Rui Chafes: traços do antigo na contemporaneidade


Autoria(s): Rato, Vanessa Alexandra Estrela Fernandes
Data(s)

22/06/2012

2011

Resumo

Tese de mestrado em ciências da comunicação, variante comunicação e artes

Praticamente desde o início, a obra de Rui Chafes (n. Lisboa, 1966) tem sido vista à luz das referências românticas evocadas tanto pelo próprio artista – em textos e entrevistas – como patentes na sua escultura – nomeadamente, por via dos títulos, assumidos como parte integrante da obra. Rui Chafes enquadra-se, evidentemente, numa longa linhagem de artistas que recusam a dominância absoluta do espistémico e que, contra o racionalismo iluminista, propõem a revitalização do mito como experiência humana fundamental. Dele se pode assim dizer um romântico. Contudo, face à retórica de claridade de cariz modernista, o seu impulso contra-iluminista traduz esse fundo romântico genérico num tipo de sensibilidade específica – uma sensibilidade que, nesta dissertação, identificaremos como devedora da poética sombria e do sublime extremado e violento do Gótico. A presente dissertação procurará reenquadrar a obra de Chafes através de uma aproximação aos mecanismos e estratégias operativas do Gótico contemporâneo, propondo-o não como um género, mas como uma sensibilidade marcada por um conjunto de pressões a agir sobre ou dentro do romântico e cujos princípios de fundo, integram a escultura de Chafes – com a sua aura de anacronismo antigo, a um tempo melancólica e extática, erótica e bélica – numa das mais proeminentes vias da arte do nosso tempo, ligada ao regresso à metafísica. Depois da procura de libertação do inconsciente reprimido e da dissolução do eu do Dadaísmo e do Surrealismo, nas artes plásticas da segunda metade do século XX a recorrência da sensibilidade gótica caracterizou-se regularmente por um tipo de investigação do espaço físico envolvendo noções de aprisionamento e claustrofobia; a caminho do final do século, nomeadamente com o desenvolvimento e crescente visibilidade do trabalho de artistas como Tony Oursler, Mike Kelly, Paul McCarthy, Cindy Sherman ou Raymond Pettibon, o abrir da cripta torna-se mais ansioso e material, ou mesmo obsessivo, explorando, nomeadamente, o informe e o abjecto. A partir da escultura e do desenho, faceta da sua produção artística que Chafes mantém com regularidade diária desde o início do seu percurso mas que optou por não expôr até há um ano, veremos como conceitos como informe e abjecto surgem na sua obra numa tentativa cinstante de aproximação à noção de desmaterialização tal como concebida pela arquitectura gótica. As mais recentes inflexões na obra e pensamento teórico do artista libanês Walid Raad servem de enquadramento a uma releitura de obras que, podendo não ser primeiramente identificadas como góticas, partem de mecanismos de carácter gótico. A obra de Joseph Beuys, com os seus objectos do quotidiano imbuídos de radiação transcendental, de Paul Thek, com a erótica dos seus relicários tecnológicos, e Matthew Barney, com o ritualismo exacerbado de toda a sua cosmogonia wagneriana, surgem como contrapontos à forma como Chafes persegue não uma lógica de comunicação visual, mas de magia visual, herdeira da arte xamânica vinda do romantismo de ramificação medieval. A escultura de Richard Serra surge como negativo da importância e simbologia do ferro dentro do corpo de obra de Chafes.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/7345

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

restrictedAccess

Palavras-Chave #Gótico #Novo Gótico #Romantismo #Irracionalismo #Sublime
Tipo

masterThesis