptom Chek-list 90-R, Brief Psychiatric Rating Scale, FAS (fluncia verbal lexical) Nomeao de Animais (Fluncia verbal semntica), prova de repetio de dgitos (WAIS), Rey auditory verbal learning test, teste de Stroop, matrizes progressivas de Raven, Questionnaire for Impulsive-Compulsive Disorders; na HPN: prova cronometrada de marcha,MMSE, prova de memria imediata da WAIS, prova de repetio de dgitos (WAIS), FAB, desenho complexo de Rey, teste de Stroop, cancelamento de letras, teste Grooved Pegboard. Os doentes com HPN foram tambm submetidos a estudo imagiolgico. A avaliao estatstica foi adaptada s caractersticas de cada um dos estudos.Resultados Distonias Primrias: encontrmos dfices de funo executiva, envolvendo dificuldade na mudana entre sets cognitivos, bem como correlao significativa entre as pontuaes nos testes cronometrados e a gravidade dos sintomas motores. Doena de Parkinson: os doentes com DP obtiveram pontuaes significativamente inferiores na FAB e em sub-testes do MMSE (memria e funo visuo-espacial). A pontuao no MMSE encontrava-se significativamente correlacionada com itens da funo motora no relacionados com o tremor. A disfuno da marcha, a disartria, o fentipo no tremorgeno, a presena de alucinaes e pontuao abaixo do ponto de corte na MMSE, foram factores preditivos de demncia na avaliao longitudinal. A rigidez e a disartria foram factores preditivos de declnio nas funes frontais. A disfuno frontal foi factor preditivo de declnio na pontuao do MMSE. Encontrmos uma prevalncia elevada de RBD nas fases iniciais da DP, que o estudo longitudinal mostrou ser factor preditivo de declnio motor, nomeadamente por agravamento da bradicinsia. Encontrmos tambm uma prevalncia elevada de sintomas psiquitricos, nomeadamente psicose, depresso, ansiedade, somatizao e sintomas obsessivo-compulsivos. As PCI no se encontravam relacionadas com o fentipo motor, com as complicaes motoras do tratamento dopaminrgico ou com a disfuno cognitiva. HPN: os doentes com HPN e os DP apresentaram um padro disfuno da marcha semelhante, caraterizado por passos curtos, lentido e dificuldades de equilbrio, sendo os sintomas mais graves na HPN. Os doentes de Parkinson com maior durao de doena, maior dose de dopaminrgicos e fentipo motor acintico-rgido apresentaram um padro de disfuno da marcha de gravidade semelhante ao encontrado na HPN. As alteraes vasculares da substncia branca, em particular as encontradas na regio frontal, encontravam-se negativamente correlacionadas com a melhoria da marcha aps PL. O estudo das funes cognitivas mostrou um padro de atingimento global, com valores mais baixos na cpia do desenho complexo de Rey. Os resultados nas provas de funo cognitiva no se encontravam significativamente correlacionados com os resultados na prova da marcha. A progresso na disfuno da marcha encontrava-se relacionada com o tratamento no cirrgico, idade superior na primeira avaliao, presena de leses da substncia branca, e presena de factores de risco vascular, ao passo que no foram encontrados factores que predissessem de modo significativo o agravamento da funo cognitiva. Concluses: Os resultados dos diversos estudos, evidenciam a presena de alteraes cognitivas e comportamentais nas trs doenas de movimento. O padro destas alteraes e o modo como estas se relacionaram com os sintomas motores variou de doena para doena. Nas Distonias primrias, a perseverao cognitiva poder ser o sintoma correspondente perseverao motora prpria da doena, sugerindo disfuno no circuito dorso-lateral frontoestriatal. A correlao entre a gravidade motora da doena e o resultado nos testes cognitivos cronometrados, poder ser o efeito da relao entre bradicinsia e bradifrenia. Na Doena de Parkinson, o espectro de alteraes mais acentuado, espelhando a disseminao do processo degenerativo no SNC. Para alm dos sintomas de disfuno executiva, sugerindo disfuno das ts ansas no motoras, existem sinais de disfuno cognitiva global, estas com uma influncia mais significativa no desenvolvimento da demncia. A relao entre os diferentes sintomas motores e cognitivos tambm complexa, embora se evidencie uma dissociao significativa entre o tremor, sem relao com os sintomas no motores, e os sintomas motores no tremorgenos, relacionados com o declnio cognitivo. Enquanto que