A realidade em exercício: um percurso entre filosofia e fotografia


Autoria(s): Conceição, Nélio Rodrigues da
Data(s)

06/09/2013

01/07/2013

Resumo

Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Filosofia, especialidade de Estética

Esta dissertação debruça-se sobre as relações entre o pensamento filosófico e a fotografia, mediante três eixos que de diferentes modos se entrecruzam: 1) uma exploração de teorias de cariz fenomenológico que abordam a fotografia ou que são por esta invocadas; 2) uma releitura do pensamento de Walter Benjamin sobre a fotografia a partir da noção de exercício; 3) um aprofundamento crítico da questão da semelhança em fotografia, com um desenvolvimento da teoria mimética de Benjamin. Dois excursos absorvem e desviam estes eixos. No primeiro capítulo aborda-se, inicialmente, a fenomenologia de Husserl e suas análises da consciência de imagem, confrontando-as com as perspectivas de Sartre e Barthes. Desse confronto despontam o alcance e os limites do quadro conceptual fenomenológico, bem como a “novidade filosófica” da fotografia, a qual obriga a uma inflexão conceptual em direcção à magia e às forças do olhar, à acentuação da evidência e do afecto. A constituição técnica da fotografia provoca uma relação com a realidade sob a forma de uma queimadura que contém, in nuce, inúmeras consequências e irradiações. Seguindo de perto a questão da evidência a partir de Fernando Gil, ensaiase repensá-la ao nível da fotografia, situando-a numa ambiguidade epistemológica plena de fertilidade. A descrição fenomenológica do gesto de fotografar, segundo Flusser, marca uma série de traços definidores da fotografia e uma singular afinidade entre gesto fotográfico e filosófico, introduzindo também a noção de afinação no âmbito de uma teoria dos gestos. No segundo capítulo, segue-se o fio condutor da expressão “um atlas em exercício” (Übungsatlas), com a qual Benjamin se refere às fotografias de August Sander. Um acesso-chave a esta expressão encontra-se na delicada empiria de Goethe e nas questões morfológicas por ele exploradas. Mediante as suas repercussões no pensamento de Benjamin, são abordadas questões afectas à observação fotográfica e à fisionomia, desenvolvendo-se ainda o papel do corpo e da presença de espírito no contexto da instância do exercício filosófico-fotográfico. Recomeçar e desviar as análises precedentes é a consequência necessária da divisa “método é desvio”. No terceiro capítulo, é avaliada a pertinência da semelhança para a compreensão da fotografia. Num primeiro momento, situa-se a questão da semelhança na sua diversidade empírica e conceptual, confrontando-a com algumas ideias feitas da teoria da fotografia. Propõe-se uma compreensão da fotografia enquanto representação que apresenta, abrindo-a, seguidamente, ao domínio do vivido, dos seus movimentos e das suas forças expressivas e artísticas. A teoria mimética de Benjamin permite uma revisitação da aura e da rememoração, do inconsciente óptico das fotografias de Bloßfeldt enquanto locus onde se estabelece uma tensão entre pormenor e todo. Por último, trata-se de pensar a dimensão fantasmagórica e os espíritos que pairam quer ao nível da mímesis, quer ao nível das suas contaminações fotográficas. A experiência

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/10380

101293089

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Filosofia #Fotografia #Fenomenologia #Olhar #Evidência #Gesto
Tipo

doctoralThesis