A expressão da subjetividade na Filosofia de Merleau-Ponty

Neste trabalho, o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty é autor privilegiado na busca de uma compreensão fenomenológica da subjetividade. Na primeira concede-se relevo às análises sobre a corporeidade, a partir da qual se revela uma socialidade originária aberta pela experiência perceptiva. Se na parte I predomina o mundo natural, na parte II a experiência do mundo cultural é o principal tema. O caráter estrutural da experiência perceptiva não é aban-donado, mas retomado no intuito de explorar a tese de que a significação da experiência é desvinculada de uma consciência separada da existência. Fundamentada na percepção, parti-cularmente em seu aspecto antepredicativo, desenvolve-se uma análise fenomenológica da linguagem, bem como o lugar da praxis e da intersubjetividade na compreensão deste tema, explicitando ainda mais a dimensão social originária revelada pela corporeidade. O vínculo da dimensão subjetiva com a existência, mediante o corpo, é realçado a partir da noção de ex-pressão. A noção de expressão refere-se à transcendência do sujeito em relação à sua situação, sem prescindir dela e serve para mostrar que o sentido das coisas percebidas é abordado não como algo isolável, mas produto de uma articulação na ordem do sensível, dispensando, assim, a tese de um paralelismo entre a ordem positiva (a percepção do mundo) e a ordem da idealidade (o que é dito ou pensado sobre a experiência). A lógica da expressão, verificada no corpo, é sucedida pelo estudo da linguagem na obra de Merleau-Ponty, para obter sua concep-ção sobre a relação do sujeito com o instituído. Constata-se que a expressividade presente na linguagem, análoga ao gesto corporal, aponta para a transcendência do significado em relação aos significantes partilhados em determinada cultura e, portanto, para a liberdade do sujeito enquanto produtora de uma história, a partir das transformações operadas na situação em que se encontra. Se a linguagem permitiu conceber de que modo o sujeito pode instaurar novas significações a partir das que estão estabelecidas, o retorno, no fim da dissertação, ao tema da liberdade, desenvolvido na Fenomenologia da Percepção, demonstra que as teses presentes em seus últimos textos mantêm uma coerência com os primeiros. A influência da noção de estrutura em seu interesse pela antropologia, abordada no último capítulo da dissertação, con-firma que a função simbólica, presente ao longo do texto como lógica da expressão, expõe a dialética sem síntese característica da subjetividade.

In this paper, the french philosopher Maurice Merleau-Ponty is an exceptional author searching for a phenomenological comprehension of subjectivity. In the first part, the sense of corporeity is analysed, that reveals a native sociality opened by a perceptive experience, in wicher subject and object are mixed up. If in the part I the natural world prevails, in the part II the experience of the cultural world is the main theme. The structural character of the per-ceptive is not left behind, but it is considered in order to explore the thesis that says the mean-ing of experience is not connected to a separate sense of existence. Having its foundation on perception, principally on its antepredicative aspect, developes a phenomenological analysis of language, as well as praxis and intersubjectivity in relation to the comprehension of this theme, focusing the native social dimension revealed by corporeity. The link between subjective dimension and existence, based on de body, is highlighted by the notion of expression. The sense of expression refers to the transcendency of subject in relation to his situation, not rejecting it and is used to show that the sense of realized things is perceived not as something that can be isolated, but as the product of an articulation in the order of the sensitive, doing without the thesis of a paralelism between positive order (perception of the world) and order of the ideality (what is said and thought about experience). The logic of expression, verified on the body, is succeeded by studies of language in Merleau-Pontys work, in order to obtain his conception of the relationship between the subject and the instituted. It is noticed that expressived of language, similar to corporal gesture, points to transcendency of meaning in relation to the significants shared in certain culture and, therefore, points to the liberty of the subject as producer of history, from the transformations of his situation. If language allowed to conceive how thsubject can give new meaning from those wich are already established, talking about liberty once again, at the end of the dissertation, developed in Phenomenology of Perception, shows that the theories presented in its last texts keep some coherence in relation to the first texts. The influence of notion of structure into his interest on anthropology, mentioned in the last chapter, confirms that simbolic function, presented in logic of expression, exposes dialectic without sinthesis that is a characteristic of subjectivity.