Nós callcentristas somos o novo proletariado. Identidades e resistências do trabalho em call center


Autoria(s): Louçã, João Carlos Anacleto
Data(s)

21/03/2013

21/03/2013

01/09/2012

Resumo

Dissertação de mestrado em Antropologia - Direitos Humanos e Movimentos Sociais

Esta tese aborda o setor dos call centers em Portugal, as suas formas de organização de trabalho no quadro da precariedade como fenómeno generalizado e condicionante de vivências sociais e de direitos. A construção de consensos capazes de garantir normas e processos de funcionamento em que trabalhadores e trabalhadoras, progressivamente, adquirem estatuto de "colaboradores", tornando mais frágil o seu vínculo formal com as entidades empregadoras, é frequentemente questionada por atitudes de resistência através das quais, de forma individual ou coletivamente, procuram melhores condições de trabalho e assegurar a continuidade dos seus empregos. A hegemonia do discurso do mérito individual, da flexibilidade e da ausência do Estado nas formas de regulação entre trabalho e capital é uma afirmação ideológica do capitalismo à escala global, podendo ser verificada no exemplo dos call centers. Ela significa um movimento de regressão sobre a construção social que predominou no pós guerra nos países industrializados a propósito dos direitos dos trabalhadores e do trabalho enquanto forma de aceder a uma cidadania plena e a direitos humanos elementares. Mas esta construção ideológica não se faz sem perturbações ou sem momentos em que o consenso suposto deixa de existir, quando trabalhadores e trabalhadoras agem nesse sentido. A débil presença dos sindicatos no setor tem necessariamente de ser enquadrada em novas formas de construção identitária e de pertença a comunidades em que a circulação da informação a uma escala ampla, é capaz de determinar a relação de forças e capacidade de resistência de quem trabalha num call center. A globalização capitalista assegura uma rede de relações em que a origem do capital se encontra desfocada por uma realidade em que o trabalhador se encontra quase sempre a trabalhar através de entidades intermediárias e em subcontratações e onde quem tem o poder real dentro de um call center, não é nunca, formalmente, o empregador. Clientes confundem-se com patrões numa confusão de papéis que protege o capital e torna o trabalho mais dependente, retirando-lhe capacidade de luta e transformado o conflito de classes num jogo de sombras. Por outro lado, as pessoas que trabalham em call centers podem ser designadas enquanto novos proletários num quadro económico de crescente importância dos serviços, de utilização das tecnologias de informação e de interpenetração das atividades produtivas com as improdutivas. Gerações de trabalhadores, muitas vezes qualificados, em trabalhos desqualificados e desvalorizados socialmente, com menos direitos garantidos que as gerações que os precederam, mas com capacidade para resistir. Essa capacidade é a de se constituírem enquanto expressão de um movimento social amplo, capaz de colocar os direitos do trabalho no centro da construção da cidadania necessária para o século XXI.

Identificador

http://hdl.handle.net/10362/9166

Idioma(s)

por

Publicador

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Call center #Precariedade #Resistências
Tipo

masterThesis