Chico Xavier e o mundo dos espíritos: um estudo de representações sociais

O médium Chico Xavier (1910-2002) impôs-se no cenário religioso brasileiro como uma das personalidades mais admiradas e polêmicas do país dada a sua postura de afirmar se comunicar com espíritos de pessoas falecidas, atribuindo a elas seus mais de 400 livros psicografados, assim como pelas atividades assistenciais desempenhadas. As comemorações, em 2010, do centenário de seu nascimento teve ampla repercussão, com numerosas matérias na mídia, (re)lançamentos de livros e produção de filmes. Foi nesse contexto que se desenvolveu esta pesquisa sobre as representações sociais produzidas sobre ele por pessoas com ou sem religião, de acordo com a Abordagem Estrutural da Teoria das Representações Sociais. A coleta de dados foi feita através de um questionário padronizado, aplicado via "web", ao qual se associou uma tarefa de evocação livre ao termo indutor "Chico Xavier". Foram analisadas as respostas de 1960 sujeitos, dentre espíritas (56,6%), católicos (15,5%), teístas (12,1%), umbandistas (4,6%), ateus (4,2%), evangélicos (4,1%) e agnósticos (2,8%). A análise das evocações permitiu identificar os seguintes termos, possivelmente centrais, mais compartilhados por esses grupos: amor, caridade e humildade evocado por espíritas, umbandistas, teístas e católicos; espiritismo, mediunidade-psicografia por teístas, católicos, agnósticos e ateus; católicos e teístas distinguiram-se pela referência à bondade e paz; e evangélicos e ateus referiram-se a engano-mentira; agnósticos evocaram ainda o termo caridade; e ateus, os termos charlatão-fraude e doente mental. A construção de árvores de co- ocorrências confirmou os temas "amor" e "espiritismo" como mais característicos de Chico Xavier, sugerindo a existência de duas representações distintas. Nesse sentido, "amor" parece organizar as representações de católicos, espíritas, umbandistas, teístas, e "espiritismo", as de evangélicos, agnósticos e ateus. A análise do questionário revelou o seguinte ranking decrescente dos grupos quanto à sua proximidade com relação a Chico Xavier: espíritas, umbandistas, teístas, católicos, agnósticos, evangélicos e ateus. Em seu conjunto, os dados revelaram afinidades de representação entre os grupos, sendo principalmente semelhantes as representações dos espíritas e umbandistas, e dos teístas e católicos. Observamos uma representação de Chico Xavier construída a partir de três planos de significação: o da "virtude", o do "pertencimento" e o da "verdade". No primeiro, caracteriza-se pela valorização de "amor", que o situa numa ordem de sentido mais abrangente, reconhecendo-o como alguém capaz de ter vivido e demonstrado tal virtude de forma irrecusável, tornando-se dela um exemplo; no segundo, pela valorização de "espiritismo" ocorre sua identificação dentro de limites grupais, como alguém que viveu segundo sua crença e dela se tornou uma figura de destaque. E o terceiro, atravessando esses dois planos, pela atribuição de um sentido de "verdade" ou "mentira" sobre o que ele viveu/ensinou quanto à vida após a morte e a comunicação com espíritos. Desse modo, Chico Xavier, em geral, é representado pelos espíritas, umbandistas, teístas e católicos como alguém virtuoso que viveu/ensinou a verdade; e pelos evangélicos e ateus como um espírita não-virtuoso que viveu/ensinou mentiras. Os agnósticos posicionaram-se, principalmente, de modo ambivalente, mas com pequena tendência a enfatizar a virtude e a verdade em Chico Xavier.

The medium Chico Xavier (1910-2002) was interposed as one of the most admired and polemic character in the Brazilian religious landscape, since his affirmation of being able to communicate with death people's spirits, assigning to them more than 400 books psychographed by him, as well as the care activities developed. In 2010, the centenary of his birth's celebrations had a wide repercussion, with various articles in the media, book's (re)launched and movies' productions. On this context it was developed this research about the social representations produced about him by people with or without religion, according to the Social Representation Theory's Structural Approach. The data collect was done though a standardized questionnaire, applied though "web", in which was associated a free recall task to the inductor term "Chico Xavier". The answers of 1.960 participants were analyzed, among spiritistits (56,6%), catholics (15,5%), theists (12,1%), umbandistas (4,6%), atheists (4,2%), evangelicals (4,1%) and agnostics (2,8%). The evocations analysis allowed to identify the following terms, possible centrals, as most shared by those groups: love, charity, humility - evoked by spiritists, umbandistas, theists and catholics; spiritism, mediunity-psychography - by the theists, catholics, agnostics and atheists; catholics and theists were distinguish by the reference to goodness and peace; and evangelicals and atheists referred to deception-lie; agnostics evoked yet the charity term; and atheists, the terms charlatan-fraud, mentally ill. The building of the co-occurrences' tree confirmed the themes "love" and "spiritism" as the most characteristic of Chico Xavier, suggesting the existence of two different representations of the medium. On this way, "love" seems to organize the catholics', spiritists', umbandistas', theists' representations and "spiritism", the evangelicals', agnostics' and atheists' ones. The questionnaire analysis revealed the following groups' decreasing ranking regarding the proximity relative to Chico Xavier: spiritists, umbandistas, theists, catholics, agnostics, evangelicals, atheists. Altogether, the data showed representations' affinities between the groups, mainly being similar the spitirists' and umbandistas' and theists' and catholics' representation. We observed a Chico Xavier's representation built from three different signification's planes: of the "virtue", of the "belonging" and of the "truth". On the first one, it's characterized by the appreciation of "love", which situates him in a wide meaning's order, recognizing him as someone capable of having lived and demonstrated this virtue in a irrefutable way, making him an example; on the second, by the appreciation of "spiritism" happens his identification inside group limits, as someone who lived according your beliefs and became a prominent figure of them. And the third, passing through these two planes, by the attribution of a "truth" or "lie" meaning about the things he lived/taught about life after death and the communication with spirits. Thereby, Chico Xavier, in a general way, is represented by the spiritists, umbandistas, theists and catholics as someone virtuous who lived/taught the truth; and is represented by the evangelicals and atheists as a non-virtuous spiritist, who lived/taught lies. The agnostics positioned themselves, mainly, in an ambivalent way, nevertheless the small tendency to emphasize the virtue and the truth in Chico Xavier.