“A gente tem uma vida lá fora...”: relações entre gestão de recursos humanos e sociabilidade das pessoas empregadas nos supermercados da Região Metropolitana de Belém


Autoria(s): GONÇALVES, Ida Lenir Maria Pena
Contribuinte(s)

MANESCHY, Maria Cristina Alves

Data(s)

09/10/2012

09/10/2012

2009

04/05/2009

Resumo

A gestão de recursos humanos (RH) representa teoricamente uma abordagem da gestão empresarial voltada à organização do trabalho visando seu melhor aproveitamento e, em particular, o envolvimento dos trabalhadores nos objetivos da empresa. As práticas de gestão incidem não somente sobre o trabalho em si, mas também de maneira complexa nas interações sociais ocorridas no ambiente de trabalho, bem como na vida pessoal dos trabalhadores, de acordo com as premissas e práticas do estilo de gestão predominante. O presente estudo procura conhecer a natureza das correlações entre gestão de recursos humanos e sociabilidade dos trabalhadores, isto é, sua capacidade de tecer e de manter laços sociais diversos, a partir dos pontos de vista dos trabalhadores. Tomaram-se como referência empírica quatro redes de supermercados na Região Metropolitana de Belém, Pará. O setor é grande empregador, vem se modernizando expressivamente nas duas últimas décadas, implementando alguns procedimentos de gestão de RH e se mantém ao abrigo da forte concorrência de grupos nacionais e internacionais que se observa em outras capitais do país. A metodologia incluiu observações sistemáticas, análise documental e entrevistas estruturadas e semi-estruturadas em profundidade, respectivamente com trezentos e oitenta e quatorze trabalhadores, estes últimos selecionados dentre os constantes da amostra maior. As entrevistas versaram sobre atributos sociais e demográficos, trajetória ocupacional e padrões de relacionamento pessoal e profissional. Abrangeram, também, as percepções sobre regras e atitudes no trabalho, com base nas normas constantes dos manuais de serviço das empresas. Incluem-se trinta e quatro itens em uma escala de Lickert. Esses itens foram dispostos em fatores, sendo dois sobre gestão – qualidade do trabalho (QT) e introjeção das normas organizacionais (IN) – e três sobre sociabilidade – confiança (CF), manutenção (MR) e utilidade das relações (UT) no trabalho. Os entrevistados respondiam aos itens, ajustando o grau de sua percepção sobre cada um deles. Tais dados foram submetidos à técnica estatística exploratória Análise de Correspondência (AC) de maneira a verificar a correlação entre os fatores da escala e as características dos entrevistados. Sobre as correlações entre gestão e sociabilidade, sobressaiu em primeiro lugar o regime de trabalho. Jornadas extensas, escalas variáveis, longos intervalos diários e a política de qualificação em serviço (on the job) absorvem quase integralmente o tempo do empregado e dificultam manter relações pessoais ou mesmo estender aquelas formadas no ambiente de trabalho para além deste espaço. Dificulta também investir nos estudos, outra esfera de sociabilidade, o que surpreende em uma amostra cuja faixa etária predominante não ultrapassava trinta anos e cuja ocupação tem poucas possibilidades de carreira. Nesse quadro geral de restrições, a condição de gênero e de família também foi relevante, pois as mulheres, em particular as mães, indicaram menos atividades de lazer, em grupos menores e com mínima presença de colegas de trabalho, em comparação aos homens. Por outro lado, encontraram-se alguns casos de pessoas que construíram relações de conteúdo afetivo no ambiente de trabalho, mesmo a convivência se restringindo à empresa. Outra característica marcante foi a dependência do apoio familiar para o exercício da atividade laboral e para o enfrentamento das vicissitudes do mercado de trabalho. A importância dos laços familiares foi reforçada pelo longo tempo de moradia no mesmo bairro e, em proporção significativa, na mesma residência, em muitos casos a moradia era próxima ou no mesmo domicílio dos pais ou sogros, o que facilitava a ajuda mútua. Outro aspecto que se destacou da gestão de RH foi a imprecisão percebida nos critérios de ascensão profissional e de aplicação das normas, contribuindo para a existência de conflitos velados. Ao estabelecer laços sociais, os empregados depositam uma confiança seletiva, expressa no pequeno número de pessoas em quem se confiava no trabalho. Vale notar aqui também uma pequena variação entre homens e mulheres, pois eles confiavam mais que elas nos colegas. A AC mostrou sensíveis diferenças de percepção sobre qualidade do trabalho e introjeção de normas entre os trabalhadores com primeiro registro em carteira e aqueles com experiência anterior de trabalho formal. Os primeiros notaram um controle (vigilância) mais incisivo da gestão e expressaram menor anuência às regras organizacionais, enquanto que os demais não percebiam o controle da mesma forma e se viam como cumpridores dessas regras. Esses resultados foram interpretados como decorrentes das diferentes trajetórias anteriores, em ocupações formais ou informais, ou por se tratar do primeiro emprego. Não se pode afirmar que as restrições à sociabilidade se devam exclusivamente às características da gestão nesse setor, tendo em vista a incidência de outros fatores, tais como a condição sócio-econômica da família ou o tempo do vinculo empregatício, em média de dois anos entre os entrevistados, que podem ter contribuído para esses resultados.

