Flaubert e o crepúsculo do sujeito: uma análise do conto "Um coração simples"

A literatura francesa e mundial passaram por uma enorme transformação ao longo do século XIX. A primorosa escrita de Flaubert é, para além de sua importância estética, reveladora de um novo modo de se escrever, ler e representar o homem no mundo moderno. O cuidado na construção do texto, a utilização de imagens plásticas e figuras de linguagem, ao mesmo tempo em que o narrador torna-se invisível no emprego do discurso indireto livre são característicos da escrita flaubertiana. O autor apresenta-nos em "Um coração simples" um "retrato" de Félicité, mulher pobre do interior da França, modelo virtuoso de uma ética evanescente. Ao acompanhar, por meio do conto, os passos e desventuras de Felicité, sob as lentes deste novo narrador, buscamos evidenciar as condições que circundam o aparecimento de um olhar científico-objetivo para a subjetividade humana, logo transformada em objeto de uma nascente Psicologia.

Ornato e despojamento no mundo fabril

O artigo investiga algumas das tendências da arquitetura gerada por fábricas - galpões industriais, moradias, igrejas, escolas, clubes etc. -, erguida no Brasil entre as duas últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX. Apoia-se em amplo inventário, como base para um esforço de análise que se propõe a identificar os temas e usos predominantes dos ornatos aplicados a construções geradas por fábricas, as referências historicistas mobilizadas e eventuais rupturas de signos arquitetônicos tipológicos, e, no limite, a abolição de ornatos e dos referidos signos. Assim, de um lado, trata da penetração da linguagem eclética nessas construções, investigando o repertório formal utilizado em diferentes tipologias. De outro, trata da simultânea difusão de uma estética tipicamente fabril, fundamentada em noções de economia, eficiência, utilidade e funcionalidade. Mostra como tais noções se expressam ora em uma simplificação ou ausência de ornatos, ora no uso de ornatos cujos temas remetem ao mundo das máquinas; às vezes, no distanciamento ou abandono de signos arquitetônicos tipológicos consagrados; ou, ainda, no emprego de materiais produzidos industrialmente e que se difundiram a partir, sobretudo, da arquitetura de fábricas.

Reinterpreting the history of women's judo in Japan

This paper reassesses the role of women in judo in Japan, from its secluded and restricted beginnings in the late nineteenth century to the gradual changes in gender and social paradigms triggered by the influence of Western feminist struggle from the 1960s onwards. Judo has been considered in theory an inclusive martial art because its creator, Jigoro Kano, stressed safety, etiquette and moral teachings irrespective of age, size or gender of its adherents. However, the social and cultural environment in Japan has traditionally discriminated against women both outside and inside the dojo (training place). We treat this issue historically, considering the broader context of the Japanese social, political and cultural developments.

Visiting-economists through Hirschman`s eyes

Since the nineteenth century, Latin America and other poor areas of the world received periodical visits from missions of economic experts. This paper analyzes the picture that Hirschman draws of these money doctors, whose main task was to advise on the economic and financial reforms that were deemed necessary for economic development. Hirschman coins the expression `visiting-economist syndrome` to criticize the work done by these money doctors. I discuss whether Hirschman, as a money doctor himself, was able to acquire immunity from the disease he feared.

Education and the historiography of Ibero-American independence: elusive presences, many absences

This contribution analyses recent historiographical tendencies in research in the field of education at the time of the political emancipation of the former Spanish and Portuguese colonies in Latin America. The article briefly presents the complex educational scene in Latin America on the eve of the movements for independence. Due to the revolutionary character of the process of independence, it identifies educational history as one of the most significant absences in the historiography of independence. Notwithstanding, education has certainly been addressed by historians of education, mostly focusing on the colonial or postcolonial period, while largely neglecting the two decades after 1808. This indicates both the divide prevalent between historians of education and historians of independence and the rather nationalistic conceptual frame of existing scholarship.