A primeira dança : o papel da intersubjectividade na interacção mãe-bebé

Tese de doutoramento, Psicologia (Psicologia Clínica), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2016

Introdução - A intersubjectividade é um conceito fundamental na relação mãe-bebé, sendo geralmente estudada do ponto de vista comportamental. A intersubjectividade é uma construção de dois autores, a mãe e o bebé, permitindo que ambos tenham acesso ao mundo interno um do outro. Pela sua importância, a intersubjectividade tem repercussões específicas na qualidade do desenvolvimento tanto daquele que cresce, o bebé, quer no desenvolvimento daquela que faz crescer, a mãe. Objectivos - Estudar a percepção materna da participação do bebé na intersubjectividade que ocorre na relação precoce. Hipótese Geral - A percepção materna da intersubjectividade dá uma contribuição significativa para a explicação da variância estatística das seguintes variáveis: vinculação materna pós-natal, estados emocionais maternos, qualidade da participação materna na interacção mãe-bebé, qualidade da participação do bebé na interacção precoce, percepção materna do apoio social e investimento parental na criança. Instrumentos - Questionário Sociodemográfico e Clínico; Inventário da Percepção Materna da Intersubjectividade do Bebé na Relação Precoce (IPMIBRP; Carrulo & Justo, 2014); Escala de Vinculação Materna Pós-Natal (EVMPN; Condon & Corkindale, 1998; versão Portuguesa de Carrulo & Justo, 2012); Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS; Lovibond & Lovibond, 1995; versão Portuguesa de Pais-Ribeiro, Honrado & Leal, 2004); Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS; Pais-Ribeiro, 1999b), Escalas da Avaliação da Interacção Mãe-Bebé (Field, 1980; versão Portuguesa de Figueiredo & Dias, 2013); Escala de Investimento Parental na Criança (Bradley, Whiteside-Mansell, Brisby & Caldwell, 1997; versão Portuguesa de Gameiro, Martinho, Canavarro & Moura-Ramos, 2008). Participantes - Na adaptação da EVMPN participaram mães (N = 233) de bebés no primeiro ano de vida. Para a criação do IPMIBRP, mães de bebés no primeiro ano de vida participaram num grupo de focos e em entrevistas semiestruturadas. Para uma primeira análise do instrumento, recrutaram-se 62 mães. Numa fase final, participaram (N = 125) mães de bebés com idades compreendidas entre 2 e 9 meses. Para a testagem das hipóteses específicas, foram utilizados os protocolos da amostra de 125 mães. Especificamente para a testagem das hipóteses específicas relacionadas com a qualidade da participação materna e do bebé na interacção precoce, foram recrutadas 61 díades mãe-bebé (entre 2 e 9 meses de idade). Resultados - A percepção materna da intersubjectividade consegue oferecer contributos significativos para a explicação de: a) algumas dimensões da vinculação materna pós-natal; b) algumas dimensões dos estados emocionais maternos; c) apenas uma das dimensões da percepção materna do apoio social e d) todas as dimensões do investimento parental na criança. Pelo contrário, a percepção materna da intersubjectividade não consegue oferecer contributos significativos para a explicação da qualidade da participação materna na interacção mãe-bebé nem para a explicação da participação do bebé na interacção precoce. Conclusão – A percepção materna da intersubjectividade do bebé é um conceito prometedor, no contexto da psicologia da maternidade. No entanto, precisa de ser reavaliado no contexto da interacção precoce de forma a melhorar a sua utilidade preditiva e psicométrica.

Introduction - Intersubjectivity is a fundamental concept in mother-infant relationships, usually studied from a behavioral perspective. Intersubjectivity is a construction of two authors, the mother and the baby, allowing both to have access to each other’s inner world. Because of its importance, intersubjectivity induces specific consequences in the quality of development of the one that grows, the baby, and in the development of the one who cares about the growing of the first, the mother. Goals - To study maternal perception of infant participation in intersubjectivity occurring in early relationships. General Hypothesis - Maternal perception of intersubjectivity gives a significant contribution to the explanation of the statistical variance of the following variables: post-natal maternal attachment, maternal emotional states, quality of maternal participation in the mother-baby interaction, quality of baby’s participation in early relationships, maternal perception of social support and parental investment in children. Instruments - Sociodemographic and Clinical Questionnaire; Maternal Percepction of Baby’s Intersubjectivity in Early Relationships (MPBIER; Carrulo & Justo, 2014); Maternal Postnatal Attachment Scale (MPAS; Condon & Corkindale, 1998; Portuguese version of Carrulo & Justo, 2012); Depression, Anxiety and Stress Scales (DASS; Lovibond & Lovibond, 1995; Portuguese version of Pais-Ribeiro, Honrado & Leal, 2004); Satisfaction with Social Support Scale (SSSS, Pais-Ribeiro, 1999b), Interaction Rating Scales (IRS, 1980; Portuguese version of Figueiredo & Dias, 2013); Parental Investment in Children (Bradley, Whiteside-Mansell, Brisby & Caldwell, 1997; Portuguese version of Gameiro, Martin, Canavarro & Moura-Ramos, 2008). Participants – Mothers (N = 233) of infants in the first year of life participated in the adaptation of MPAS. For the creation of MPBIER, mothers of babies in the first year of life participated in a focus group and in semi-structured interviews. For the first analysis of the instrument, 62 mothers were recruited. Mothers (N = 125) of infants aged between 2 and 9 months participated in the final stage. Testing specific hypotheses, the protocols of the sample with 125 mothers were used. Specifically for testing specific hypotheses related with the quality of maternal participation and with baby’s participation in early interactions, 61 mother-infant dyads (between 2 and 9 months old) were recruited. Results - Maternal perception of intersubjectivity offers significant contributions to the explanation of: a) some dimensions of postnatal maternal attachment; b) some dimensions of maternal emotional states; c) only one of the dimensions of maternal perception of social support and d) all dimensions of parental investment in children. On the contrary, maternal perception of intersubjectivity does not offers significant contributions to the explanation of the quality of maternal participation in the mother-baby interaction or to explain the baby's participation in early interaction. Conclusion – Maternal perception of baby’s intersubjectivity is a promising concept in the context of psychology of maternity. But, it need to be reassessed in the early relationship context to improve its psychometric and predictive use.