A identidade regional na imprensa de proximidade beirã. Dois periódicos viseenses de 1959 a 2011.
Contribuinte(s) |
Camponez, Carlos Martins, Rui Cunha |
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Data(s) |
31/10/2016
31/10/2016
11/04/2016
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Resumo |
Os contornos de um mundo em mudança e a evolução do pensamento há muito que se afastaram dos conceitos de identidades unas e imutáveis. A própria aceitação da mutabilidade traduz-se também nos cenários das vastas possibilidades para os fenómenos identitários à escala global. Também por isso, e mais do que nunca, se revela preponderante a reflexão sobre tais fenómenos identitários e a compreensão da sua intervenção e pertinência nas constantes reconfigurações sociais da atualidade. Esse será o universo do presente trabalho, onde serão auscultadas atuais conceções identitárias e o seu lugar no caso português. Este estudo configura-se, portanto, a partir de objetivos centrais bem delimitados: identificar e caracterizar a eventual existência de identidades regionais em Portugal, no caso particular dos territórios associados a Viseu. Este ponto de partida surge da análise da frequente cartografia das identidades territoriais na realidade portuguesa, bem como da continuidade de anteriores estudos do autor. Com efeito, verifica-se que frequentemente se definem duas grandes tipologias identitárias no que concerne à relação com o território: a local e a nacional. Tal posição surge em aberta contradição com os discursos mediáticos recorrentes onde a constante presença de um discurso de matriz regional obriga à dúvida inevitável. Nesse sentido, falando-se de região, foi necessário percorrer os conceitos de limite e de fronteira que a delimitam e lhe conferem sentido, indagando-se sobre o lugar da sua criação e da sua vivência. Assim, o trabalho orientou-se em dois grandes sentidos iniciais: o do levantamento da ação delimitadora do Estado, tido como autor das demarcações regionais em Portugal e o da auscultação da produção discursiva dos media regionais, agentes e expressão da identidade regional. A segunda dimensão obrigaria a um estudo aturado sobre a imprensa regional, objeto essencial do presente trabalho e a partir do qual será possível alcançar conclusões validáveis para o período entre 1959 e 2011. É então pelo cruzamento das duas dimensões referidas que se surpreende a existência de traços identitários regionais bem vincados, profundamente arreigados ao discurso do Estado Novo, raramente correspondendo aos intentos de delimitação das sucessivas iniciativas governamentais posteriores que, desse modo, revelam também um profundo distanciamento desse território que insistentemente vão dividindo. Entre o discurso eivado de simbolismo – embora centralista – do Estado Novo e as denominações técnicas – embora com o propósito de promover a descentralização do poder – da democracia, o discurso identitário da imprensa regional de Viseu alimenta-se ainda hoje do primeiro. Não porque vise os seus objetivos, mas porque é o que melhor caracteriza uma identidade relativamente pacificada: sempre pronta a recorrer ao passado beirão para afirmar as suas diferenças, sem no entanto pôr em causa o espírito da Nação; sempre pronta a denunciar o centralismo de Lisboa, esquecendo embora que foi esse centralismo que outrora lhe atribuiu a característica da genuinidade de, o que quer que seja, ser português. The shapes of a changing world and the evolution of thought have long moved away from the concepts of singular and immutable identities. The acceptance of the mutability also finds expression in scenarios of vast possibilities for identity phenomena on a global scale. More than ever, the reflection about such identity phenomena, the understanding of their intervention and relevance in today's constant social reconfigurations is paramount. This will be the focus of this study where current conceptions of identity and its place in the Portuguese case will be closely examined. This study sets well-defined core objectives: to identify and characterize the possible existence of regional identities in Portugal, in particular the territories associated to Viseu. This starting point emerges from the analysis of frequent cartography of the territorial identities in the Portuguese reality as well as the continuity of previous studies by the author. Furthermore, it often appears that there are defined two major types of identities in regards to the relationship with the territory: local and national. Such position arises in open contradiction to the reoccurring speeches in the limelight, where a constant presence of a speech of regional character brings inevitable doubt. It was necessary to follow through the concepts of limits and boundaries, which confine and give it a meaning, inquiring about the place of their creation and experience. Therefore, this work followed two prominent directions: the study of the confining action of the state, which is seen as the author of the regional boundaries in Portugal and the study of the discursive production of regional media, agents and expression of regional identity. The second dimension would require a rigorous study on the regional press, essential object of this work and from which it is possible to achieve valid conclusions for the period between 1959 and 2011. The crossing of these two dimensions allowed us to understand the existence of regional identity features being sharply enforced and deeply entrenched to the Estado Novo speech. These features rarely did correspond to the delimitate attempts of the subsequent successive government initiatives and thus reveal their profound detachment of that territory, which is continually being divided by them. Between the riddled with symbolism – although centralist – Estado Novo speech and the technical denominations - albeit with the aim of promoting the power decentralization – of democracy, the identity speech in today's Viseu regional press still feeds on the first. Not because they share the same goals, but because it is what best characterizes a relatively pacified identity: always ready to use the "beirão" heritage to state their differences, although the spirit of the nation has never called into question; always ready to denounce the Lisbon centralism, even though forgetting that this centralism was the one that once gave them the genuineness feature of, whatever it is, being Portuguese. |
Identificador | |
Idioma(s) |
por |
Direitos |
openAccess |
Palavras-Chave | #Identidades #Imprensa Regional #Estado Novo e Democracia #Regionalização e Centralização #Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Ciências da Comunicação |
Tipo |
doctoralThesis |