Outro Género de Corpos. O materialismo tecnológico fisicalista de Beatriz Preciado


Autoria(s): Rocha, Anabela Ribeiro Pinto da
Data(s)

04/09/2012

04/09/2012

01/03/2012

Resumo

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Filosofia Contemporânea

Esta dissertação centrar-se-á na forma como a questão da corporalidade se complexifica pela oferta de cada vez mais recursos técnicos que permitem pensar o género (nele incluído o sexo enquanto conjunto de significantes anatomo-fisiológicos) como algo construído e não uma natureza dada. Esta concepção não é nova mas as reflexões produzidas por estes novos corpos criticam a falta de enraízamento material e tecnológico das concepções filosóficas dominantes sobre género, nomeadamente a de Judith Butler. O Manifeste Contra-Sexuel de Beatriz Preciado tem a particularidade de levar em consideração estas novas vozes e de tentar construir uma filosofia da corporalidade que as escute e dissemine (daí tratar-se dum manifesto); para o fazer dialoga não só com uma série de práticas tecnocientíficas, como também grupais e artísticas, convocando para isso instrumentos conceptuais que provém de tradições filosóficas continentais e anglo-saxónicas. Preciado pensa a corporalidade como produção tecnológica, ou seja, como produto de tecnologias de dominação primordialmente materiais, de fazeres técnicos. A esta visão da corporalidade chamaremos um materialismo tecnológico, no sentido em que recorre apenas à materialidade corporal e às suas interacções com a materialidade técnica, assentando portanto num fisicalismo (tudo o que existe são processos físicos e não mentais). Esta produção do corpo exerce uma violência político-social sistemática e é por nós considerada como causadora de trauma político. A resistência ao trauma seguirá uma estratégia de negociação e deslocação dos limites e posições contruídos por essas tecnologias. Neste sentido, Beatriz Preciado denuncia o dualismo de género e a (hetero)sexualização dos corpos como normatividade anatomo-política traumática. No entanto, os materialismos fisicalistas em geral, não só os tecnológicos, não são suficientes para pensar a corporalidade, uma vez que apenas concebem sujeitos ontológica e socialmente atomizados, sendo igualmente necessários outros instrumentos conceptuais. Por um lado, são necessários instrumentos conceptuais para pensar a normatividade, as hegemonias, nomeadamente ao nível da análise de campos discursivos e culturais a que muitas vezes se chama simbólicos; por outro lado, são ainda necessários instrumentos conceptuais para pensar a experiência intrapsíquica/imaginária do corpo. Apenas na confluência crítica e na inter-relação destes três tipos de abordagem poderemos reunir os meios necessários para pensar de forma complexa a corporalidade. Tentaremos demonstrar igualmente que, e já ao nível dum pensamento das resistências, os materialismos fisicalistas corporais também não são suficientes para construir um aspecto político fundamental, a comunidade, pois que pelo seu carácter ingenuamente individualizador descuram o carácter relacional de toda a produção social, incluindo a corporal. Dessa forma não conseguem repensar os espaços, as linguagens e as políticas da relacionalidade, nomeadamente, e pela sua força actual, as práticas performativas comunitárias e as linguagens e políticas visuais. É também neste sentido que as resistências produzidas por estes materialismos podem, vivendo nós num capitalismo de voraz produção e consumo de imagens, ser frágeis, pois que enquanto imagens corporais pouco pensadas na sua forma de produção, difusão e partilha são rapidamente comodificadas (transformadas num bem ou serviço de consumo hegemónico acrítico).

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/7750

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Corpo #Género #Sexualidade #Tecnologia
Tipo

masterThesis