Redefinição de uma metodologia de projecto à luz de uma estrutura fenomenológica

Dissertação de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura, apresentada na Universidade de Lisboa - Faculdade de Arquitectura.

A arquitetura possui três dimensões de significação: a retórica, a semiótica e a poética. A semiótica é formada pelos sistemas de significação em que está inserido um objeto arquitetónico, ou seja, pelos «signos» desse objeto e como eles são interpretados pela sociedade. A poética introduz as variáveis, impulsionando a vanguarda e a mudança da própria sociedade. A retórica é a argumentação que confere sentido. Quando o arquitecto assume as suas responsabilidades sociais, a retórica possui conteúdo e torna-se eficaz. A retórica é destituída de conteúdo quando a arquitetura está inserida numa sociedade cujo governo é despótico. A relação entre uma retórica social e o desenho arquitetónico impulsionou o Movimento Moderno. Esta crença numa sociedade nova adquiriu um caráter concreto no Renascimento e tornou-se móbil da poética do Iluminismo, tendo atingido o seu ápice com o Movimento Moderno. Após este momento de plena realização essa retórica social perdeu o seu vigor e deu lugar a uma crise de valores na década de 1960, que ainda hoje se mantém. A «doutrina social» parece ter perdido o sentido, mas a sua ausência demonstra o quanto é determinante para que o campo da arquitetura preserve a sua autonomia perante o aparelho ideológico do Estado. O presente estudo tem por objetivo aprofundar a relação entre a existência de uma retórica social e a autonomia/ heteronomia da arquitetura, analisando as instituições do campo da arquitetura (de ensino e de regulação da práxis) e a sua relação com o aparelho ideológico do Estado, tanto ao nível da semiótica, como da retórica e da poética.

ABSTRACT: The architecture has three signifying dimensions: rhetoric, semiotics and poetics. Semiotics is formed by systems of meaning in which it is inserted the architectural object, that is, the «signs» of this object and how they are interpreted by the society. The poetic introduces variables, drives the vanguard and introduces change in society. Rhetoric is the argument that confers meaning. When the architect assumes its social responsibilities, the rhetoric has content and becomes effective. The rhetoric is devoid of content when the architecture is inserted in a society whose government is despotic. The relationship between rhetoric and social architectural design boosted the Modern Movement. This belief in a society acquired a new concrete character in the Renaissance and became motive of the poetics of the Enlightenment, reaching its apex with the Modern Movement. After this moment of full realization, that social rhetoric has lost its vigor and gave rise to a crisis of values in the 1960s, which still remains today. The «social doctrine» seems to have lost direction, but its absence demonstrates just how much it is crucial in order to preserve the autonomy of architecture before the ideological apparatus of the state. The present study aims to deepen the relationship between the existence of a social rhetoric and autonomy / heteronomy of architecture, analyzing institutions from the field of architecture (education and regulation of praxis) and its relationship with the ideological apparatus of the state, as much at the level of semiotics, as of the rhetoric and poetics.