Estratégia de vacinação para eliminar o sarampo : um estudo sero-epidemiológico em diferentes populações vacinais


Autoria(s): Frade, João Manuel Graça
Contribuinte(s)

Nunes, Carla

Gonçalves, Guilherme

Data(s)

12/03/2015

12/03/2015

2014

Resumo

RESUMO - Introdução: As alterações epidemiológicas do sarampo em Portugal, assim como a existência de surtos de doença na Europa e noutras regiões do mundo, associadas ao facto de a informação sero epidemiológica atualizada ser escassa e pontual, e nem sempre estar relacionada com o estado vacinal, dificultam a tomada de decisões fundamentadas na área da vacinação, nomeadamente no que respeita às idades ótimas para a administração de VASPR I e VASPR II. Este estudo pretende avaliar a adequação da estratégia vacinal contra o sarampo vigente em Portugal, no que diz respeito às idades para realização da VASPR I e da VASPR II, no sentido de dar continuidade ao cumprimento do objetivo de eliminar a doença em território nacional. Material e métodos: Foi realizado um estudo com 206 recém-nascidos filhos de mães com diferentes estados vacinais contra o sarampo (0 doses, 1 dose e 2 doses). Também foram estudados 186 adolescentes/jovens que realizaram a VASPR II em diferentes idades. Os dados obtidos provêm de 3 fontes de informação: história vacinal documentada; questionários aplicados por entrevista e informação serológica. A informação serológica foi obtida através do doseamento do título de anticorpos específicos antissarampo (ATS IgG) em soros, recorrendo ao método imunoenzimático ELISA do kit Enzygnost® Anti-measles Virus/IgG, do fabricante Siemens. Resultados: A taxa de cobertura vacinal da vacina contra o sarampo aumentou de valores de pouco mais de 30% na geração nascida antes de 1977, com uma única dose de vacina, para valores superiores a 95 % na geração nascida depois de 1993, com duas doses de vacina. A concentração geométrica de ATS IgG no sangue do cordão umbilical aumentou com o aumento da idade da mãe (r2 = 0,092; p = 0,001). Os recém-nascidos filhos de mães vacinadas, apresentam menor quantidade de ATS IgG do que os filhos de mães não vacinadas (p < 0,0001), independentemente do número de doses que as suas mães tenham recebido (p = 0,222). A concentração geométrica média (CGM) de ATS IgG nos jovens e adolescentes diminui com o tempo decorrido desde a toma de VASPR II (r2 = 0,244; p = 0,001). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a média de ATS IgG dos indivíduos que se vacinaram com VASPR II aos 5-6 anos de idade e os que se vacinaram entre os 10-13 anos de idade (p = 0,301). Após 9 anos de VASPR II mais de 5 % dos indivíduos já não estão seropositivos contra o sarampo.Discussão: A CGM de ATS IgG aumentou com a idade da mãe, provavelmente porque as mães pertencentes às gerações mais novas contactaram menos com o vírus selvagem do sarampo, devido aos efeitos das elevadas taxas de cobertura vacinal. Os recém-nascidos filhos das mães mais novas, apesar de apresentarem menor CGM de ATS IgG, ao final de 12 meses de idade poderão ainda apresentar um teor de ATS IgG que pode interferir com a resposta vacinal à VASPR I. Vacinar com VASPR II aos 5-6 anos de idade ou vacinar entre os 10-13 anos parece ser indiferente o que parece relevante é o tempo que passa desde a última vacinação VASPR II. Nove anos depois de VASPR II a percentagem de seronegativos já ultrapassa os 5% recomendados pela OMS. Conclusão: As idades da toma de VASPR I e VASPR II poderão ter de ser alteradas por forma a adequarem-se às mudanças epidemiológicas ocorridas nos últimos anos em Portugal e contribuírem para a eliminação do sarampo no país.

ABSTRACT - Introduction: The epidemiological variations of measles in Portugal, along with the outbreaks recently registered in Europe, and in other world regions, associated with the fact that updated seroepidemiological information is generally scarce and punctual and sometimes unrelated to vaccination status, makes difficult to take grounded decisions, in what regards vaccination, particularly in what respects the optimal age for administering MMR I and MMR II. This study aims to assess the adequacy of the vaccination strategy against measles practiced in Portugal, regarding the ages for administrating MMR I and MMR II, in order to efficiently continue to meet the goal of eliminating measles in Portugal. Material and methods: We have conducted a study on a sample of 206 infants born to mothers with different vaccination status (0 doses, 1 dose and 2 doses), and on a sample of 186 adolescents/young people who were submitted to MMR II administration, at different ages. Data were obtained from different sources, namely, from documented vaccination history; from questionnaires applied during individual interviews and from serological analysis. Serological information was obtained through the determination of specific antibody titers against measles (ATS IgG) in sera, using the ELISA immunoassay method: measles-Anti Virus IgG kit Enzygnost ®, manufactured by Siemens. Results: The rate of vaccination coverage of the measles vaccine increased from values of just over 30% in the generation born before 1977 (submitted to a single dose of vaccine), to values greater than 95%, for the generation born after 1993 (submitted to two doses of vaccine). The geometrical concentration of IgG antibodies in the ATS cord blood increases with increasing maternal age (r2= 0.092, p = 0.001). Infants born to vaccinated mothers had lower amount of ATS IgGs, than children of not vaccinated mothers (p <0.0001), regardless of the number of doses that their mothers have received (p = 0.222). The geometric mean concentration (GMC) of IgG ATS in young adolescents decreased with the elapsed time from the last MMR II taken (r2 = 0.244; p = 0.001). No statistically significant differences were found between the mean IgG ATS of individuals who had been vaccinated with MMR II at 5-6 years of age, and those who had been vaccinated at 10-13 years of age (p = 0.301). After 9 years of MMR II administration, more than 5% of the individuals were not seropositive for measles. Discussion: CGM ATS IgG increased with the age of the mother, probably because mothers belonging to younger generations contacted less with the wild measles virus, due to the effects of high rates of vaccination coverage. Moreover, the newborns of younger mothers, despite their lower CGM ATS IgG at 12 months of age, may also have an ATS IgG content that may interfere with the response to the MMR I vaccine. To vaccinate with MMR II at 5-6 years of age, or vaccinate between 10-13 years seems to be indifferent. What seems to be relevant is the time that passes upon the last vaccination with MMR II. We have found that after nine years upon taking MMR II, the percentage of seronegatives already exceeds the 5% recommended by WHO. Conclusion: The results suggests that the ages for MMR I and MMR II administration may have to be changed in order to suit up the epidemiological changes register in recent years in Portugal, and to contribute to the elimination of measles in Portugal.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/14482

101367295

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Tipo

doctoralThesis