1 resultado para Judeus História Até 70
em Repositório Aberto da Universidade Aberta de Portugal
Resumo:
Esta obra trata da sucesso cultural registada na Estremadura portuguesa desde a emergncia das sociedades complexas do Calcoltico até chegada dos Romanos, correspondendo a um lapso de tempo entre os finais do IV milnio e os finais do sculo II a.C. Embora corresponda apenas a intervalo temporal de aproximadamente trs mil anos, o que, no registo material da nossa Pr-História e Proto-História, se afigura mais rico e diversificado de informao, com o desenvolvimento e fixao de regionalismos culturais, que na Estremadura cunharam identidades prprias, as quais persistiram nalguns casos até poca recente, no quotidiano dos seus habitantes. A percepo geral desta evoluo, bem como as suas determinantes, o primeiro, e talvez mais importante objectivo desta obra, a par de outros a seguir enunciados: a gnese dos povoados fortificados calcolticos, em resultado da crescente intensificao econmica e da especializao das produes a Revoluo dos Produtos Secundrios (RPS), que decorreu ao longo de boa parte do III milnio a.C. a par do crescimento demogrfico, que determinou, por seu turno, a competio inter-grupos, com a consequente necessidade de fortificao; a monumentalizao / fortificao de alguns dos stios habitados como expresso da coeso social da respectiva comunidade, acompanhada da emergncia de diferenciaes inter e intra-comunitrias, indcio de diferenciao social, em crescente afirmao, decorrente do processo de desenvolvimento econmico complexo, caracterstico do Calcoltico; as arquitecturas defensivas do III milnio a.C., como expresso pblica indissocivel da monumentalizao acima referida: exemplos mais importantes no territrio estremenho, distribuio geogrfica, caractersticas principais, semelhanas e diferenas; neste mbito, importa conhecer as diversas teorias explicativas para o seu surgimento, desde o modelo difusionista e orientalista vigente em Portugal (dos anos 40 aos anos 70), passando pelo modelo indigenista (anos 80), até s formas difusionistas mitigadas, de expresso regional, dos finais da dcada de 80 em diante, e principais argumentos invocados; a desarticulao do modelo de sociedade calcoltica, caracterizada pela concentrao da populao em stios fortificados ou pelo menos implantados predominantemente em locais altos e defensveis; os moldes em que se processou a acentuao das influncias mediterrneas no decurso do Calcoltico (em especial na metade meridional do territrio): a generalizao do comrcio transregional calcoltico e a intensificao e especializao das produes, no quadro da Revoluo dos Produtos Secundrios (RPS), exemplificada pela explorao de jazidas cuprferas, como veculo de difuso de novas tcnicas (metalurgia), matérias-primas exgenas (marfim) e artefactos ideotcnicos de caractersticas até ento desconhecidas (generalizao do culto da divindade feminina e correspondentes expresses simblicas, algumas de mbito estritamente regional), acompanhada da difuso, de Sul para Norte, de novas arquitecturas funerrias (tholoi); sobre o Campaniforme, fenmeno cultural com identidade prpria da fase mdia e tardia do Calcoltico estremenho, sero discutidas as caractersticas e cronologia da sua emergncia, na Estremadura (um dos plos mais importantes, a nvel europeu) no quadro da sociedade calcoltica pr-existente: tipo de povoamento e de necrpoles, bem como as relaes estabelecidas com as comunidades de tradio cultural mais antiga; o faseamento interno do fenmeno, com base nas diferenas identificadas no registo material (em particular a tipologia das cermicas); e principais tipos artefactuais que o integram. O campaniforme dever ser entendido como uma expresso material especfica, associada a um novo tipo de povoamento, que resultou do decrscimo do interesse oferecido pelos stios fortificados edificados no incio do Calcoltico. Neste sentido, corresponde a perodo de transio para a Idade do Bronze: existem argumentos, com base no registo arqueolgico (jias de ouro, artefactos de prestgio) que ilustram o incremento do processo de diferenciao social, ento