A Igreja de São Martinho de Sintra. Reconstrução pombalina de um templo evocativo de duas vitórias da cristandade?


Autoria(s): Fernandes, Pedro Luís Gaurim
Data(s)

27/09/2012

27/09/2012

01/03/2012

Resumo

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História da Arte Moderna

Palavras-chave: Igreja, São Martinho, Sintra, Arquitectura laudatória, Arqueologia, Reconquista, Românico, Gótico, Renascimento, Familia Castro, Cerco de Díu, Goa, Triunfo Romano, Terramoto de 1755, Mateus Vicente de Oliveira. A Igreja de São Martinho de Sintra faz parte de um tecido urbano classificado desde 1995 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, na categoria de Paisagem Cultural. Partindo do templo actual, resultado da reconstrução pombalina, após o terramoto de 1755, percorremos quase 800 anos de História, passando pelo templo românico, gótico, renascentista, barroco e neoclássico. Esta reconstrução recente do templo, contemporânea do início do romantismo europeu, fez com que fosse ignorado pelos viajantes românticos e posteriores que estiveram em Sintra. Também a Historiografia da Arte portuguesa subvalorizou o monumento, comparativamente a outros domínios da arte sintrense, sendo total a ausência de uma fortuna crítica a seu respeito. O edifício actual é da autoria dos arquitectos Mateus Fernandes de Freitas e Mateus Vicente de Oliveira. Este último, arquitecto de corte com intervenção no Convento de Mafra, imprimiu-lhe um ar cortesão, em particular no interior, onde predomina a pintura a fresco e a talha, de tons verdes, rosas e dourados ao gosto rococó, mas com depuração de formas bastante neoclássica. Em 1989 realizaram-se obras de beneficiação, que puseram a descoberto alguns elementos de arquitetura. Associados ao estudo das marcas de cantaria, tais elementos permitiram desvendar as configurações da igreja românica e gótica, compreender melhor a igreja renascentista e a sua origem enquanto igreja fortaleza. Uma igreja ligada à Reconquista, e ao poder cristão mediante a fachada de torre; e uma fachada quinhentista em arco triunfal, relacionada com a iniciativa da família Castro, podendo ser uma arquitecura laudatória da vitória do Segundo Cerco de Díu, na véspera de São Martinho, em 1546. A existência de uma grande torre, de caráter defensivo, além de servir de campanário na fachada, está relacionada com as igrejas-fortaleza medievais em Portugal. O seu protótipo regional encontra-se na primitiva igreja de São Vicente de Fora, construída por D. Afonso Henriques para celebrar a conquista de Lisboa e em louvor do mártir São Vicente, seu patrono. A construção da Igreja gótica terá sido semelhante à Igreja de Santa Maria de Sintra, que, estando muito próxima, revela contaminação de modelos. Pelas evidências arqueológicas, o edifício passou da nave única românica, a ter três naves. A esta se acrescentaram as campanhas tardo-góticas manuelinas, como a da abóbada da capela-mor, certamente em paralelo com obras de beneficiação do Paço da Vila, levadas a cabo pelo rei D. Manuel I. Por fim, a igreja renascentista afirma-se pela arquitectura chã, pela serliana e pela estrutura do corpo da fachada, com desenho de arco triunfal. Situando cronologicamente este tipo de arquitetura nas décadas compreendidas entre 1550 e 1580, ano em que Portugal passa ao domínio espanhol, encontrámos as figuras de D. João de Castro, quarto vice-rei da Índia e do seu filho D. Álvaro de Castro. Este último, ligado a obras de mecenato em Sintra e arredores, pode verosimilmente ter sido o patrocinador desta realização, exaltando a fama da família, a memória da vitória da Cristandade: a vitória do segundo cerco de Díu e a entrada principal em Goa, a Roma do Oriente.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/7912

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

openAccess

Tipo

masterThesis