4 resultados para Língua portuguesa Português falado
em Biblioteca de Teses e Dissertações da USP
Resumo:
Esta tese, com o intuito de contribuir para uma reflexão em torno da história da formação da lÃngua portuguesa no Brasil, propõe como objetivo geral realizar um estudo do léxico no municÃpio de Cáceres-MT, tendo como base a discussão sobre manutenção, tendência à manutenção, desuso, tendência ao desuso e neologismo semântico de unidades lexicais extraÃdas de um manuscrito oitocentista. Os objetivos especÃficos são os seguintes: (i) compreender a história social da Capitania de Mato Grosso e do municÃpio de Cáceres, a partir das informações constantes no manuscrito Memoria, e aspectos que envolvam as condições de produção do documento e a biografia do autor; (ii) levantar o léxico do manuscrito, com recorte nos substantivos e adjetivos para servir de base na seleção das unidades lexicais a serem testadas in loco, e investigar a acepção registrada no documento das unidades lexicais, caracterizando, assim, o léxico do perÃodo oitocentista; (iii), fazer um cotejo lexicográfico abrangendo dicionários gerais dos séculos XVIII ao XXI; (iv) testar e identificar, a partir do corpus oral constituÃdo por meio de pesquisa de campo na região urbana cacerense, o grau de manutenção, tendência à manutenção, desuso, tendência ao desuso e neologismo semântico em relação à s unidades lexicais e suas respectivas acepções registradas no manuscrito. Dessa forma, toma-se como corpus de lÃngua escrita de análise o manuscrito oitocentista Memoria sobre o plano de guerra offensiva e deffensiva da Capitania de Matto Grosso e, a partir das unidades lexicais selecionadas e extraÃdas dele, realizou-se a pesquisa de campo para o recolhimento do corpus de lÃngua oral. Antes dessa recolha, tendo como base teórico-metodológica as disciplinas de Dialetologia e de GeolinguÃstica, selecionou-se a localidade (municÃpio de Cáceres - MT) e os informantes (total de dezesseis); elaborou-se o questionário semântico-lexical, considerando fundamentalmente a proposta apresentada pelo Comitê Nacional do Projeto ALiB (2001); e realizou-se a pesquisa de campo e as transcrições das entrevistas. Para análise de natureza semântico-lexical dos corpora, recorreu aos estudos lexicográficos e lexicológicos. Tomando por base os resultados do estudo realizado, constatou-se que na realidade linguÃstica do informante cacerense encontram-se unidades que já integravam o léxico oitocentista da lÃngua portuguesa escrita no Brasil, ou seja, há uma memória semântico-lexical que se mantém no sistema lexical, provavelmente, devido à s condições sócioculturais do municÃpio de Cáceres, Mato Grosso, cuja população, em grande parte, por quase duzentos anos, viveu na área rural. Todavia, vislumbrou-se um certo equilÃbrio entre a manutenção do léxico oitocentista sem deixar de lado a inovação e o mecanismo polissêmico constitutivo do léxico.
Resumo:
Este estudo é movido pela curiosidade quanto a como se resolvem, nas traduções do italiano para o português, questões de colocação pronominal. Encontramos, normal e frequentemente, na lÃngua italiana, principalmente na lÃngua falada, pronomes cujos equivalentes em português existem em gramáticas normativas da lÃngua portuguesa, mas que, na prática, não são utilizados pelos falantes e escritores brasileiros. Encontramos, também, na lÃngua italiana, um significativo número de verbos pronominais (como esserci, volerci, averne etc.) e um considerável número de verbos pronominais múltiplos (como andarsene, farcela, fregarsene etc.) que, juntamente com esses pronomes, constituem, para os professores brasileiros de italiano lÃngua estrangeira (LE), elementos difÃceis de trabalhar na sala de aula. Além disso, tais elementos também podem dificultar o trabalho dos tradutores, que devem fazer determinadas escolhas ao traduzi-los para o português. Como são traduzidos os pronomes combinados do italiano nas versões brasileiras? Será que os portugueses, que possuem, por exemplo, tais pronomes utilizam-nos em todos os casos em que os encontramos nos textos de partida? E as partÃculas pronominais são simplesmente eliminadas no texto de chegada ou são substituÃdas? Tais aspectos, se observados e organizados, podem levar a uma melhor compreensão das duas lÃnguas em contato e dar subsÃdios a estudantes, professores e tradutores. Pensando nessa dificuldade, esta pesquisa buscou e listou alguns autores e obras disponÃveis para consulta e analisou um corpus com cento e sessenta e três ocorrências de pronomes no italiano, mais sete acréscimos de pronomes no português brasileiro (PB) e/ou português europeu (PE), partindo do romance Uno, nessuno e centomila de Luigi Pirandello e suas respectivas traduções em PB e PE. Nosso objetivo consiste em encontrar respostas úteis à diminuição do estranhamento, por parte de um italiano, que escuta, de um brasileiro, frases sem pronomes (ainda que o italiano as entenda) e/ou a sensação de inadequação e, até mesmo, de desconforto, por parte de um brasileiro, ao produzir frases com todos os pronomes. No corpus analisado, temos uma amostra das escolhas e respectivas traduções propostas pelos tradutores para casos de pronomes reflexivos, de pronomes pessoais do caso reto, de pronomes pessoais do caso oblÃquo, de pronomes combinados e de partÃculas pronominais ne, ci e vi, com manutenções, omissões, trocas por outros pronomes (possessivos, retos, oblÃquos, demonstrativos) e, até mesmo, uma espécie de compensação numérica com a inclusão de palavra inexistente no texto de partida.
