Ocorrência e diversidade de leveduras no filoplano de plantas seleccionadas do Parque Natural da Serra da Arrábida


Autoria(s): Silva, João José Inácio
Contribuinte(s)

Fonseca, Álvaro

Martins, Isabel Spencer

Data(s)

08/04/2009

08/04/2009

2003

Resumo

Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Doutor em Biologia (especialidade Microbiologia), pela Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia

Os ecossistemas do tipo mediterrânico não têm sido investigados como habitat natural de populações microbianas em geral, e de leveduras em particular. Um dos objectivos deste estudo foi o de apreciar a abundância, diversidade e variação sazonal das leveduras epifíticas no filoplano de plantas representativas de um ecossistema do tipo mediterrânico em Portugal, neste caso o Parque Natural da Arrábida. Foram seleccionados dois locais de amostragem na Serra da Arrábida, Fonte do Veado (FV), com um microclima mais húmido, e Mata do Solitário (MS), mais seco e árido, e cinco plantas: Acer monspessulanum e Quercus faginea (folha caduca), e Cistus albidus, Pistacia lentiscus e Osyris quadripartita (folha perene). O isolamento de leveduras foi baseado em dois métodos complementares: plaqueamento de suspensões resultantes das lavagens das folhas e o método SFM (Spore-Fall Method), mais específico para leveduras balistoconidiogénicas. Cerca de 90% das leveduras isoladas do filoplano (de um total de cerca de 850 estirpes) são de afinidade basidiomiceta, representando pelo menos 67 espécies. Destas, cerca de metade não parecem corresponder a espécies conhecidas e aproximadamente 75% do número total de espécies foram isoladas apenas uma vez ou ocorreram com baixa frequência. Entre as poucas leveduras ascomicetas isoladas, a grande maioria parecem tratar-se de possíveis estados leveduriformes do fungo fitopatogénico dimórfico Taphrina (grupo dos fungos arquiascomicetas). Aproximadamente 15% das espécies foram isoladas a partir da maioria das amostras, independentemente da planta, local e data de amostragem, como por exemplo Cryptococcus cf. laurentii, Erythrobasidium cf. hasegawianum, Rhodotorula cf. slooffiae, Sporobolomyces cf. roseus, Rh. bacarum, Tilletiopsis spp. e Lalaria inositophila sp. nov.. Também isoladas de várias folhas, mas com uma distribuição aparentemente menos ampla, aparecem espécies como Sp. coprosmae e Sp. gracilis. Foram registados casos de distribuição restrita de algumas espécies, em contraste com a aparente inespecificidade das leveduras do filoplano relativamente às plantas colonizadas. O mais saliente foi o de Cryptococcus sp. nov. 1 que foi isolada com uma frequência relativamente elevada apenas a partir de folhas de Ci. albidus, tanto na FV como na MS, e em várias amostragens. Para as espécies de plantas presentes em ambos os locais de amostragem (Q. faginea, Ci. albidus e Pi. lentiscus) observou-se que, de um modo geral, as populações de leveduras nos respectivos filoplanos são maiores na FV do que na MS. Esta diferença não parece reflectir-se, porém, na diversidade em termos do número de espécies isoladas. Foi detectado um aumento, da Primavera para o Outono, do número de leveduras presentes nas folhas das plantas de folha caduca Ac. monspessulanum e Q. faginea, acompanhando o seu desenvolvimento. Esta variação sazonal não foi aparente nas plantas de folha perene. Nas folhas de Pi. lentiscus e O. quadripartita as leveduras ocorreram, consistentemente, em menor número. Foram encontradas densidades muito variáveis para a população de leveduras nos diferentes filoplanos amostrados, desde 10 UFC.cm-2, obtida em Pi. lentiscus e O. quadripartita, até valores da ordem de 104 UFC.cm-2, obtidos numa das amostragens de Q. faginea. É concebível que as leveduras do filoplano tenham propriedades que lhes permitem sobreviver e multiplicar-se no ambiente em que se encontram. Nesse sentido, realizou-se uma pesquisa de natureza preliminar num grupo seleccionado das leveduras isoladas do filoplano: (i) capacidade de utilização de compostos aromáticos, ácidos aldáricos e aminoácidos como fontes de carbono e de energia; (ii) produção de certas enzimas extracelulares; (iii) produção de pigmentos do tipo melanina, e (iv) actividade antimicrobiana. Foi particularmente notória a produção de enzimas extracelulares por Cryptococcus spp. (Filobasidiales), Tilletiopsis spp. (classe Ustilaginomicetas) e Sp. cf. roseus (Sporidiobolus). Uma grande parte das estirpes testadas demonstrou ainda capacidade para utilizar, como fontes de carbono e de energia, vários compostos que ocorrem em plantas, nomeadamente aminoácidos como o ácido glutâmico e a prolina, açúcares (p.e. celobiose e L-arabinose) e compostos aromáticos (p.e. ácidos protocatecuico e p-hidroxibenzóico). Cerca de 65% das estirpes produziram culturas melanizadas a partir de pelo menos um dos compostos precursores utilizados, com realce para as leveduras representantes do grupo das Filobasidiales e algumas da classe Ustilaginomicetas. Não se detectou uma produção significativa de compostos antimicrobianos por qualquer das leveduras testadas. Este trabalho também visou o desenvolvimento de um método molecular, baseado na hibridação in situ com sondas de DNA marcadas com fluorocromos (FISH), para a detecção e identificação das leveduras directamente nos seus meios naturais, evitanto recorrer à sua cultura e isolamento. Foram, primeiro, optimizados os procedimentos para o desenho das sondas, através da construção de ferramentas informáticas para a recolha e comparação de sequências de DNA e testes de especificidade in silico, e determinados os locais do rRNA 18S e da região D1/D2 do rRNA 26S mais acessíveis para a hibridação. O método foi, então, aplicado para re-avaliar a aparente associação observada entre Cryptococcus sp. nov. 1 e as folhas de Ci. albidus. Com uma sonda específica que se desenhou para esta espécie de levedura, foram detectadas células de Cryptococcus sp. nov. 1 em suspensões celulares resultantes da lavagem de folhas de Ci. albidus, mas não quando se utilizaram folhas das outras plantas estudadas. Em consequência deste estudo, observou-se que a densidade de Cryptococcus sp. nov. 1 em folhas individuais de Ci. albidus não parece seguir uma distribuição normal, apresentando um comportamento semelhante ao evidenciado para as densidades das populações bacterianas, para as quais é o logaritmo das densidades que está distribuído normalmente. As folhas apresentaram densidades até 370 células de Cryptococcus sp. nov. 1 por cm2, mas a grande maioria exibia densidades inferiores a 40 células/cm2.

Bolsa de doutoramento PRAXIS XXI/BD/19833/99, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/1902

Idioma(s)

por

Publicador

FCT - UNL

Direitos

openAccess

Tipo

doctoralThesis