1 resultado para Insuficiência cardíaca Teses

em Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra


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Introduo A transplantao cardíaca atualmente um tratamento de reconhecida validade que permite ao doente com insuficiência cardíaca terminal, ver a sua expectativa de vida aumentada e a sua qualidade de vida melhorada. No temos dvidas de que, o aprimorar das tcnicas cirrgicas e o desenvolvimento de novos frmacos imunossupressores, permitiram uma evoluo enorme na rea dos transplantes de rgos, no entanto, no podemos deixar tambm de salientar, a importncia de uma forte envolvncia de todos os atores comprometidos no processo da transplantao cardíaca, no qual se incluem os enfermeiros. A sua formao permite-lhes a obteno de ferramentas nicas e situarem-se numa posio bastante privilegiada, na promoo do autocuidado e na melhoria da adeso a um regime teraputico rigoroso, condies essenciais para a melhoria da sobrevida e da qualidade de vida da pessoa transplantada ao corao. Adeso implica uma atitude ativa, com envolvimento voluntrio e colaborativo entre o utente e o profissional de sade, num processo conjunto para a mudana de comportamentos. O "utente adere ao tratamento ou ao protocolo teraputico, tendo por base um acordo conjunto que tem a sua participao, o que o leva a reconhecer a importncia de determinadas aes prescritas" (Camarneiro, 2002, p.26). Para Orem (2001), capacidade de autocuidado, significa no contexto da teoria, aquilo que a pessoa capaz de realizar por si e para si prpria. Refere-se ao conjunto de conhecimentos, habilidades e experincias adquiridas ao longo da vida para a realizao do autocuidado. Objetivos Identificar o nvel de adeso aos tratamentos; descrever a capacidade de autocuidado; e analisar de que forma que a capacidade de autocuidado se relaciona com a adeso aos tratamentos da pessoa transplantada ao corao. Metodologia Partindo da questo de investigao: "Qual a capacidade para o autocuidado e de que forma que esta se relaciona com a adeso aos tratamentos do indivduo transplantado ao corao?", desenvolvemos um estudo quantitativo, transversal e descritivo-correlacional, formulando a seguinte hiptese: "Existe relao entre a capacidade de autocuidado e a adeso aos tratamentos do indivduo transplantado ao corao". A populao alvo do estudo era constituda pelos doentes submetidos a transplante cardaco h mais de seis meses, seguidos na consulta de transplantao cardíaca num centro de cirurgia cardiotorcica de um hospital universitrio. A amostra de 62 indivduos foi do tipo no probabilstico e acidental de acordo com os seguintes critrios de incluso: ser transplantado ao corao h mais de seis meses; no possuir qualquer tipo de doena grave que pudesse afetar a sua capacidade cognitiva; ter idade superior a 18 anos data da aplicao dos questionrios; compreender e assinar o consentimento informado. A recolha de dados foi realizada atravs do autorrelato escrito que depois de realizado o pr-teste, incluiu: um questionrio para caracterizao sociodemogrfica da amostra; a Escala de Capacidade de Autocuidado (ECA; Baquedano, 2008); e a Medida de Adeso aos Tratamentos (MAT; Delgado e Lima, 2001) Foi obtido o parecer favorvel da Comisso de tica para a Sade da instituio onde foi realizado o estudo. Resultados Quanto caracterizao sociodemogrfica: 83,9% eram homens, com uma mdia de idades de 57,45 anos (desvio padro de 11,4 anos), variando entre os 26 e os 73 anos. A maior parte dos indivduos era casada ou vivia em unio de facto (80,6%), 68% residia em zonas urbanas, 57% procedia da zona centro do pas, 43,5% tinha a instruo primria e a maioria (67,7%) encontrava-se na situao de reformado. A utilizao da MAT permite detectar os doentes que omitem a ingesto da medicao por esquecimento, que se esquecem das horas de administrao ou no respeitam o horrio que est pr-estabelecido, que deixam de tomar a medicao por iniciativa prpria, abordando de igual forma, a problemtica da automedicao. No nosso estudo, os valores da escala variaram entre o mnimo de 4,71 e o mximo de 6 pontos. A mdia foi de 5,78 com um desvio padro de 0,03 pontos. Com o objetivo de captar padres de adeso, procedeu-se converso da escala, pudendo verificar-se um indivduo (1,6%) que pelo seu padro comportamental, foi categorizado como no aderente aos tratamentos. A ECA faz uma abordagem s necessidades do tipo