Sentimento e reflexão : crítica da identidade nos «Fichte-studien» de Novalis
Contribuinte(s) |
Justo, José Miranda, 1951- |
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Data(s) |
10/05/2016
10/05/2016
2016
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Resumo |
Tese de doutoramento, Estudos de Literatura e de Cultura (Estudos de Literatura e de Cultura de Expressão Alemão), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2016 No início da sua produção filosófica, a partir do Outono de 1795, o poeta Novalis colige uma longa série de anotações fragmentárias sobre a doutrina da ciência de Fichte, recolhidas sob a ampla designação «Fichte-Studien». Muitos, e não menos importantes são os temas aí abordados, todos versando a filosofia de Fichte. Mas este conjunto de manuscritos não serve o exclusivo propósito de ler criticamente a teoria fichteana, e muito menos o pensamento filosófico de Novalis nasce com os «Fichte-Studien»; o problema que preside à primeira filosofia de Novalis, e que impregna estes seus manuscritos, é um problema maior, um conflito espiritual entre contrários, a saber, poesia (vida) e filosofia, ou sentimento e reflexão, que Novalis vinha experienciando desde que frequentara as lições de Reinhold sobre Filosofia Elementar, em Jena (1790), que viria a ser decisivamente acentuado pela Doutrina da Ciência, de Fichte (a partir de 1793), e que só então vem a ser trabalhada nos «Fichte-Studien». Nesta dissertação, procurar-se-á expor como Novalis resolve o seu conflito espiritual sob a forma de uma teoria dos contrários, à luz da leitura do mesmo problema em Reinhold e Fichte. A conclusão a que Novalis sobre isto chega é a hipótese de um dinamismo recíproco, uma alternância viva e cumulativa entre contrários, a qual originará o Eu, e o lançará para a sua compreensão reflexiva de si próprio; a saber, a proposta de unir sentimento e reflexão, constituintes essenciais do Eu enquanto ser de contrários, sob a forma de uma união na desunião, na qual coexistem a um tempo a impossibilidade real de unir os contrários e a possibilidade ideal de o fazer; uma proposta que levará Novalis a cindir-se dos seus Professores, e que dele requer uma profunda reflexão sobre a necessidade de repensar os conceitos de Eu, da identidade e do próprio pensar – uma genuína crítica da identidade –, que paulatinamente talha a imagem de Novalis como um pensador autónomo e original no seio do Idealismo Alemão. Por fim, e porque o problema dos contrários é de facto um problema entre poesia e filosofia, e ainda porque os «Fichte-Studien» servem justamente o objectivo de acentuar o conflito espiritual do poeta mediante a filosofia, Novalis transporá este mesmo dinamismo recíproco da união na desunião dos contrários para a questão do filosofar. No filosofar, enquanto pensar natural do humano, se procurará ver a possibilidade de um superior estrato de auto-compreensão do Eu: por um lado, na constatação de que Eu e filosofia nascem no mesmo momento, e que nesse momento ambos ganham uma actividade subjectiva, mas rompem também com a unidade originária, que sempre tentarão recuperar através dessa mesma actividade, e através do pensar dos contrários; por outro, na recondução da questão dos contrários, da noção de dinamismo recíproco, ao pensar filosófico, segundo o que à possibilidade de a filosofia alcançar o absoluto da reunião dos contrários, sempre se opõe a impossibilidade disto mesmo; por fim, à conclusão de que à filosofia e ao Eu não resta senão progredir por uma saciação relativa do absoluto, ou uma aproximação infinita a este, uma insuficência que para Novalis se traduzirá numa tendência de auto-supressão, de morte do pensar e da linguagem da filosofia, que por fim levará a um gradual apagamento e dissolução da imagem do Eu. Esta dissolução, este fim de curso da filosofia, dirá Novalis, é uma transição para uma nova consciência, uma nova linguagem, uma nova vida do Eu – a reescrição de uma nova existência poiética do Eu, que para este significa o retorno possível a uma idade áurea do ser humano, e para Novalis a resolução possível do seu conflito espiritual. At the onset of his philosophical production, by the fall of 1795, the poet Novalis writes a long series of fragmentary annotations on Fichte’s doctrine of science, collected under the broad designation of «Fichte-Studien». Various, and not at all unimportant are the themes therein approached, all of them dealing with Fichte’s philosophy. But Novalis’ intention with this set of manuscripts was not solely to critically read Fichte’s theory, nor does Novalis’ thought arise with the «Fichte-Studien»; the problem that presides over Novalis’ first philosophy and which pervades these manuscripts is a greater problem, a spiritual conflict between opposites, namely, poetry (life) and philosophy, or feeling and reflection, a conflict which Novalis was experiencing ever since he had attended Reinhold’s lectures on Elementary Philosophy, in Jena (1790), which would be irreversibly enhanced by Fichte’s Doctrine of Science (from 1793 onwards), and only then would be addressed in the «Fichte-Studien». In this dissertation, we shall attempt to determine how Novalis solves his spiritual conflict under the guise of a theory of opposites, in light of his reading of the same problem in Reinhold and Fichte. Novalis’ conclusion is that of an hypothesis of a reciprocal dynamism, a living and cumulative alternation between opposites, which shall originate the I and inaugurate its reflexive self-understanding; namely, the hypothesis of uniting feeling and reflection, essential components of the I as a being of opposites, under the form of a union in disunion, wherein a real impossibility of uniting the opposites and an ideal possibility of doing so simultaneously coexist; a proposition which shall lead Novalis to part from his Professors, and involves a profound reflection on the need to reassess the concepts of I, of identity and thought itself – a genuine critique of the self – which gradually carves the image of Novalis as an autonomous and original thinker within the scope of German Idealism. Lastly, because the problem of the opposites is indeed a problem between poetry and philosophy, and furthermore because the «Fichte-Studien» were intended to enhance the poet’s spiritual conflict through philosophy, Novalis shall apply this very reciprocal dynamism of a union in disunion of the opposites to the question of the act of philosophizing. In the act of philosophizing, as man’s natural thought, Novalis will try to discern the possibility of a superior level of self-understanding of the I: on the one hand, by realizing that the I and philosophy arise conjointly, and in that moment both acquire a subjective activity, but at the same time they break away from the original unit, which they will always attempt to recover through that activity; on the other hand, by readdressing the question of the opposites, the notion of reciprocal dynamism, to philosophical thought, according to which the possibility of philosophy attaining the absolute of reuniting the opposites is always opposed by the impossibility of this happening; lastly, by concluding that both philosophy and the I are left with no alternative but to progress through a relative satiation of the absolute, or an infinite approximation to the latter, an insufficiency which to Novalis shall translate into a tendency of self-suppression and death of philosophical thought and language, which in turn shall lead to a gradual effacement and dissolution of the I’s image. This dissolution, this end of the course of philosophy is, according to Novalis, the transition towards a new consciousness, a new language, a new life of the self – the rewriting of a new poietical existence of the I which, to the I, signifies the possible return to a golden age of the human being, and to Novalis the possible resolution of his spiritual conflict. Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) |
Identificador |
http://hdl.handle.net/10451/23640 101483570 |
Idioma(s) |
por |
Direitos |
openAccess |
Palavras-Chave | #Novalis, 1772-1801. Fichte Studien #Novalis,1772-1801 - Crítica e interpretação #Fichte, Johann Gottlieb, 1762-1814 - Crítica e interpretação #Novalis,1772-1801 - Filosofia #Identidade (Filosofia) #Teses de doutoramento - 2016 #Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e Literaturas |
Tipo |
doctoralThesis |