Interfaces e inquietações no diálogo entre Kierkegaard e Foucault - filosofia antiga, psicologia e processos de subjetivação
Contribuinte(s) |
Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Luis Antonio dos Santos Baptista Márcio Gimenes de Paula Vera Maria Portocarrero Heliana de Barros Conde Rodrigues |
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Data(s) |
31/03/2011
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Resumo |
A presente tese inicia-se por uma encruzilhada e um segredo: na encruzilhada está a psicologia, entre os apelos instrumentais, antropológicos e neurocientíficos; já o segredo refere-se à quase desconhecida leitura de Kierkegaard por Foucault. Os dois filósofos se inscrevem na esteira da experimentação filosófica, caminho oposto ao da metafísica. Experimentação, aqui, não diz respeito a qualquer empirismo; inspira-se nos exercícios espirituais da Antiguidade grega e romana, e nas práticas da ironia, do cuidado de si e da parresía filosófica. As aproximações possíveis entre o pensamento de Kierkegaard e o de Foucault por esse viés da filosofia antiga, visam a contribuir para uma compreensão da psicologia e de suas práticas que permita o enfrentamento dos dilemas acima referidos, ou seja, os instrumentais, antropológicos e neurocientíficos. O percurso do trabalho tem como ponto de partida as suspeitas direcionadas à psicologia, desde o questionamento colocado por Canguilhem há mais de cinqüenta anos acerca das intenções pouco claras da disciplina, passando pelas críticas aos processos de subjetivação psicologizantes, até chegar ao grave enquadramento contemporâneo que busca convencer os sujeitos de que são, em última análise, nada mais do que cérebros. Os processos de subjetivação engendrados pelas práticas psi se vêem, pois, colocados hoje frente a impasses de difícil solução. Tantas são as suspeitas e temores quanto aos efeitos psi, que os próprios profissionais da área têm, em muitos casos, assumido a posição de que a psicologia se tornou inviável e deve desaparecer. As referências objetivantes ou antropológicas, quando priorizadas pela psicologia, de fato não deixam saídas, tornando urgente o encontro com outros referenciais que possibilitem respirar novos ares. O pensamento de Kierkegaard e o de Foucault surgem como intercessores em face desse horizonte sombrio. Os dois filósofos se dedicaram a tornar o homem atento a si e ao mundo, priorizando saídas singulares e criativas em lugar da reprodução dos modos de ser hegemônicos que ameaçam igualar tudo e todos. Desnaturalizadores do presente e avessos às grandes especulações teóricas sobre a vida, escreveram obras que é preciso experienciar, mais do que simplesmente ler, a fim de captar-lhes a atmosfera e com elas operar. A partir dessa atitude, a psicologia experimental ou interpretativa pode dar lugar a uma psicologia experimentante, que acompanha o cotidiano ao invés de se colocar como uma curiosidade sem paixão. Tal psicologia segue de maneira interessada os movimentos da existência e a apropriação pessoal da verdade, que deixa de ser transcendente, metafísica ou sonhada, e aparece encarnada nas lutas, receios, enganos, ações e tensões do dia-a-dia dos sujeitos de carne, osso e espírito. É na tensão constituinte-constituído que o sujeito se forja, seja ele lançado por Deus, como pensa Kierkegaard, seja, como propõe Foucault, mergulhado nos esquemas e objetivações que toma como naturais: a tarefa do sujeito é tornar-se si mesmo, participando de forma mais livre da própria constituição, exercendo de maneira refletida e ética a liberdade e transparecendo a si mesmo, ao invés de tomar como suas as determinações que lhe são oferecidas. A presente tese visa, portanto, a estabelecer o diálogo entre Foucault e Kierkegaard, pelo viés da filosofia antiga, buscando inspiração para promover, no tempo presente, processos de subjetivação outros que os modos desesperados de ser, e práticas psicológicas mais experimentantes e menos disciplinadoras. This dissertation begins at a crossroads and a secret: at the crossroads there is Psychology, among its instrumental, anthropological and neuroscientific appeals; the secret refers to the almost unknown reading of Kierkegaard by Foucault. Both philosophers are inserted in the wake of philosophical experimentation, the opposite path to metaphysics. Experimentation, here, is not related to empirism; it is inspired by the spiritual exercises of Greek and Roman Ancient History, and in the practice of irony, self-care and philosophical parresía. The possible approximations between the thoughts of Kierkegaard and Foucault through this approach of Ancient Philosophy aim at contributing to an understanding of Psychology and its practices that allow the facing of the above-mentioned dilemmas, that is, the instrumental, anthropological and neuroscientific ones. The course of this work has its starting point at the suspicions directed at Psychology, from the questioning posed by Canguilhem over fifty years ago about the unclear intentions of the subject, through the critiques to the processes of psychological subjectivizing, up to the serious contemporary framing that seeks to convince human beings that they are, ultimately, no more than brains. The subjectivizing processes carried out by the psi practices are, then, today, faced with difficult predicaments. There are so many suspicions and fears about the psi effects that the area professionals themselves have, in many cases, assumed that psychology has become not viable and must disappear. The objecting or anthropological references, when prioritized by Psychology, actually leave no way out, urging the finding of new referentials that make it possible to breathe new air. Kierkegaards and Foucaults thoughts arise as interceders in the face of this somber horizon. Both philosophers are devoted to taking man as attentive to himself and the world, prioritizing singular and creative exits instead of reproducing the hegemonic ways of being that threaten to equal everything and everyone. Unnaturalizing the present and contrary to great theoretical speculations about life, both have written works that must be experienced, more than simply read, so as to capture their atmosphere and operate it. From this attitude, Experimental or Interpretive Psychology can give way to an Experiencing Psychology, which follows everyday life instead of presenting itself as passionless curiosity. This Psychology follows interestingly the movements of existence and personal appropriation of the truth, which stops being transcendent, metaphysical or dreamed, and appears layered in struggles, fears, mistakes, actions and tensions of the everyday life of subjects made of flesh, bone and spirit. It is in this constituting-constituted tension that the subject is forged, either cast by God, as Kierkegaard thinks, or, as Foucault proposes, sunk in the schemes and objectivations he takes for natural: the subjects task is to take himself, participating in a freer way of his own constitution, exercising freedom in an ethical and thoughtful manner and manifesting himself, instead of taking as his own the determinations which he is offered. This dissertation aims, therefore, at establishing the dialogue between Foucault and Kierkegaard, through the approach of Ancient Philosophy, seeking inspiration to promote, in the present time, processes of subjectivation other than the desperate ways of being, and psychological practices which are more experimenting and less disciplining. |
Formato |
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Identificador |
http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=7245 |
Idioma(s) |
pt |
Publicador |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ |
Direitos |
Liberar o conteúdo dos arquivos para acesso público |
Palavras-Chave | #Ancient philosophy #PSICOLOGIA SOCIAL #Subjetividade (Psicologia) #Kierkegaard, Soren, 1813-1855 #Foucault, Michel, 1926-1984 - Filosofia antiga #Psicologia #Filosofia antiga #Psychology |
Tipo |
Eletronic Thesis or Dissertation Tese ou Dissertação Eletrônica |