1 resultado para Scientific production
em Repositório Institucional da Universidade de Aveiro - Portugal
Resumo:
O aquecimento do sistema climático é inequÃvoco e a influência humana é clara. A continuação da emissão de gases com efeito de estufa irá potenciar os impactes das alterações climáticas, representando um compromisso futuro que se perpetuará por vários séculos. As alterações climáticas não proporcionam uma experiência sensorial direta, embora as variações de temperatura e de precipitação e os extremos climáticos de vários tipos poderem ser experienciados. O cidadão comum não se apercebe do que está a acontecer, a menos que ocorram mudanças significativas, no estado normal do tempo para uma determinada época, na região do mundo onde ele vive. Mesmo para os especialistas, o problema só é cognoscÃvel através de uma vasta rede cientÃfica, técnica e institucional. O conhecimento, é portanto, transmitido ao público em geral maioritariamente através de representações dos media sobre o discurso produzido pela comunidade cientÃfica. O principal objetivo deste trabalho é averiguar a interligação entre o discurso cientÃfico, o discurso mediático e as perceções da população portuguesa na temática das alterações climáticas. A metodologia utilizada, para a prossecução do objetivo, num trabalho que cruza o domÃnio cientÃfico da engenharia do ambiente com o das ciências sociais, encontra-se dividida em 3 fases principais: (1) Uma primeira fase onde se realiza uma análise ao discurso cientÃfico de produção nacional, com uma análise de conteúdo aos resumos dos artigos cientÃficos, utilizando 884 resumos da base de dados Scopus de 1975 a 2013 com a palavra-chave ‘Climate Change’; (2) Uma segunda fase onde se analisa o conteúdo de notÃcias de meios de comunicação social portugueses, aplicando uma análise de conteúdo a 4340 notÃcias veiculadas por 4 órgãos de comunicação social (Correio da Manhã, Público, RTP e TSF) entre 2004 e 2013, utilizando os respetivos motores de busca online com a palavra-chave ‘Alterações Climáticas’; e, (3) uma terceira fase onde se compila a informação dos estudos existentes sobre a população portuguesa, utilizando os dados dos Eurobarómetros que incluem o tema das alterações climáticas de 1982 a 2014. Seguindo uma linha condutora que inclui o discurso cientÃfico, o discurso mediático e as perceções sociais, almejou-se uma abrangência do tema das alterações climáticas, investigando a existência do fenómeno e as respetivas causas, as consequências com a análise dos impactes e dos riscos associados a esses impactes e as soluções através de medidas de mitigação e de adaptação. Nos principais resultados emerge a evidência de que a intensidade de crescimento da produção cientÃfica nacional não se traduz num crescimento consistente dos Ãndices de noticiabilidade dos órgãos de comunicação social e desde 2010 que o número de dias por ano, sem notÃcias sobre alterações climáticas, ultrapassa dos 50%. Em consequência, os nÃveis de informação da população portuguesa sobre as alterações climáticas são sistematicamente inferiores à média europeia. Em Portugal as taxas de pouco ou nulo conhecimento rondam os dois terços de inquiridos. Não obstante o seu caráter contÃnuo, para que as alterações climáticas se tornem alvo de interesse dos media é necessário que ocorram reuniões polÃticas, encontros cientÃficos ou outros acontecimentos. A visibilidade alcançada pelos acontecimentos nacionais é muito fraca e os acontecimentos meteorológicos extremos, não são frequentemente relacionados com o fenómeno das alterações climáticas. No seio da comunidade cientÃfica portuguesa existe um claro consenso sobre a existência das alterações climáticas e das suas causas antropogénicas. No discurso mediático português não se verifica enviesamento da informação não sendo surpreendente os baixos nÃveis de ceticismo dos portugueses. A abordagem aos impactes das alterações climáticas, tanto no discurso cientÃfico como no discurso mediático, é robusta e em 2014, cerca de sete em dez portugueses afirma que as alterações climáticas são um problema muito sério. Contudo, Portugal apresenta a proporção mais baixa da Europa de respondentes que percepcionam as alterações climáticas como o problema mais grave que o mundo enfrenta. Para estes resultados poderá contribuir a baixa inclusão de termos relacionados com o risco, tanto no discurso cientÃfico como no mediático, não ultrapassando os 20%. Tanto o discurso cientÃfico como o discurso mediático não estão direcionados para as soluções (mencionando especificamente medidas de mitigação ou medidas de adaptação). A menção à s medidas de mitigação e à s medidas de adaptação não ultrapassam os 16% no discurso cientÃfico e apresentam valores ainda mais baixos no discurso mediático (13%). Em ambos os discursos existe uma clara preferência pela menção à s medidas de adaptação em detrimento das medidas de mitigação. Com valores tão baixos na abordagem à s soluções das alterações climáticas não surpreendem os também diminutos nÃveis de responsabilidade que a população portuguesa atribui a si própria no combate à s alterações climáticas.