Nietzsche no pensamento contemporâneo. O Nietzsche de Domenico Losurdo confrontando com o Nietzsche da pós-modernidade


Autoria(s): Pereira, Teresa Maria da Silva
Data(s)

24/04/2013

24/04/2013

01/12/2012

Resumo

Dissertação de Mestrado em Filosofia Política

Este trabalho foi suscitado pela enorme divulgação e variabilidade da receção das ideias de Nietzsche em distintos contextos sociais e culturais. Tal facto comporta um certo número de dificuldades, ironias e paradoxos. A imensa “popularidade” desta obra deve ser considerada irónica, face ao páthos aristocrático e “inatual” que o filósofo inquestionavelmente lhe pretendeu imprimir. A sua imensa atualidade é também inseparável duma ambivalência constitutiva relativamente ao tema da “doença”: Nietzsche considerou viver numa época “doente”, tendo entretanto o próprio sido assombrado por aquela em sentido estrito, o que sugere uma possível origem médica da sua atitude. Em que medida esta dificuldade na relação com a doença se mantém no atual acolhimento da sua obra? Este problema entronca noutro, relativo ao modo como os aspetos diretamente políticos, inegavelmente presentes na obra de Nietzsche, se imbricam e mutuamente condicionam com traços mais estritamente pessoais da sua vida. Considerámos primeiramente a obra de Domenico Losurdo Nietzsche, il ribelle aristocratico – Biografia intellettuale e bilancio critico, de 2002, cujo lançamento foi marcado por várias polémicas, em parte ligadas à assunção explícita dum tratamento da obra de Nietzsche em chave de leitura eminentemente política; mas também pela discussão suscitada pelo mesmo quanto à tradição de traduções da obra nietzschiana, alegadamente marcada pelo que designa depreciativamente por “hermenêutica da inocência”. O Nietzsche de Losurdo é, por oposição ao que propõe esta hermenêutica, um filósofo totus politicus, mas ainda assim, ou precisamente por isso, autor duma obra dotada de inegável “excedente teórico”. Procedemos depois à apresentação dum grupo de leituras “pós-modernas” da obra de Nietzsche, concretamente as correspondentes aos trabalhos de Gilles Deleuze, Michel Foucault e Gianni Vattimo. Este grupo de autores, sem embargo de inegáveis especificidades de cada um e de todos eles, evidencia tendências comuns para ler em Nietzsche um defensor do lúdico, da ligeireza e da criatividade, um proponente do caráter infindável da interpretação e da “morte do sujeito”, um adversário da reductio ad unum imposta ao pensamento pela tradição racionalista e dos bloqueios à vida instituídos pela própria filosofia da história. A leitura quer de Losurdo quer deste outro grupo de autores foi parcialmente mediada por intervenções, cronologicamente mais próximas de nós, de Jan Rehmann e Stefano Azzarà, entre outros. Em termos gerais colhemos a impressão de que a leitura de Losurdo é mais credível quanto à sua fundamentação interpretativa, ou à autenticidade da captação do sentido atribuído pelo próprio Nietzsche à sua obra. Isso obviamente não invalida a fecundidade das inspirações que esta última tenha suscitado nos seus leitores “pós-modernos”, mas recomenda muita prudência quanto à forma como elucubrações nela possivelmente inspiradas possam ser apresentadas enquanto “interpretações” da obra nietzschiana. A leitura de Losurdo, entretanto, apesar de muito sólida quanto à fidelidade textual e contextual da Verstehen, coloca ela própria vários problemas, de entre os quais se destacam as limitações associadas à estrita politização do quadro de leitura, o qual deveria ser alargado de modo a poder integrar com maior eficácia aspetos propriamente psicológicos ou pessoais da obra e da vida de Nietzsche.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/9392

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

restrictedAccess

Palavras-Chave #Hermenêutica de inocência #Politização #Pós-modernidade #Diversidade #Paradoxos #Aspetos psicológicos
Tipo

masterThesis