2 resultados para Conectividade
em Repositório Científico da Universidade de Évora - Portugal
Resumo:
O efeito das grandes barragens na comunidade piscícola vem sendo documentado por numerosos estudos, enquanto o número de trabalhos que incidem sobre o efeito dos obstáculos de pequena dimensão é bastante mais reduzido. A comunidade piscícola foi amostrada e as variáveis ambientais foram caracterizadas em 28 locais divididos por dois cursos de água da Península Ibérica, 14 dos quais localizados imediatamente a montante, jusante e entre cinco pequenos obstáculos na Ribeira de Muge e 14 na Ribeira de Erra, considerada a linha de água de referência. Através de análise estatística multivariada foi possível verificar que variáveis de habitat como a velocidade de corrente e a profundidade, e não as variáveis físico-químicas, foram as principais responsáveis pela discriminação dos vários grupos de locais nas duas ribeiras. A ribeira de referência exibiu um gradiente longitudinal de velocidade de corrente que, contudo, não era suficientemente forte para causar alterações significativas na composição e estrutura dos agrupamentos piscícolas. Através da sucessiva e drástica repetição deste gradiente junto a cada estrutura, a ribeira com obstáculos apresentou diferenças na fauna piscícola entre os três tipos de locais. Os troços lênticos a montante apresentavam uma densidade mais elevada de espécies limnofilicas, omnívoras e exóticas, como o góbio (Gobio lozanoi), que estão bem adaptadas a este tipo de habitat. Os locais de amostragem situados a jusante e entre os obstáculos caracterizavam-se pela dominância de taxa reófilos e invetivo-os (i.e. barbo, Luciobarbus bocagei). As métricas relacionadas com a riqueza específica não apresentaram diferenças entre os três tipos de locais, ao contrário da diversidade que foi mais elevada nos pontos situados entre os obstáculos, afastados da sua influência directa, onde a diversidade de habitats também é mais elevada. Contrariamente aos locais a montante, os troços a jusante e entre os obstáculos apresentaram similaridades, em muitas das características estudadas, com a ribeira de referência, sugerindo que este tipo de estruturas provoca uma alteração mais significativa na comunidade piscícola a montante. Este estudo sugere que os efeitos dos pequenos obstáculos no habitat e na ictiofauna são, em parte, semelhantes aos descritos para as grandes barragens, fornecendo considerações importantes para os esforços de conservação dos ecossistemas ribeirinhos. ABSTRACT; Many studies have assessed the effects of large dams on fishes but few have examined the effects of small obstacles. Fishes were sampled and environmental variables were characterized at 28 sites in two lberian streams, 14 located immediately downstream, upstream and between five small obstacles at River Muge and 14 at River Erra, considered as the reference stream. Multivariate analysis indicated that habitat variables like current velocity and depth, but not physicochemistry, were the main responsible for site groups' discrimination in both streams. The reference stream exhibited a longitudinal gradient of current velocity that, however, wasn't strong enough to cause significant changes in the fish assemblage's composition and structure. By successive and drastically repeating this gradient near each structure, the obstac1es stream presented differences in fish fauna between the three site types. Lentic upstream sites presented higher density of limnophilic, omnivorous and exotic species, like gudgeon Gobio lozanoi, who are well adapted to this type of habitat. Downstream and between obstacles sites were characterized by the dominance of rheophilic and invertivorous taxa, especially barbel Luciobarbus bocagei. Richness metrics did not differ among site types, but diversity was higher in sites located between the obstacles away from its direct influence, where the habitat diversity was higher. Contrarily to upstream sites, downstream and between obstacles sites were similar in many of the studied features to the reference stream, implying that this type of structures cause a higher modification in the upstream fish community. This study suggests that the effects of small obstacles on habitat and fishes are similar, in some extent, to those reported for larger dams, providing important considerations for riverine ecosystem conservation efforts.