a presena de RBD parece ser um factor preditivo de agravamento motor, os sintomas psiquitricos, tambm muito frequentes, apresentam uma relao menos clara com a funo motora. Destes, os sintomas obsessivo-compulsivos so aqueles que com mais frequncia se atribuem a disfuno do sistema fronto-estriatal, nomeadamente da ansa orbito-frontal. As PCI tambm no mostraram ter relao com os sintomas motores ou cognitivos. Na HPN, patente o carcter fronto-estriatal das alteraes da marcha, demonstrado tanto na sua caracterizao quanto no efeito deletrio das leses vasculares da substncia branca do lobo frontal na recuperao da marcha aps PL. As alteraes cognitivas parecem ter um padro mais difuso, o que talvez explique a falta de correlao com os sintomas motores - esta dissociao pode ser causada quer por diferena nos mecanismos fisiopatolgicos quer por presena de comorbilidades cognitivas. --------- ABSTRACT: Fronto-striatal circuits constitute a closed loop system which connects different parts of the frontal lobes to the basal ganglia. They are engaged in motor, cognitive and behavioural control. Primary Dystonia, Parkinson's Disease and Normal-Pressure Hydrocephalus are movement disorders caused by disturbance of the motor fronto-striatal circuit. The existence of cognitive and behavioural dysfunction in these movement disorders is predictable, given the functional connectivity between the several distinct loops of the circuit. Evaluation of cognitive and behavioural dysfunction in these three disorders is thus both of clinical and theoretical relevance. Objectives Our objectives were to evaluate, by clinical means, the relation between motor, cognitive and behavioural symptoms in three movement disorders with different pathophysiological backgrounds - Primary Dystonia, Parkinson's Disease and Normal-Pressure Hydrocephalus - and to analyse the study results under the theoretical framework formed by present knowledge of the fronto-estriatal system. Specific objectives: a) Primary Dystonia: executive dysfunction assessment and correlation analysis with motor dysfunction severity; b) Parkinson's Disease: 1. brief cognitive assessment in the early stages of disease, including a longitudinal analysis for determination of predictive factors for cognitive decline; 2. to investigate the relation between RBD and cognitive and motor dysfunction, including a longitudinal analysis; 3. psychiatric symptom assessment, with particular incidence on Impulse Control Disorders; c) Normal-Pressure Hydrocephalus: 1. gait dysfunction characterization and comparison with Parkinson's Disease patients; 2. determination of cognitive dysfunction profile and its relation with gait dysfunction; 3. follow-up study of cognitive and motor outcome in patients submitted and not submitted to shunt surgery. Methods: Primary Dystonia, Parkinson's Disease and Normal Pressure Hydrocephalus were diagnosed according to clinically validate criteria. Where warranted, we recruited control groups formed by healthy individuals, matched for age, sex and educational level. Patients were evaluated with instruments of direct clinical application, including motor function scales, neuropsychological tests aimed at global and executive functions and psychiatric rating scales. Tests used in Primary Dystonia: Unified Dystonia Rating Scale, Wisconsin Card Sorting Test, Stroop Test, Cube Assembly test (WAIS), Bentons Visual Retention Test; in Parkinson's Disease: Unified Parkinson's Disease Rating Scale, Frontal Assessment Battery (FAB) , Mini-mental State Examination (MMSE), REM-sleep behavior disorder Questionnaire, Symptom Check-list 90- R, Brief Psychiatric Rating Scale, FAS (phonetic verbal fluency), semantic verbal fluency test, digit span test (WAIS), auditory verbal learning test,Stroop test, Raven's progressive Matrices, Questionnaire for Impulsive-Compulsive Disorders; in NPH: timed walking test, MMSE, immediate memory task (WAIS), digit span test (WAIS), FAB, Reys Complex Figure test, Stroop test, letter cancellation test, Perdue Pegboard test. NPH patients were also subjected to an imaging study. Statistics were adapted to the characteristics of each study.Results: Primary Dystonia: we found set-shifting deficits as well as significant correlation between