ABSTRACT: The management of human resources (HR) represents a theorical approach of business management focused on organization of work to its best advantages and, in particular, the involvement of employees in the aims of the company. The management practices focus not only on the work itself, but also in complex way in social interactions occurred in the workplace, as well in the personal life of workers, in accordance with the assumptions and practices of the prevailing style f management. This work demand to know the nature of the correlations between management of human resources and sociability of workers, videlicet, their ability to make and keep various social ties, form the point of view of workers. To reach these aims, was taken as empirical reference four networks supermarkets from the urban region of Belém, Pará. This sector is a great employer, and has been modernized significantly in the last two decades, implementing some procedures in managements of humans resources and remains under strong competition from national and international groups that found in other capitals of the country. The methodology includes systematic observations, document analysis, general interview guide approach and deep-standardized open-ended interview, respectively with three hundred and eighty and fourteen workers, this last ones selected among those in the larger sample. The interviews versed about social and demographic attributes, occupational and career patterns of professional and personal relationship. Covered, too, the perceptions about rules and attitudes into workplace, based on the standards of the service manuals of business. This includes thirty-four items on a scale of Lickert. These items were arranged in factors, two on the management—quality of work (QW) and introjections of organizational standards (OS)—and three on sociability—trust, maintenance and usefulness of relations (UR) at work. The interviewed answered to items, adjusting the degree of their perception of each. These data were submitted to exploratory statistical technique Correspondence Analyses (CA) in order to verify the correlation between the factors of scale and characteristics of respondents. About the correlations between management and sociability, excel in first the work scheme. Long days of work, variables scale. Long daily breaks and the policy of in-service qualification (on the job) absorb nearly the entire time the employee to maintain personal relations and hinder or even extend those trained in the work environment beyond this space. Also hinder invest in studies, another area of sociability, what surprises in a sample whose predominant age range did not exceed thirty years and whose occupation has little chance of career. In this framework of restrictions, the condition of gender and family were relevant, because women, in particular mothers, reported less leisure activities, in little groups and with minimal presence of workmates, compared to men. Furthermore, we found some cases of people which made affective relationships into the workplace, even the coexistence is restricted to the company. Another striking feature was the dependence on family support for the exercise of labor activity and to face the vicissitudes of the labor market. The importance of family ties was reinforced by the long time of residence in the same neighborhood and, in significant proportion, in the same home, in several cases the housing was close or in the same house of parents or parents-in-law, facilitating the mutual aid. Another aspect that stood out the management of human resources was the perceived vagueness in the criteria for professional growth and application of standards, contributing to the existence of conflicts veil. To establish social ties, the employees place a selective trust, expressed in a few people who are confident in the work. It is worth noting here also a small variation between men and women, because men trust more than women in their workmates. The Correspondence Analysis showed sensitive differences of perception on quality of work and introjections of rules among workers with the first record in the labor book and those with previous experience in a formal work. The first notice a more effective control (surveillance) of management and express less agreement with organizational rules, while the others (the second) do not realize the control as the same way and is seen as complying with these rules. These results were interpreted as arising from different previous trajectories, in formal or informal labors, or because it is the first job. Cannot be said that the restrictions on sociability are due exclusively to characteristics of management in this sector, in view the incidence of another factors, as the social-economic condition of the family or the time of employment, on average two years among the respondents, which may have contributed to these results.

Identificador

GONÇALVES, Ida Lenir Maria Pena. “A gente tem uma vida lá fora...”: relações entre gestão de recursos humanos e sociabilidade das pessoas empregadas nos supermercados da Região Metropolitana de Belém. 2009. 432 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Belém, 2009. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.

http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/3033

Idioma(s)

por

Direitos

Open Access

Palavras-Chave #Socialização #Gestão #Recursos humanos #Trabalho #Supermercado #Região Metropolitana de Belém #Pará - Estado #Amazônia Brasileira
Tipo

doctoralThesis