Uma crítica fenomenológica à tese de Kant sobre o Ser: da linguagem-utensílo à linguagem-constituição

Este trabalho visa realizar os primeiros passos de um projeto mais longo, cujo objetivo é determinar o sentido daquilo que entendemos como pergunta pelo sentido do ser; junto a isso, se tem aqui igualmente o propósito de pensar a metodologia que acaso venha a ser adequada, isto é, o tratamento específico que possa alguma vez dar a tal questionamento um desenvolvimento legítimo. O caminho por nós adotado partirá de Kant por motivos estratégicos, principalmente pela razão de encontrarmos aí uma tese declarada sobre ser, que lhe concede um sentido unitário: ao comentá-la, reconstruindo-a por meio da apresentação de alguns de seus momentos, estaremos nos utilizando da mesma para apontar aquilo que acreditamos constituir uma corrupção de sentido nas suas próprias bases, permitindo compreender as dificuldades lançadas pela questão que, assim nos parece, são as mesmas que terminam por gerar as confusões que perfazem a própria história da metafísica. Isto significa que nossa discussão do caso kantiano - embora vise diretamente a filosofia crítica e todo projeto de uma teoria das faculdades - deverá cunhar resultados mais amplos, já mesmo porque, a partir dela, viremos mesmo a afirmar a total inadequação de uma abordagem do sentido do ser sob o ponto de vista do comportamento teórico. Por oposição a ele, procuraremos demonstrar que ser só pode ser abordado no interior de um campo de sentido que se apresente como o que chamaremos de atividade descritiva ou, poderíamos igualmente dizer, uma atividade de mostração. Este último ponto, conclusivo somente quanto à parte do caminho que nosso projeto mais geral nos exige percorrer, será explicitado com a ajuda de alguns dos conceitos apresentados por Husserl em suas Investigações Lógicas.

This work attempts to realize the first steps of a broader project, whose goal is to determine what we may call the question about the sense of Being; along with that, we confront ourselves also with the problem of an adequate methodology for that questioning, i.e., the specific treatment that could possibly render its development legitimate. The argument we propose here will start, for strategic reasons, from a discussion of the philosophy of Kants, mainly because we can find there a thesis on being which gives to it a unitary sense as position: commenting and reconstructing that thesis in some of its elementary moments, will render it possible for us to point to what seems to be - according to our terminology - a sense corruption, present in its own fundaments. That, in turn, will allow us to comprehend the difficulties faced by the so called question about the sense of Being which, we think, are the same difficulties that end up generating the confusions that constitute the history of metaphysics itself. That means that our discussion of Kants philosophy - though directly concerned with its specific views and with the project of a theory of faculties in general - allows us to arrive at further conclusions, with larger results, since we believe we will be then in the position to claim that all theoretical approach concerning the sense of Being must be inadequate. In opposition to this, we will try to demonstrate that Being can only be approached under a treatment whose proper sense is that of a showing, descriptive activity. This point - which concludes our discussion here and presents only a part of our broader project - will be best explained with the help of some of the concepts we can find in Husserls Logical Investigations.