Práticas contraceptivas e gestão da heterossexualidade: agência individual, contextos relacionais e gênero.

A tese versa sobre as grandes questões relativas à contracepção no Brasil. Integra um esforço por analisar condutas referentes à contracepção, segundo lógicas que priorizam a situacionalidade e a relacionalidade de tais fenômenos. As estratégias para gerir a fecundidade são constitutivas da sexualidade heterossexual. Mulheres e homens podem usar ou não contracepção; as razões dessa conduta extrapolam aspectos concernentes a informação e acesso. Busca-se compreender as práticas contraceptivas a partir do processo do aprendizado das lógicas relacionais e de gênero, em diferentes momentos dos percursos biográficos: o início da trajetória afetivo-sexual, os contextos de irrupção de uma gravidez e o encerramento da potencialidade reprodutiva, por meio da esterilização contraceptiva. Este compósito demandou a utilização de materiais empíricos distintos para a construção e análise das etapas eleitas dos percursos biográficos. Enfoca-se, primeiramente, o momento de passagem à sexualidade com parceiro. Problematiza-se a ideia de relaxamento das práticas contraceptivas, a partir da iniciação sexual, concepção corrente na literatura nacional em função do decréscimo de uso de preservativo em relações sexuais posteriores. Aborda-se, em seguida, as atitudes e as questões presentes no processo de construção da prática contraceptiva, no momento em que a vida sexual se torna regular. A proposição da perspectiva da gestão contraceptiva sublinha as posições dos protagonistas, marcadas pelo gênero. Por último, analisa-se as circunstâncias biográficas e os cenários relacionais da esterilização contraceptiva, a qual emerge como uma estratégia de estabilização ou de consolidação de um percurso contraceptivo/reprodutivo. O debate em torno da contracepção no Brasil apresenta a tendência a enfatizar a determinação social para explicar as gestações imprevistas. Contudo, salienta-se, com base em uma literatura crítica, as dimensões de agência individual, ainda que circunscritas por um campo delimitado de possibilidades.

The thesis deals with the major issues relating to contraception in Brazil. Integrates an effort to analyze behaviors related to contraception, according to logics that prioritize the situatedness and relationality of such phenomena. Strategies to manage fertility are constitutive of heterosexual sexuality. Women and men can use contraception or not; the reasons for that conduct extrapolate aspects concerning information and access. We seek to understand contraceptive practices from the process of learning of relational logic and gender, at different times of biographies: the beginning of the affective-sexual trajectory, the contexts of eruption of pregnancy and termination of reproductive potential by means contraceptive sterilization. This composite require use of different empirical materials for the construction and analysis of the stages of elected biographies. It focuses, first, the passing moment sexuality with a partner. Problematizes the idea of relaxation of contraceptive practices, from the sexual initiation, current design in the national literature due to the decrease in condom use in sex later. We discuss then the attitudes and issues present in the construction process of contraceptive practice, at the time the sexual life becomes regular. The proposition from the perspective of contraceptive management emphasizes the positions of the protagonists, marked by gender. Finally, we analyze the biographical circumstances and relational scenarios of contraceptive sterilization, which emerges as a strategy of stabilization or consolidation of a contraceptive / reproductive route. The debate around the contraception in Brazil has a tendency to emphasize the social determining to explain unexpected pregnancies. However, it is noted based on a critical literature, the dimensions of individual agency, although circumscribed by a delimited range of possibilities.