timed neuropsychological tests and dystonia severity. Parkinson's Disease: PD patients had significantly lower scores on the FAB and on the memory and visuo-spatial tests of the MMSE; MMSE scores were significantly correlated to non-tremor motor scores; gait dysfunction and speech scores, non-tremor motor phenotype, hallucinations and scores bellow cut-off on the MMSE were predictive of dementia at follow-up; speech and rigidity scores were predictive of frontal type decline; frontal dysfunction was predictivy of decline in MMSE scores; RBD bradykinesia worsening; psychiatric symptoms were prevalent, particularly Psychosis, Depression, Anxiety, Somatisation and Obsessive-Compulsive Symptoms; Impulse Control Disorders were unrelated to motor phenotype,motor side effects of dopamine treatment and executive function; NPH: gait dysfunction was worse in NPH when compared to PD patients, although the pattern was similarly characterized by slowness, short steps and disequilibrium; PD patients whose gait disturbance was as severe as that of NPH patients were characterized by longer disease duration, predominance of non-tremor motor scores, more advanced disease stage and higher dopamine dose; frontal white matter lesions correlated negatively with improvement after LP; cognitive function assessment revealed wide spread deficits, with lower results on the drawing of the complex figure of Rey, which were not significantly correlated to gait dysfunction; older age, white matter lesions and the presence of vascular risk factors were predictive factors for motor but not cognitive function worsening. Conclusion: Results from our studies highlight the presence of cognitive and behavioural dysfunction in all three movement disorders. Symptom pattern and the relation with ovement derangement varied according to the disease. In Primary Dystonia, set-shifting difficulties could be the cognitive counterpart of motor perseveration characteristic of this disorder, suggesting dysfunction of the dorso-lateral circuit. The relation between timed tests and dystonia severity could suggest a relation between bradyphrenia and bradykinesia in Primary Dystonia. In Parkinson's Disease patients, the spectrum of non-motor symptoms is wider, probably reflecting the spread of neurodegeneration beyond the fronto-striatal circuits. While frontal type deficits predominate, suggestive of dorso-lateral and orbito-frontal dysfunction, non-frontal deficits were also apparent in the initial stages of disease, and were predictive of dementia at follow-up. The relationship between cognitive and motor symptoms is complex, although the results strongly suggest a dissociation between tremor symptoms, which bore no relation with non-motor symptoms, and non-tremor symptoms,whichwas frequent, and a predictive factor for which were related with cognitive decline. While RBD was found to be a predictive factor for bradykinesia worsening, psychiatric symptoms, which were also frequent, showed no apparent relation with motor dysfunction. Relevant to our theoretical consideration was the high prevalence of OCS, which have been attributed to orbito-frontal dysfunction. As to the particular case of ICD, we found no relation either with motor or cognitive dysfunction. The fronto-striatal nature of gait dysfunction in NPH is suggest by the clinical characterization study and by the effects of frontal white matter lesions on gait recovery after LP, whereas cognitive dysfunction presented a more diffuse pattern, which could explain the lack or relation with gait assessment results and also the different outcome on the longitudinal study - this dissociation could be caused by a real difference in pathophysiological mechanisms or, in alternative, be due to the existence of cognitive comorbidities.
Sade Mental em meio prisional : avaliao de necessidades de cuidados em reclusos com perturbao mental
Resumo:
