Ocorrência circadiária de crises em doentes com epilepsia


Autoria(s): Nzwalo, Hipólito José da Silva, 1978-
Contribuinte(s)

Paiva, Teresa, 1945-

Bentes, Carla

Data(s)

16/05/2016

16/05/2016

2016

Resumo

Tese de mestrado, Ciências do Sono, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2016

A ocorrência de crises epiléticas em determinados tipos de epilepsia pode obedecer a um padrão circadiário não uniforme ou não aleatório. Pretendeu-se com este trabalho caracterizar o padrão circadiário de crises epiléticas em doentes com epilepsia focal submetidos a monitorização vídeo-eletroencefalográfica. Realizou-se uma revisão retrospetiva dos registos consecutivos de 123 doentes com epilepsia focal incluídos no programa de cirurgia da epilepsia, que realizaram a monitorização vídeo-eletroencefalográfica. As crises foram distribuídas em blocos de 3 e 4 horas ao longo de 24 horas. Somente doentes cuja localização da epilepsia foi definida o suficiente para serem candidatos a cirurgia da epilepsia foram incluídos. A idade média dos doentes foi de 37.7 anos, com desvio padrão de 11.5 anos, e mediana de 37. A maioria (70/56%) era do sexo feminino. Em termos etiológicos, a esclerose mesial temporal (86/69.9%) foi a forma mais comum de epilepsia focal. Tumores (18/14.6%), malformações do desenvolvimento cortical (7/5.7%), gliose reativa (5/4%), lesões vasculares (4/3.2), e perturbações da migração neuronal (3/2.6%) contribuíram como lesões causativas da epilepsia focal nesta série. A maior parte dos doentes teve a sua epilepsia focal topograficamente localizada ao lobo temporal mesial (102/83%) e no lobo temporal neocortical (13/11%). Os restantes doentes, agrupados na categoria epilepsia focal extra-temporal (8/6%) tinham lesões localizadas no lobo frontal (4) e parietal (4). Oitenta e quatro (68.3%) doentes foram operados, com evolução favorável em todos: classe 1 (74/88%), classe 2 (6/7.1%), e classe 3 (4/4.9%), validando a correta localização topográfica do foco epilético nesta série. Foi identificado um padrão não uniforme de distribuição de crises com origem no lobo temporal, em localização mesial e neocortical, com dois picos de ocorrência, tanto na distribuição por bins de 3 ou 4 horas, entre as 10:00–13:00/16:00-19:00 e 08:00-12:00/16:00-20:00 horas respetivamente (p=0.004). Não foi identificado nenhum padrão circadiário em doentes com crises com origem extra-temporal. A ocorrência circadiária de crises é reconhecida em determinados tipos de epilepsia, mas estudos sobre a ritmicidade da ocorrência de crises são escassos. Neste sentido, a sua replicação e validação é fundamental. O presente estudo confirma o padrão bimodal de crises na epilepsia com origem no lobo temporal. No entanto, o pico de crises varia entre os diferentes estudos, sugerindo que o ambiente, fatores exógenos rítmicos ou ainda zeitgebers sociais possam modular o ritmo endógeno circadiário de ocorrência de crises epilépticas. A caraterização da ritmicidade circadiária de crises pode influenciar o diagnóstico e o tratamento de determinados tipos de epilepsia, em concreto da epilepsia do lobo temporal, que é a forma mais comum de epilepsia refractária ao tratamento médico.

The occurrence of seizures in specific types of epilepsies can follow a circadian non uniform or non-random pattern. This study aimed to characterize the circadian patterns of clinical seizures associated with focal epilepsy who underwent video-encephalography. We retrospectively reviewed the scalp EEG recordings from 125 consecutive adult patients with FE, included in our epilepsy surgery program and undergoing video-EEG. Distribution along 3 or 4 hour time blocks or bins throughout 24 hours. Only those patients in whom the epilepsy focus was defined and then candidates to epilepsy surgery were included and etiology were analyzed. The mean age was 37.7 years, with standard deviation of 11.5 years, median of 37. The majority were females (70/56%). The most common etiology was mesial temporal sclerosis (86/69.9%). Neoplasms (18/14.6%), malformations of cortical development (7/5.7%), reactive gliosis (5/4%), vascular lesions (4/3.2) and neuronal migration disorders (3/2.6%) also contributed as a causative lesions in this series. The majority of patient had their focal epilepsy located in the mesial temporal lobe (102/83%) and in the neocortical temporal lobe (13/11%). The remaining patients with extra-temporal lobe location (8/6%) had their lesions located in the frontal lobe (4) and parietal lobe (4). Favorable Engel outcome occurred in all patients submitted to surgery (n=84), class 1 (74/89%), class 2 (6/7.1%) and 3 (4/4.9%), supporting correct localization of epileptogenic zone in this series. Non-uniform seizure distribution was observed in seizures arising from the temporal lobe (mesial temporal lobe and neocortical temporal lobe), with two peaks in both 3 and 4 hours bins between 10:00–13:00/16:00-19:00 and 08:00-12:00/16:00-20:00 respectively (p=0.004) identified. No specific circadian pattern was identified in seizures from extra-temporal location. Circadian pattern is recognized in certain types of epilepsy, but studies on 24-h rhythmicity in seizure occurrence are scarce. Their replication and validation is therefore fundamental. Our study confirms the bimodal pattern of temporal lobe epilepsy independently of the nature of the lesion. However, peak times differ between different studies, suggesting that the ambient, or rhythmic exogenous factors or environmental/social zeitgebers, may modulate the endogenous circadian rhythms of seizures. Characterization of chronotypes can influence diagnosis and treatment in selected types of epilepsy, such as the case of temporal lobe epilepsy, which is the most common medical refractory epilepsy.

Identificador

http://hdl.handle.net/10451/23690

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Epilepsia #Crises #Ocorrência circadiária #Teses de mestrado - 2016 #Domínio/Área Científica::Ciências Médicas::Ciências da Saúde
Tipo

masterThesis