Deficiência, autonomia e teatro: trabalho de projecto

Trabalho de Projeto submetido à Escola Superior de Teatro e Cinema para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Teatro - especialização em Teatro e Comunidade.

No âmbito do Mestrado em Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema, com especialização em Teatro e Comunidade, desenvolvi um projeto com um grupo de pessoas com deficiência, com a finalidade de o integrar e contextualizar na minha experiência teatral e no meu percurso enquanto professor na área de Saúde no Instituto Politécnico de Leiria. O objetivo final foi demonstrar como o teatro pode contribuir para a realização pessoal e a integração social de um grupo de pessoas com deficiência. Não foi meu propósito utilizar o teatro com finalidades terapêuticas, ou seja, baseado em técnicas e métodos do teatro terapêutico. Quis trabalhar o indivíduo como ser holístico, com as suas deficiências, as suas incapacidades, as suas necessidades e as suas potencialidades. Pretendi valorizar o indivíduo como um todo cujas componentes físicas, emocionais e mentais estão intimamente relacionadas e em constante interação. Partindo inicialmente de uma colaboração com a minha colega Magda Dimas, de que resultou o espetáculo Vermelho, realizado com um grupo de alunos da Fundação Liga, decidi desenvolver esse trabalho no sentido de uma maior autonomização dos elementos do grupo, de que resultou o espetáculo A Primeira Lição, fruto duma fusão entre a peça A Lição de Ionesco (1951) e a Cartilha Maternal de João de Deus (1876). Não tendo formação específica em teatro terapêutico, utilizei os meus conhecimentos de teatro para criar um espetáculo com um elenco de alunos/atores com diversos tipos de deficiência. Pude verificar que o grupo em questão estabeleceu uma verdadeira interação de “fazedores de teatro”: o teatro contribuiu para o enriquecimento pessoal, artístico e social dos participantes, em vez de ser usado como método de intervenção terapêutica. O resultado final, sem a presença em palco de terceiros ou do encenador, foi a prova de que até os casos mais extremos de deficiência não são impeditivos de fazer teatro. O grupo-alvo deu uma verdadeira prova de autonomia.

ABSTRACT - Within the framework of the Master Course of Theater at Lisbon’s Theater end Cinema Highschool, with specialization in Theater and Community, I developed a project with a group of people with disabilities, with the aim of incorporating and contextualizing it within my theatrical experience and my route as a teacher in the field of Health at the Polythecnic Institute of Leiria. The ultimate aim was to demonstrate how the theater can contribute to the personal self-fulfilment and social integration of a group of people with disabilities. My purpose was not to use the theater in a therapeutical way, namely with technics and methods of therapeutical theater. I wanted to work the individual as a holistic being, with his disabilities, necessities and potencialities. I aimed to value the individual as a whole, whose physical, emotional and mental dimensions are intimately connected and permanently interplaying. Starting originally in colaboration with my colleague Magda Dimas, the first result was the show Vermelho [Red], made with a group of pupils of the Liga Foundation in Lisbon. I then decided to develop that work for the purpose of increasing the autonomy of the members of the group, which resulted in the show A Primeira Lição [The First Lesson], merging the play La leçon by Ionesco (1951) and the manual Cartilha Maternal [Maternal Spelling Book] by João de Deus (1876). Having no specific training in therapeutical theater, I used my theater knowledge to create a show with a cast of students/actors with different kinds of disabilities. I have been able to conclude that the group established a real interaction as “theater makers”: theater contributed to the personal, artistical and social enrichment of the participants, instead of being used as a therapeutical method. The final result, without the help onstage of a third party or the stage director, showed that even the most extreme cases of disabilities do not prevent anyone of making theater. The target group gave a real proof of autonomy.