RESUMO: A populao prisional constituda por indivduos geralmente sujeitos a alguma forma de excluso social e que apresentam problemas de sade fsica e mental mais frequentes do que na populao em geral. A prevalncia mais elevada de perturbaes mentais e de suicdio nos reclusos, em relao populao civil, consensual e est demonstrada em numerosos estudos internacionais. O abuso/dependncia de substncias, a depresso, as psicoses e a perturbao anti-social de personalidade so as perturbaes mais comuns na populao prisional. As perturbaes mentais so importantes factores de risco de suicdio, de vitimizao, de reincidncia e de reentrada no sistema prisional. Assim sendo, o grupo de reclusos com perturbao mental constitui um grupo de risco relevante. A avaliao de necessidades de cuidados foi iniciada no Reino Unido como um mtodo para o planeamento, medio dos resultados e financiamento dos cuidados de sade. Para esta avaliao foram desenvolvidos instrumentos que avaliam as necessidades em diversos domnios (clnicos e sociais) para aplicao aos utentes, cuidadores e profissionais. At aos anos noventa, a avaliao de necessidades no contexto prisional incidia especialmente nas necessidades de segurana dos servios, segundo a perspectiva dos profissionais. Contudo, a partir do relatrio Reed (1992), sobre a situao dos reclusos com perturbao mental, verificou-se uma abordagem mais abrangente, que inclua a avaliao das necessidades de cuidados dos reclusos. Embora as necessidades dos reclusos com perturbao mental paream ser similares s dos doentes psiquitricos em geral, existem diferenas em determinados domnios como a comorbilidade do eixo II, o abuso de substncias e o risco de violncia. Por este motivo, as necessidades de cuidados de sade mental dos reclusos so elevadas e frequentemente no se encontram satisfeitas. De forma a incluir estas especificidades foi desenvolvida a verso forense do Camberwell Assessment of Need (CAN), designada por CAN - Forensic Version (CANFOR). Actualmente existe um consenso generalizado entre as instituies internacionais do dever de proporcionar aos reclusos cuidados de sade, de preveno e de tratamento, equivalentes aos cuidados disponveis para a populao civil - o princpio da equivalncia de cuidados. A presente investigao pretendeu caracterizar e avaliar as necessidades de cuidados dos reclusos acompanhados nos servios de psiquiatria prisionais na rea da Grande Lisboa (internamento no Servio de Psiquiatria do Hospital Prisional de S. Joo de Deus (HPSJD) e consultas nos Estabelecimentos Prisionais (EP) de Caxias e de Tires). De modo a estabelecer uma comparao com sujeitos civis foi seleccionada uma amostra de convenincia de pacientes acompanhados num departamento de psiquiatria da mesma regio, segundo um emparelhamento por sexo, escalo etrio, e por diagnstico, num perodo de 3 meses. Realizou-se um estudo de tipo observacional, transversal e comparativo. Aplicaram-se os seguintes instrumentos de avaliao: questionrio especfico, Brief Psychiatric Rating Scale 4.0, Mini International Neuropsychiatric Interview 5.0.0, Global Assessment Functioning, CAN-R e CANFOR-R. No perodo do estudo (12 meses) foram assistidos 149 reclusos, dos quais, 35 (23,5%) no cumpriram os critrios de incluso. A amostra final de reclusos (PRs) (n=114) foi constituda por 79 homens (69,3%) e 35 mulheres (30,7%), dos quais 77 eram condenados (67,5%) e 37 (32,5%) encontravam-se detidos preventivamente. A amostra final de participantes civis (PCs) foi constituda por 121 indivduos, dos quais 76 eram homens (62,8%) e 45 eram mulheres (37,2%).A amostra final de participantes civis (PCs) foi constituda por 121 indivduos, dos quais 76 eram homens (62,8%) e 45 eram mulheres (37,2%). Relativamente aos PRs, o diagnstico mais frequente foi a Perturbao Anti-social da Personalidade (57,9%), seguida pela Depresso Major (56,1%). A maioria (53,5%) apresentava trs ou mais categorias diagnsticas. Aproximadamente um tero dos PRs (30%) pontuou o nvel elevado de risco de suicdio. A probabilidade deste risco aumentava, significativamente, nos portadores de Depresso Major, de um maior nvel de psicopatologia e de uma condenao actual. Perto de metade dos PRs (47,4%) possua duas ou mais condenaes prvias e mais de metade estavam envolvidos em crimes contra pessoas (53,5%). A probabilidade de condenaes mltiplas foi significativamente superior nos portadores de Perturbao Antisocial da Personalidade e nos reclusos com maior nmero de necessidades totais. Entre os PRs dos dois sexos, as principais diferenas significativas residiram na maior frequncia de consumo de substncias e no maior nmero de necessidades de cuidados