2 resultados para Jornais paraenses

em SAPIENTIA - Universidade do Algarve - Portugal


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«A filha de um gramático deu à luz, após amorosa união, / uma criança do género masculino, feminino e neutro.» Depois de ler Em Português, Se Faz Favor (da editora Guerra e Paz, 2015), lembrei-me deste epigrama de Páladas (poeta de Alexandria, dos finais do séc. IV d.C.). Também Helder Guégués (não é engano, tem mesmo dois acentos), revisor de texto, encara a língua com humor e ironia, mas sempre com muita seriedade. São assim os seus comentários nos blogues (de que sou leitora assídua) que manteve (Assim Mesmo) e mantém (Linguagista) e nos quais se inspirou para muitas das entradas deste Guia Fundamental para Escrever bem, de subtítulo. Aí, onde o objetivo não é serem um tira-teimas da língua portuguesa, Helder Guégués é muito divertido, pela mordacidade com que critica os erros que vai lendo nos jornais e nos livros ou ouvindo na rádio e na televisão, muitas vezes nem explicando que erro é esse. Porém, nesta obra que não é para especialistas, mas que se dirige «antes a todos os falantes comuns que querem e precisam, exprimir-se melhor em português» (p.21), o autor contém um pouco o sarcasmo, tem o cuidado de explicar o que está errado e indica a forma correta. O livro tem exemplos de vários tipos (géneros, numerais, regências verbais, etc.), como se pode ver pelo índice, dos quais aqui vou apresentar apenas alguns, para ficarmos com uma ideia do que podemos aprender.

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lido nada de Milton Hatoum. Mas, emprestado por uma amiga, li Dois Irmãos e perguntei- me por que razão não tinha ouvido falar dele antes. Às vezes ando distraída e deixo passar várias informações literárias em revistas, jornais e rádio (televisão não tenho). Deve ter sido numa dessas alturas que o seu nome foi falado, até porque as notícias das suas vitórias de prémios literários foram difundidas no nosso país. Tendo passado por diversas profissões (arquiteto, professor de literatura, cronista), Milton Hatoum não é um desconhecido em Portugal e muito menos no Brasil. Por cá, a sua obra (quatro romances e um livro de contos) está publicada na Cotovia (Relato de um certo Oriente – 1999; Dois irmãos – 2000; Cinzas do norte – 2005 e os contos A cidade ilhada – 2009) e na Teorema (Órfãos do El Dourado – 2009). No Brasil, todos os romances foram premiados: três deles com o prestigiado prémio Jabuti de Literatura e um, Cinzas do norte, com o importante Prémio Portugal Telecom de Literatura. Dois irmãos é um livro pequeno, mas muito intenso. Depois de terminarmos a leitura ainda ficamos com as personagens e os seus dramas de vida na nossa memória. Passado em Manaus, acompanha a história da família de Zana e Halim, um casal de libaneses emigrados no Brasil. A ação acompanha décadas da família (os gémeos teriam nascido em 1925), principalmente do período que medeia a Segunda Guerra até à ditadura militar, pelo olhar de uma personagem secundária, que sabe de muitas destas histórias em segunda mão, através das conversas com diversas personagens, principalmente Halim e a índia Domingas que, vimos a saber, é sua mãe. Tudo nos é revelado aos poucos, como se o narrador (cujo nome, Nael, só sabemos quase no fim) nos fosse contando à medida que se vai lembrando, recuando e avançando no relato.