verificado, ao contrrio do que uma abordagem mais superficial, com base simplesmente no reordenamento demogrfico, faria supor; o registo arqueolgico do Bronze Pleno configura a acentuao dos regionalismos, apesar de similitudes do sistema de povoamento face ao perodo imediatamente anterior, o que indicia realidades socioeconmicas comparveis. Importa, assim, conhecer as principais caractersticas dos escassos povoados identificados, bem como a organizao social a ele subjacente, a partir dos testemunhos arqueolgicos conhecidos, incluindo os de carcter funerrio; segue-se o Bronze Final, perodo dominado pela plena afirmao do comrcio transregional atlntico-mediterrneo, favorecido pela prpria realidade geogrfica do territrio portugus. Devem valorizar-se os testemunhos materiais desse perodo e as respectivas balizas cronolgicas: Assim, devero os leitores ficar familiarizados com as produes de carcter atlntico, como as armas, objectos utilitrios e respectivas tipologias e com as de cunho mediterrneo (com destaque para objectos de indumentria e de carcter cultual, embora estes ltimos quase se desconheam na rea estremenha), cujo comrcio e difuso foi suportado pela existncia de solidariedades econmicas transregionais, baseadas em provveis pactos formalmente estabelecidos entre comunidades vizinhas. Os respectivos territrios, de norte a sul do Pas, apresentar-se-iam cada vez melhor delimitados; o mesmo dever ter-se verificado na Estremadura. A caracterizao da respectiva economia ser, por isso, objecto da anlise e discusso; embora de base agro-pastoril (com importncia evidente na Estremadura dadas as caractersticas dos solos e a quase inexistncia de minrios de cobre ou de estanho), a produo de peas metlicas de bronze assumiu importncia crescente, como se conclui pelas ocorrncias conhecidas. O reforo e a consolidao das elites ento verificada, eram necessrios para a boa gesto de grandes povoados muralhados que despontam no Bronze Final; na Estremadura, embora os testemunhos de tais centros demogrficos no sejam particularmente evidentes, no fim da Idade do Bronze desponta um vigoroso povoamento de altura; seria a partir desses locais que as elites da poca, de cunho guerreiro, administrariam territrios bem delimitados. Tambm a existncia de outros testemunhos arqueolgicos so concorrentes para a percepo da realidade social: as jias aurferas, tornadas ento relativamente frequentes, deixam transparecer influncias ora atlnticas ora mediterrneas, por vezes reunidas numa nica pea (tcnicas e tipologias decorativas), expressivas das correntes culturais que, ento, se faziam sentir na Estremadura; tambm as armas, so testemunho da afirmao das elites guerreiras, encontrando-se representadas por exemplares cujas principais caractersticas devem ser conhecidas. As diversas prticas funerrias, apesar de escassamente representadas, revelam influncias continentais (cremao e campos de urnas, j fora da rea estremenha, mas dela prxima: caso dos campos de urnas de Tanchoal e de Meijo, Alpiara) e mediterrneas (inumaes na tholos da Roa do Casal do Meio, Sesimbra), que traduzem um mosaico cultural complexo, reforando a ideia de se tratar de regio receptora de influxos culturais de diversas reas geogrficas em simultneo: , no essencial, a comprenso global desta realidade, a um tempo econmica, social e cultural, coroando um longo processo de diferenciao social, por um lado e, por outro, de intensificao econmica e interaco cultural, que lhe est subjacente, que dever ter-se presente. Por ltimo, segue-se o estudo e caracterizao das principais estaes e materiais da Idade do Ferro, de incio (I Idade do Ferro) profundamente marcadas pela presena, directa ou indirecta, de colonizadores fencios; depois, pelos comerciantes de origem pnica (II Idade do Ferro) e, enfim, pelos exrcitos itlicos. Trata-se, em suma, de processo de caractersticas prprias, sempre determinado pelas influncias mediterrneas, largamente dominantes face s originrias do interior peninsular, as quais cunharam uma realidade cultural com caractersticas prprias, que persistiu no decurso da dominao romana.