17 resultados para Teatro(Literatura)
Resumo:
Enquanto objetivação estética de reflexões e indagações identitárias, aos diferentes níveis individual, social, político ou cultural, o retrato constitui-se como género artístico conhecedor de um notável florescimento no mundo ocidental a partir da Renascença, coincidindo com a aquisição de uma importante autoconsciência sócio-profissional por parte dos artistas e com a possibilidade do acesso à autoridade e à exemplaridade da imagem por parte de camadas cada vez mais amplas da população. Concebível segundo tipologias diversas e assumindo funções díspares, o retrato revelou-se surpreendentemente transversal a múltiplas linguagens artísticas, desde a pintura e a escultura à medalhística, às artes decorativas, à fotografia ou às mais recentes produções digitais e intermediais, estendendo-se ainda, enquanto categoria genológica, à literatura onde toma expressão nas descrições de figura – particularmente no que toca uma longa tradição de representação poético-retórica da beleza feminina – ou se avizinha das escritas intimistas e (auto)biográficas com as quais se delineiam fronteiras nem sempre rigorosamente nítidas. É nosso propósito recensear alguns dos mais relevantes estudos teóricos desenvolvidos em Portugal em torno da arte do retrato de acordo com uma perspetiva desejavelmente abrangente, atenta a contribuições teórico-críticas em torno do retrato nas artes plásticas e também do retrato literário e poético. Para o efeito, ensaiaremos alguns comentários preliminares sobre oscilações na concetualização do que possa ser um ‘retrato’ e correlatas vacilações nas respetivas propostas definidoras.
Resumo:
A aplicação ao caso literário do termo e do conceito de retrato, aqui incluindo a espécie mais tardia do autorretrato, não é hoje fluente, apesar da reconhecida permeabilidade do género a inúmeras linguagens artísticas e apesar de uma longa tradição de descrições de figura – particularmente no que toca a representação poético-retórica da beleza feminina – que recua à poesia clássica. Partindo de uma possível distinção entre autorretrato literário e variantes várias de escritas intimistas e autobiográficas com as quais delineia fronteiras nem sempre rigorosamente nítidas, é nosso propósito ilustrar, recorrendo a casos selecionados, modos de concretização verbal de autorretrato que se distanciam progressivamente de um paradigma representativo fundado na perceção e na semelhança, aproximando-se ao contrário de registos de rasura, apagamento, ruína, cegueira que questionam uma noção de identidade estabilizável em imagem (visual ou mental), encaminhando o gesto autorrepresentativo para uma meditação sobre a diferença e sobre o irreconhecimento; no limite, para uma condição fora do visível e porventura, arriscando os seus mais básicos pressupostos, para lá da representação.