Marcial e a "Epopeia do quotidiano" : a dimensão épica de um poeta
Contribuinte(s) |
Torrão, João |
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Data(s) |
04/12/2013
04/12/2013
2013
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Resumo |
O século I, que desabrochou numa Idade de Ouro, não findaria sob o signo da boa Fortuna inaugurada pelo primeiro Princeps. O século de Augusto conheceria o seu fim! A Literatura não pôde furtar-se ao fatum de todo um Império e, depois de 69, juntamente com a Magna Vrbs, aguardava um tempo que fosse, finalmente, capaz de uma renovação. Para os anos oitenta do século I, prometiam os Flavianos e as suas consecuções uma nova Aurea Aetas… Porém, revelou-se impossível recuperar o passado: então, como nunca antes, os abastados demandavam a púrpura e a populaça clamava por panem et circenses. E a mudança definitiva dos tempos tinha na produção artística das suas maiores provas — a clientela condenara os autores ao abandono! Longe os círculos de Mecenas, apoiando Horácios e Virgílios que podiam abraçar em exclusivo a sua arte… Marcus Valerius Martialis foi não apenas um autor cuja existência se ressentiria dos constrangimentos que esta época reservou aos poetas, como o que faria da sua obra o mais fiel espelho do seu tempo. Aliás, não fora a sua obra e não se compreenderia cabalmente como foi possível a um escritor sobreviver a esses tempos e trazer à luz o seu trabalho — a uma luz muito especial, na verdade: Hic est quem legis ille, quem requiris, / toto notus in orbe Martialis (1.1.1-2)! Para cantar o novo Império e o seu quotidiano, onde conviviam, a um tempo, a grandeza e a torpeza, nada melhor que uma rude auena, jocosa e mordaz... O epigrama, não a epopeia, era a nova voz de Roma! E Marcial, elevando a sua auena, aplicou toda a sua mestria na celebração da sua Roma e dos Romanos seus concidadãos — hominem pagina nostra sapit (10.4.10). Teremos nós perdido um épico talentoso que se devotou e à sua arte a um género menor ou teremos ganho um cantor ímpar que viveu em perfeita harmonia com o seu tempo? Alcançando a imortalidade, reservada, antes, para os épicos, Marcial alcançou o seu objetivo: si […] / [...] fas est cineri me superesse meo (7.44.7- 8). E, no entanto, o feito singular de Marcial foi dar cumprimento às suas palavras — angusta cantare licet uidearis auena, / dum tua multorum uincat auena tubas. (8.3.21-22) —, escrevendo, sob a forma de epigramas, a primeira e, talvez, a única epopeia do quotidiano! The first century A.D., that begun with a Golden Age, didnʼt end under the good fortune brought by the first Princeps. The Age of Augustus came to an end! Literature didnʼt escape the Empireʼs fatum and, after 69, together with the Magna Vrbs, waited for a time that would finally be able of a renewal. In the eighties, after major achievements of the Flavians, a new Aurea Aetas bleached. However, it was impossible to recover the past: more than ever before the wealthy searched for purple, the populace claimed for panem et circenses. The definite change of times had in the artistic production a major proof — the clientela had left the authors by themselves! Far were the circles of Maecenas supporting Horaces or Virgils who could totally dedicate to their art… Marcus Valerius Martialis has been not only a writer whose existence would resent the constraints that this epoch reserved for poets, as also the one who would make his work the most faithful mirror of his time. In fact, if it was not for his work, it would not be fully understandable how it was possible for a writer to survive those times and bring his work to light — a very special light, indeed: Hic est quem legis ille, quem requiris, / toto notus in orbe Martialis (1.1.1-2)! To sing the new Empire in its everyday life, at once, graceful and disgraceful, only a rude auena, jocose and mordacious. The epigram, not the epic, was the new voice of Rome! Martial, hoisting his auena, applied all his mastery to the celebration of his Rome and his fellow-citizen Romans — hominem pagina nostra sapit (10.4.10). Have we lost a talented epic who devoted himself to a minor genre or have we gained an unique singer that lived in perfect harmony with his own time? Achieving the immortality of epic writers, Martial reached his target: si […] / [...] fas est cineri me superesse meo (7.44.7-8). Yet Martialʼs single did was fulfilling his words — angusta cantare licet uidearis auena, / dum tua multorum uincat auena tubas. (8.3.21-22) —, by writing, with the shape of epigrams, the first and maybe the only epic of the everyday life! Doutoramento em Literatura |
Identificador |
http://hdl.handle.net/10773/11502 101243626 |
Idioma(s) |
por |
Publicador |
Universidade de Aveiro |
Direitos |
openAccess |
Palavras-Chave | #Literatura #Poesia épica - Roma Antiga |
Tipo |
doctoralThesis |