Resumo:
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a lÃngua portuguesa nativa e de herança sobreviventes em território fronteiriço de lÃngua oficial espanhola. Como locus de pesquisa selecionamos Olivença, uma cidade da Espanha em que a lÃngua portuguesa se faz em situações especÃficas de uso. A relevância desta pesquisa traduz-se no fato de que espaços fronteiriços mantêm sobrepostas em espaços geográficos contÃguos algumas realidades que se sobrepõem: a realidade da oficialidade linguÃstica e a realidade do sentimento de pertença sociolinguÃstica. Nesta tese, partimos da identificação, em trabalho de campo, da presença da lÃngua portuguesa no território atualmente espanhol (mas historicamente português) e na constatação de que há uma flutuação de identificação-identidade linguÃstica. No espaço geográfico em que fizemos incursão cientÃfica, duas cidades sobrepõem-se historicamente e duas geografias polÃticas, por outro lado, avizinham-se e roçam-se continuamente. Ao tomar contato com essa cidade, hipotetizamos que o sentimento de pertença linguÃstica estaria presente entre os falantes mais velhos, que manteriam a herança de traços lusitanos em sua comunicação, mesmo ao falar o espanhol. A justificativa é que, logo de chegada, já avistáramos recintos comerciais com nomes portugueses e, contrariamente, não ouvÃamos o som lusitano nas ruas. Sabemos que o domÃnio espanhol numa cidade outrora portuguesa tenderia a apagar vestÃgios portugueses. No entanto, em grupos Ãntimos pressupúnhamos o português como lÃngua corrente. Durante o trabalho de campo, identificamos fortes valores culturais sendo empunhados como armas de resistência entre descendentes de portugueses, fazendo correr numa velocidade acentuada a reorganização dos valores lusitanos em redutos da cidade espanhola. Essa força e essa velocidade pareciam ser as molas propulsoras de uma mudança linguÃstica muito sorrateira, que impactava o sentimento de unidade de um segmento social da comunidade sociolinguÃstica. Isso nos inspirou a dar um passo investigativo seguinte em direção aos mais jovens, que tinham o espanhol como lÃngua materna, mas tinham o português como lÃngua de herança. À pergunta central sobre a força do português como lÃngua de herança buscamos respostas por meio de duas outras questões mais indiretas feitas aos sujeitos entrevistados: será que os mais jovens percebiam-se como portugueses? será que os elementos culturais lusitanos presentes nas ruas eram reconhecidos como vinculados à lÃngua de herança? Foi assim que passamos a recolher pistas sobre os traços de resiliência do português como lÃngua incrustada na região espanhola de Olivença.
Resumo:
Esse trabalho tem por objetivo analisar comparativamente o espaço nas obras Luuanda, do escritor angolano de lÃngua portuguesa Luandino Vieira, e Texaco, do escritor martinicano de lÃngua francesa Patrick Chamoiseau. Para esse fim, partimos do pressuposto que, como se pode observar a partir de seus tÃtulos, os protagonistas das narrativas são os espaços: os musseques luandenses e a favela martinicana, chamada bairro Texaco. Eles configuram os tempos, os narradores, os personagens e os enredos. E configuram, sobretudo, uma linguagem literária que subverte as lÃnguas dominantes o português e o francês incorporando aos textos as lÃnguas dominadas: o quimbundo angolano e o crioulo martinicano. Vemos, portanto, a partir dos espaços analisados nas narrativas que a história oficial é contestada e reescrita pelos autores e, em seu lugar, temos as histórias dos vencidos que nunca se calaram, que resistiram à s invasões, à s dominações, à s assimilações e procuram sobreviver. Verificamos, pois, que o modo de sobrevivência, nas obras, é pela ocupação e subversão dos espaços e pela subversão da forma de narrar.