A poesia, memóra excessiva
Data(s) |
24/01/2012
24/01/2012
1996
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Resumo |
pp. 155-161 Na Grécia, nos seus primórdios, a poesia identificava-se com a memória. Ela era um dom das musas, filhas de Mnemosina, a Memória. O canto dos poetas é algo que não lhes pertence, que não é escolhido, mas que também não é convertível em simples dádiva, na medida em que não se deixa reduzir a um dito transmissível sem falha: ecoa nele uma origem secreta e indecifrável que o lança num devir infinito. O poeta detém assim um poder superior, o de imortalizar ou condenar ao esquecimento, que lhe confere uma autoridade particular. Como diz Mareei Détienne, «o poeta trágico é sempre um 'Mestre de Verdade'. A sua verdade é uma verdade assertória: ninguém a contesta, ninguém a demonstra». Essa Verdade é Alétheia, «nem o acordo da proposição com o seu objecto, nem o acordo de um juízo com os outros juízos; a única oposição significativa é a de Alétheia e de Léthe».^ Os factos contados na poesia épica não o são a partir da memória humana e da invenção, mas da memória divina, definitiva e inquestionável, que tanto se revela enigmática como clara e exacta. |
Identificador |
0871-2778 |
Idioma(s) |
por |
Publicador |
Colibri |
Relação |
N.9; |
Direitos |
openAccess |
Tipo |
article |