Resumo:
As estradas e tráfego inerente surgem como a criação antrópica mais conspícua e penetrante na paisagem natural, sendo considerados os principais agentes causadores de fragmentação e destruição de habitats, assim como representam um obstáculo físico sem precedentes, limitando as relações directas entre os indivíduos, por diminuição da frequência de dispersão e aumento da mortalidade por atropelamento, impedindo o fluxo natural de genes e suscitando o aumento de fenómenos de inbreeding e perda de heterozigotia. Todos os impactes deletérios associados às rodovias são claramente perceptíveis em vertebrados, onde as aves de rapinas nocturnas não são excepção. Uma vez que estas rapaces beneficiam das suas bermas e orlas, como locais de poiso, nidificação ou como corredores de dispersão através da paisagem, são frequentemente vítimas de mortalidade por atropelamento em estradas, sendo esta problemática considerada actualmente uma das mais recentes e importantes formas de mortalidade não natural em rapinas nocturnas e vinculada como um dos maiores problemas de conservação que afecta este grupo. Não obstante, esse mútuo efeito de atracção/repulsa das estradas a estas rapaces, as rodovias criam uma barreira específica que limita a dinâmica, comportamento e densidade populacional das espécies residentes, reconhecendo-se que o isolamento daí resultante, pode comprometer a viabilidade populacional a longo prazo, podendo mesmo conduzir a altos riscos de extinção das populações locais devido a efeitos estocásticos. Mediante esta problemática, este trabalho debruçou-se sobre um único objectivo principal: a avaliação do impacte das rodovias e do tráfego, na densidade das aves de rapina nocturnas. Este estudo foi efectuado na região Alentejana, abrangendo uma área de cariz tipicamente mediterrânico, delimitada pelas localidades de Montemor-o-Novo, Arraiolos e Évora, sendo seccionada por 143 quilómetros de estradas, divididas em autoestrada, rodovias com elevada e reduzida densidade de tráfego. A monitorização das rapinas nocturnas foi conduzida em dois anos amostrais (2005 e 2007), tendo sido focalizada sobretudo em duas espécies de Strigiformes, a Coruja do-mato Strix aluco e o Mocho-galego Athene noctua, recorrendo ao uso de playbacks com reprodução de vocalizações de indivíduos conspecíficos. Foram usadas 32 variáveis explicativas integradas em três grandes grupos: variáveis de estrada, métricas da paisagem, uso do solo, tendo sido analiticamente testadas, recorrendo à aplicação de Modelos Lineares Generalizados. Os principais resultados obtidos demonstram que as variáveis de estrada, aliadas à densidade de tráfego e ruído inerente à sua circulação, são provavelmente, responsáveis por um comportamento de repulsa das espécies de aves de rapina nocturnas em estudo, apresentando estas densidades mais elevadas longe de áreas antropicamente perturbadas e, portanto, de menor qualidade que se encontram adjacentes às rodovias. Todavia a presença de habitat favorável a estas rapaces é provavelmente o descritor com maior poder estatístico no que concerne à sua distribuição e densidade, sendo os montados densos e a presença de zonas agrícolas de sequeiro, positivamente correlacionadas, respectivamente com a densidade de casais reprodutores de Coruja-do-mato e Mocho-galego. Mediante a observação dos resultados será veemente a aplicação de medidas de mitigação específicas, que fundamentalmente considerem o afastamento dos efectivos populacionais longe das estradas e tráfego, conservando e assegurando as características estruturais, requisitos e qualidade dos habitats, de modo a incrementar e garantir a viabilidade e densidade das populações, fidelizando a territorialidade e permanência destas aves nestas áreas. Adicionalmente deverá investir-se na conectividade das manchas de paisagem fragmentada pelas rodovias, criando opções de conservação estratégicas, em zonas ecologicamente mais sensíveis, que não somente minimizem o efeito de repulsa reconhecido nestas aves, mas também os níveis de mortalidade por atropelamento, tornando os ecossistemas mais funcionais para a sobrevivência destes rapaces. ABSTRACT; Roads and traffic are the most conspicuous and pervasive human creation, being the great responsible for fragmentation and habitats destruction, reducing animal movement through landscape, which implies decrease of gene flow and loss of variability that can fragmented populations, thus reducing their sizes and densities. All deleterious impacts associated with roads are clearly visible in vertebrates, where owls aren't exception, being frequent victims of road mortality, since they can use roadside habitats and edges for hunting, nesting or dispersal corridors through the landscape, being nowadays one of the most recent and important causes of nonnatural mortality in owls and has been recognized as one of the largest conservation problems affecting this group. However, the attractive and avoidance effect of roads and his edges on owls creates a barrier effect that limits dynamics, behaviour and breeding density of resident species, recognizing that possible isolation, could compromise populations survival, make them more vulnerable to high risks of local extinction due to stochastic effects. Despite that, several authors suggest that owls use roads to hunt, as marginal habitats, or for navigation corridors through the landscape ln this context, the major aims of this study was to verify if there are negative effects of roads on the density of owls, considering traffic as an influencing factor. This study was conducted in Alentejo, covering a typical Mediterranean area, including three main localities Montemor-o-Novo, Évora and Arraiolos, being sectioned by 143 km of roads, including highway, roads with high traffic density, and the remaining with low traffic density. The owl census was conducted in two sampling years (2005 and 2007) and was focused mainly on Little owl Athene noctua and Tawny Owl Strix aluco species, using the playback technique, with conspecific calls. We used 32 explanatory variables, mainly included in three groups: road variables, landscape metrics and land use, having been analytically tested, with application of Generalised Linear Models. The main results show that noisy roads with high traffic density are probably the most responsible for the avoidance behaviour of owls, under the study area, showing density depression near high anthropogenic disturbed areas adjacent to roads. However, the presence of habitat quality to these birds is probably the descriptor with greater statistical power, considering its distribution and density, with the dense oak woodland and croplands and arable lands, positively correlated, respectively with Tawny owl and Little owl density. ln consequence, the great conservation effort should be done in order to keep breeding populations away from roads and traffic, ensuring the structural features, requirements and quality of its habitats in order to enhance and ensure the viability and density of owl's populations in these areas. ln addition, it is important to invest in connectivity between roadside fragmented patches, creating strategic conservation options, in sensitive areas, which minimize the avoidance effect, recognized in owls, but also road-kill levels, making ecosystems more functional to survival of these top predators.