universal, tais como: alimentao, eliminao, actividade fsica, sono e repouso, interaco social, preveno de riscos para a sade, promoo do funcionamento e desenvolvimento humano, necessidades relacionadas com o estado de sade da pessoa e do seu tratamento, monitorizao de sinais e sintomas relacionados com a sua sade, adeso ao tratamento farmacolgico e no farmacolgico, entre outras. Os valores da escala podem variar entre 0 e 75 pontos, sendo que, a valores mais altos corresponde maior capacidade de autocuidado. Na nossa amostra variou entre um mnimo de 39 e o mximo de 75, com uma mdia de 63,18 e um desvio padro de 1,0. Pela categorizao proposta por Baquedano (2008), podemos referir que, a maior parte dos indivduos tem muito boa capacidade de autocuidado (75,8%) e 24,2% tem boa capacidade de autocuidado. Para testar a hiptese que afirma a existncia de relao entre a capacidade de autocuidado e a adeso aos tratamentos do indivduo transplantado ao corao, utilizmos o coeficiente de correlao de Spearman (rs; ?=0,05), existindo fortes evidncias estatsticas para afirmar que, a adeso aos tratamentos farmacolgicos est moderada e positivamente correlacionada (rs=0,423; sig.=0.000) com a capacidade de autocuidado, isto , quanto maior a capacidade de autocuidado melhores so os nveis de adeso aos tratamentos. Discusso A realizao de um transplante cardaco implica seguir um tratamento complexo at ao fim da vida da pessoa, com mudanas no estilo de vida que devero ser compatveis com o seu prprio conceito de qualidade de vida. A equipa de sade envolvida no cuidado pessoa transplantada e sua famlia ter que ter este aspecto sempre bem presente, correndo o risco de abandono, total ou parcial, dos tratamentos estabelecidos. A adeso ao regime teraputico um factor susceptvel de se melhorar, indo influenciar positivamente os resultados de sade que se esperam atingir com determinados cuidados ou tratamentos. Relativamente hiptese em estudo, verificmos que existem fortes evidncias estatsticas para afirmar que quanto maior a capacidade de autocuidado, melhores so os nveis de adeso aos tratamentos. Tambm Arias e lvarez (2009), num estudo que efectuaram em doentes com algum factor de risco cardiovascular, concluram que, quando o individuo possui melhor capacidade para se autocuidar, conta com maiores habilidades para aderir aos tratamentos, sejam eles farmacolgicos ou no farmacolgicos. Assim, aos enfermeiros exige-se que utilizem os seus conhecimentos em enfermagem, para fazer um diagnstico dos deficits de autocuidado da pessoa transplantada ao corao e, em conjunto com o indivduo e com a sua famlia, conceptualize um plano de cuidados com as intervenes necessrias de modo a capacit-los para a realizao do autocuidado. Tendo em conta a Teoria do Autocuidado de Orem, consegue-se capacitar a pessoa para o autocuidado, se lhe proporcionarmos informaes relativas aos seus tratamentos e ao prprio transplante, se a instruirmos na manuteno do seu bem-estar fsico (nutrio, actividade fsica, eliminao, repouso) e at no uso de tcnicas de relaxamento, que permitam pessoa sentimentos mais optimistas em relao sua sade. Concluso A adeso aos tratamentos um factor essencial expectativa e qualidade de vida da pessoa transplantada. Ao contribuir para melhorar a capacidade de autocuidado e, por conseguinte, a adeso ao regime teraputico, o enfermeiro estar a contribuir para a reduo do sofrimento dos doentes e dos seus familiares, mas numa perspectiva mais econmica, estar tambm a contribuir para a reduo das necessidades de reinternamentos e da utilizao dos servios de sade, reduzindo assim os custos em sade. Por isso, indispensvel que se melhore as competncias para trabalhar a capacidade de autocuidado da pessoa e da famlia, uma vez que, como verificmos no nosso estudo, estaremos tambm a melhorar a adeso ao regime teraputico. Integrado numa equipa de sade multidisciplinar que tem como foco de ateno a pessoa transplantada ao corao e a sua famlia, o enfermeiro utiliza os seus conhecimentos da sua rea profissional para identificar a capacidade de autocuidado, planeando um conjunto de actividades que tenham como objetivo a sua melhoria. Neste sentido, as intervenes de enfermagem que incentivem o autocuidado da pessoa e da famlia devem ser cada vez mais promovidas, sendo que, os enfermeiros esto na centralidade da resposta s necessidades de autocuidado da pessoa transplantada ao corao.