nosatisfeitas nos homens versus mulheres. A comparao entre os PRs, antes da deteno, e os PCs mostrou que os primeiros possuam menor escolaridade, menos medicao psiquitrica, mas mais emprego e mais consumos de substncias ilcitas. A Perturbao Anti-social da Personalidade (OR=26,4; IC95%: 10,7-64,9), a Perturbao Ps-stress Traumtico (OR=15,0; IC95%: 3,5-65,4), a Dependncia/Abuso de Substncias (OR=8,5; IC95%: 4,2-17,6) a Depresso Major (OR=2,6; IC95%: 1,5-4,4) e o Risco de Suicdio Elevado (OR=2,6; IC95%: 1,4-5,0) foram significativamente mais frequentes nos PRs versus PCs. Relativamente avaliao de necessidades de cuidados, os PRs mostraram maior nmero de necessidades no-satisfeitas e maior necessidade de ajuda profissional, em relao aos PCs. Embora diversas necessidades no-satisfeitas possam resultar da condio de recluso, outras, em domnios da sade fsica, da segurana do prprio e dos consumos txicos, podero indicar que os PRs recebem um nvel de cuidados inferior ao necessrio, em comparao com os PCs. Os PRs apresentaram patologia mental, predominantemente no-psictica e elevado risco de suicdio/auto-agresso, associado a depresso, necessidades de cuidados e uma pena de priso. Possuam, numa frequncia elevada, caractersticas, consistentemente, associadas reincidncia criminal (personalidade anti-social, consumos txicos, condenaes anteriores), pelo que se justifica um especial acompanhamento deste grupo, no perodo pr e ps-libertao. A comparao de necessidades de cuidados no contexto civil e prisional indica um maior nvel de necessidades e um menor nvel de cuidados recebidos pelos PRs, em relao aos PCs. O princpio da equivalncia de cuidados poder estar comprometido nos indivduos reclusos com perturbao mental. A utilizao do CANFOR foi fcil e poder contribuir para um melhor planeamento, oferta e avaliao de resultados ao nvel individual. Os PRs e PCs revelaram caractersticas clnicas e de necessidades muito diferentes entre si, pelo que, os reclusos com perturbao mental devero ser assistidos em servios de sade mental preparados para abordar as suas especificidades.---------------ABSTRACT: The prison population is generally made up of individuals who are usually subject to some sort of social exclusion and who show physical and mental problems more frequently than the general population. Various international studies have found higher rates of mental disturbances and suicide within the prison population. The most common mental disturbances found are substance abuse or dependency, depression, psychosis, and anti-social personality disturbance. Such mental disturbances are important factors in suicide, victimization, delinquency recurrence, and the risk of reentry into prison. As a result, prison inmates with mental disturbances are a relevant at risk group. Assessment of needs of care first started in the United Kingdom as a method of care planning, results measuring and finance health care. The method involved the development of certain measuring instruments to be used by patients, caregivers and professionals in order to evaluate needs in various domains (clinical and social). Until the nineties, the assessment of needs of care in a prison context focused mainly on the services security needs. However, after the Reed (1992) report on mentally disturbed inmates, a much wider approach was considered, which included evaluation of the inmates needs of care. However similar mentally disturbed prison inmates needs may appear to those of other psychiatric patients, there are some differences in particular domains, namely, co-morbidity of Axis II, substance abuse and the risk of violence. For this reason, inmates mental health care needs are high and very often not met. In order to include these specificities, a forensic version of the Camberwell assessment of need (CAN,) designated CAN Forensic version (CANFOR) was developed. There is now generalized consensus among international institutions of the duty under the equivalent health care principle to provide inmates with preventative health care and treatment, that are equivalent to the care available to the civil population. This investigation aims to characterize and assess the health care provision of prison inmates admitted to Lisbons Psychiatric Prison ward - the Psychiatric