Quando todos os caminhos levavam a Portugal:impacto da guerra dos cem anos na vida económica e política de Portugal (séculos XIV-XV)
Contribuinte(s) |
Mendonça, Manuela, 1948- |
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Data(s) |
27/02/2014
27/02/2014
2014
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Resumo |
Tese de doutoramento, História (História Medieval), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2014 A Guerra dos Cem Anos teve consequências profundas sobre a história da França e da Inglaterra. Porém, o seu impacto e importância na história de outros países europeus e da Europa em geral, tem sido muito pouco estudado. Mesmo os defensores da chamada "crise do final da Idade Média" não mostraram grande interesse em estabelecer qualquer tipo de relação entre essa "crise" e a Guerra dos Cem Anos, embora ambas coincidam perfeitamente em termos cronológicos. O nosso objetivo é estabelecer uma relação entre o conflito anglofrancês e as dificuldades e/ou a decadência económica de alguns países e regiões da Europa durante o mesmo intervalo de tempo. Antes da guerra, a França foi o centro comercial da Europa, mas durante o curso da guerra, tornou-se o seu principal campo de batalha. Foi um conflito entre a Inglaterra e a França, que se travou e se decidiu totalmente em territórios e dependências francesas. Portanto, deve perguntar-se: como aconteceu esta transformação do reino maior, mais rico, mais central e mais importante da Europa, que passou de um centro comercial a um campo de batalha, e influenciou o cenário económico do continente? Neste trabalho, em vez de fixarmos a atenção sobre os movimentos e itinerários dos exércitos, pretendemos concentrarmo-nos sobre os itinerários dos comerciantes e sobre a mudança da geografia das rotas comerciais. Mercê da sua transformação em campo de batalha, a França, que fora até então um paraíso para os comerciantes, tornou-se um paraíso para a cavalaria e os soldados e um inferno para os comerciantes. Assim, os países e regiões mais aptos para servir como alternativa para o comércio, aumentaram a sua participação no tráfego comercial, ou melhor, na riqueza disponível.Portugal tornou-se num desses paraísos comerciais, que ajudaram o fluxo de bens e riqueza a expandir-se. A alteração da geografia das rotas comerciais, não só ajudou estes novos centros comerciais a fortalecer as respectivas economias, mas aumentou os custos de operações e de manutenção do comércio. Bens e riquezas fluíam facilmente através das novas rotas, mas estas novas rotas de comércio eram caras alternativas às antigas rotas francesas. Porém, com o fim da Guerra dos Cem Anos, acabou a necessidade de evitar as rotas francesas e o fluxo de comércio retornou a França. Contudo, a nova geografia do comércio ampliado e a riqueza acumulada durante o conflito continuaram por algum tempo a promover o desenvolvimento nesses países. Entretanto, a França foi retomando a sua centralidade nas rotas comerciais do continente.A situação económica de Portugal durante a Guerra dos Cem Anos tem sido tradicionalmente associada pelos historiadores ao padrão francês, amplamente aceite como negativo, e em profunda crise. A base teórica para essa relação é a "crise final da Idade Média", ou a interpretação malthusiana da história da Idade Média. De acordo com esta interpretação, a "crise do final da Idade Média" foi geral para toda a Europa e mesmo fora dela, embora reconhecendo algumas excepções insignificantes. Na verdade, numa visão mais abrangente, exceptuado o efeito generalizado da Peste Negra, a maior parte da Europa não passa por uma "crise final da Idade Média". Portugal tinha todas as condições para ganhar com a mudança das rotas comerciais e foi um dos países mais importantes que serviram o sistema económico do continente para continuar a funcionar sem problemas, mesmo com o obstáculo da guerra. A nossa investigação conduz-nos a conclusões diferentes das tradicionalmente aceites e levanos a afirmar que, durante a suposta "crise", Portugal fortaleceu-se em termos económicos. A Peste Negra teve seu preço e a moeda foi desvalorizada, mas o comércio ampliou-se, a área cultivada cresceu, as fronteiras políticas e geográficas expandiram-se, o avanço tecnológico foi um dos maiores do continente, a projeção internacional aumentou, a independência do reino foi assegurada, as cidades ampliaram-se no momento em que a agricultura cresceu e a riqueza e o bem-estar do povo aumentou. The Hundred Years War has had a profound impact on the history of France and England. Yet its impact and importance on the history of other European countries and of Europe in general has been overlooked and much less studied. Even the supporters of the so-called “late medieval crisis”, have not shown any interest in establishing any kind of relationship between the “crisis” of the Late Middle Ages, and the Hundred Years War, although both match perfectly in chronological terms. We aim to establish a relation between the anglo-french conflict of the Late Middle Ages and the difficulties and/or the decline of some European countries and regions during the same time span. Before the war France was the commercial hub of Europe, but during the course of the war became its main battlefield. It was a conflict between England and France, fought and decided entirely in French territories and dependencies. So, how this transformation of the biggest, the richest, the most central and the most important kingdom of Europe, from a commercial hub to a battlefield, influenced the economic landscape of the continent, is a central question to answer? Instead of focusing the attention on the movements and itineraries of the fighting or ravaging armies, we aim to focus on the itineraries of the traders and on the shifting geography of the trade routes. Through her transformation in a battlefield France, once a paradise for the traders, became a paradise for the chivalry and the soldiers, but a hell for the traders. Thus, many countries and regions better suited to serve as an alternative choice for the commerce and the traders, increased their share of the commercial traffic, or better said, of the wealth available. Portugal became one of these commercial paradises that helped the stream of goods and wealth to flow. At the same time this shifting geography of the trade routes, not only helped these new commercial paradises to strengthen their economies, but it increased the costs of transactions and maintenance of the commerce. Goods and wealth flowed easily through the new routes, but these new trade routes were expensive alternatives of the old French-centred routes. With the end of the Hundred Years War, ended the need to avoid the French routes, and the flow of commerce shifted back to France, but the new geography of the expanded commerce and the wealth accumulated during the war continued for some time to foster the development of the these countries during the time that France was retaking its centrality in the commercial routes of the continent. Portugal’s economic outlook during the Hundred Years War has been traditionally linked by the historians to the French pattern, widely accepted as negative, depressionist and in deep crisis. The broad framework for this relation is the “late medieval crisis”, or the Malthusian interpretation of the history of Late Middle Ages. According to this interpretation, the “late medieval crisis” was general to the whole of Europe, and even beyond, although recognizing some insignificant exceptions. In fact, focusing on the broad picture, except the generalized effect of the Black Death, most parts of Europe did not go through a “late medieval crisis”. Portugal had all the conditions to gain from the shift of the trade routes, and was one of the most important countries that served the economic system of the continent to continue to run smoothly even with the significant obstacle of the war. During the supposed “crisis”, Portugal went from strength to strength in economic terms. The Black Death took its toll and the money was devalued, but commerce expanded, the area under cultivation increased, its political and geographical boundaries expanded, technological advance was one of the greatest in the continent, its international projection increased, its independence was assured, its towns increased at the time that agriculture boomed and the wealth and the welfare of its people increased. |
Identificador |
http://hdl.handle.net/10451/10663 101368887 |
Idioma(s) |
por |
Direitos |
openAccess |
Palavras-Chave | #Guerra dos cem anos - 1339-1453 - Influência #Portugal - Condições económicas - séc.14-15 #Portugal - Política e governo - 1339-1453 #Portugal - História - séc.14-15 #Teses de doutoramento - 2014 |
Tipo |
doctoralThesis |