Ward of So Joo de Deus Hospital (HPSJD) - and inmates in the Caxias and Tires Prison Establishments (EP) undertaking outpatient treatment. In order to establish a comparison between prison and civilian patients, a convenience sample was selected from civilian patients being treated in a psychiatric ward in the same geographical area. This sample was paired by gender, age group and diagnosis during a three month period. The study was observational, transversal and comparative. The following measuring instruments were used: a purpose-built questionnaire, Brief Psychiatric Rating Scale 4.0, Mini International Neuropsychiatric Interview 5.0.0, Global Assessment Functioning Scale, CAN-R and CANFOR-R. During the research period (12 months), 149 inmates received care, of whom 35 (23.5%) did not comply with the prerequisite criteria of this study. The final sample of inmates (PRs) (n=114) comprised 79 men (69.3%) and 35 (30.7%) women, of whom 77 (67.5%) were convicted prisoners and 37 (32.5%) were in preventive custody. The final sample for Civilian Participants (PCs) was made up of 121 individuals, of whom 76 (62.8%) were men and 45 (37.2%) were women. The most common diagnosis among the PRs was Anti-Social Personality Disorder (57.9%), followed by Major Depression (56.1%). More than half of the subjects in the sample (53.5%) showed three or more diagnostic categories. Approximately one third (30%) of the PRs showed a high level of suicide risk. The probability of this risk was significantly higher among Major Depression patients, those showing a higher level of psychopathology and those with a current conviction. Almost half of the PRs (47.4%) had been given two or more prior convictions and more than half (53.5%) were involved in crimes against people. The probability of multiple convictions was significantly higher among inmates with Anti-Social Personality Disorder and in those with more total needs. With regard to gender, the main significant difference among the PRs was that men were found to have a higher frequency of substance use and a greater number of unsatisfied caring needs than women. Comparison between the PRs prior to detention and PCs revealed that the former held lower educational qualifications and received less psychiatric medication, but had higher levels of employment and showed greater consumption of illicit substances. In addition Anti-Social Personality Disorder (OR=26.4; IC 95%: 10.7-64.9), Post-Stress Traumatic Disturbance (OR=15.0; IC 95%: 3.5-65.4), Substance Dependency/Abuse (OR=8.5; IC 95%: 4.2-17.6), Major Depression (OR=2.6; IC 95%: 1.5-4.4), and High Suicide Risk (OR=2.6; IC 95%: 1.4-5.0) were significantly more frequent amongst PRs than PCs. The results for needs assessment revealed that the PRs showed higher levels of unmet needs and a greater need for professional help in comparison with the PCs. Although various unmet needs may result from the inmates condition, other needs - in particular those regarding physical health, personal security and toxic substance use - suggest that the care given to PRs may be inadequate in comparison with that given to PCs. This implies that the principle of equivalent health care for PRs with mental illnesses may not be upheld. Furthermore, the mental morbidity results of the PRs indicated that they suffer predominantly from non-psychotic and high suicide/self inflicted aggression risk associated with depression, caring needs and a prison sentence. They also often showed characteristics that are consistently associated with criminal recidivism (Anti-social Personality, use of toxic substances, prior convictions). This result justifies that there should be special follow-up for this group in the pre- and after release period. The use of CANFOR proved to be simple and the application delay was acceptable. No difficulties were encountered in the understanding of its categories by its users. As a result, itcould contribute towards better planning, supply and assessment of results at an individual level. Given that the PRs and PCs revealed different clinical and needs characteristics, it is recommended that inmates with mental disturbances should be assisted in mental health services that are adequately prepared to address their specificities.