A Academia Real das Ciências de Lisboa (1779-1834) : ciências e hibridismo numa periferia europeia


Autoria(s): Silva, José Alberto Teixeira Rebelo da
Contribuinte(s)

Simões, Ana, 1958-

Data(s)

17/04/2015

17/04/2015

2015

2015

Resumo

Tese de doutoramento, História e Filosofia das Ciências, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2015

A Academia Real das Ciências de Lisboa tem ocupado um lugar subsidiário, às vezes até ornamental, quando não está mesmo ausente, da narrativa historiográfica em geral e da história das ciências em particular. A presente dissertação tem como propósito caracterizar o processo de produção e organização das ciências numa periferia europeia, protagonizado pela Academia Real das Ciências de Lisboa no período que decorre desde a sua fundação, em 1779, até à sua primeira reforma estatutária, em 1834. As evidências recolhidas passaram, em primeiro lugar, pela determinação da configuração social e profissional dos seus sócios e da sua evolução ao longo dos primeiros cinquenta anos de funcionamento da Academia. Em segundo lugar, pela articulação desses resultados com as linhas programáticas da Academia que emergem da análise quer dos textos impressos não periódicos, quer da sua publicação periódica de maior longevidade, a História e Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Em terceiro lugar, pelo recenseamento e análise dos programas postos a concurso pela Academia para atribuição de prémios, dos prémios atribuídos, bem como das comissões técnico-científicas em que a Academia esteve envolvida de modo a esclarecer a sua relação com o poder através da sua função de consultoria técnico-científica. Com base nas evidências recolhidas foi então possível chegar a um conjunto de conclusões que passamos a enunciar. A estrutura e prática programáticas da Academia resultaram de processos de apropriação e transformação de modelos e programas preexistentes de produção e organização do conhecimento, integrados por variáveis de natureza social e política específicas do contexto local em que a Academia emergiu. A sua configuração socioprofissional, inicialmente marcada por um contexto de final de Antigo Regime, sofreu uma viragem geracional indutora de uma concomitante viragem nas respetivas opções programáticas. A condição de periferia europeia da Academia, conjugada com a de centralidade colonial, permitiram explicar a sua rede de associados luso-brasileiros, bem como o seu próprio perfil programático. Os primeiros cinquenta anos do funcionamento da Academia Real das Ciências foram caracterizados por um hibridismo programático - subjacente ao qual existia um entendimento polissémico das “Ciências” que constituíam o objeto da Academia - indexável a transfigurações na natureza programática da Academia. Sociedade económica, sociedade médica, repartição governamental foram os sucessivos rostos dessas diferentes transfigurações que marcaram o percurso programático da Academia Real das Ciências de Lisboa nos primeiros cinquenta anos da sua existência.

The Royal Academy of Sciences of Lisbon has occupied a subsidiary place, sometimes barely ornamental, or even totally absent, in the historical narrative in general and, in the history of science in particular. This dissertation aims at reversing this state of affairs by characterizing the process of production and organization of science in a European periphery which was orchestrated by the Royal Academy of Sciences of Lisbon, in the period since its foundation in 1779, to its first statutory amendment, in 1834. This goal was achieved pursuing the following thematic axes. First, by determining the social-professional universe of its members and its evolution during the first fifty years of existence. Secondly, by combining these results with the different academic programmatic lines that emerge from the analysis of both the non-periodic printed texts, and the Academy´s regular publication, “History and Memories of the Royal Academy of Sciences of Lisbon”. And finally, by the analysis of the prize competition programs implemented by the Academy, the technical and scientific committees in which the Academy was involved in, as well as its technical and scientific advisory role, which enables to clarify the relationship forged by the Academy with power and government structures. Based on the evidence collected, the following conclusions ensue: a) the structure and programmatic practices of the Academy resulted from processes of appropriation and transformation of existing programs and models of production and organization of knowledge, dependent on the social and political context in which the Academy emerged; b) the Academy social and professional context, and specifically its generational make-up and reproduction, initially marked by a context of end of Old Regime, induced a concomitant shift in the respective programmatic options; and finally c) the Academy´s European peripheral status, together with its colonial centrality enables to explain both its network of Luso-Brazilian members as well as its programmatic profile. In conclusion, the first fifty years of the Royal Academy of Sciences were characterized by a programmatic hybridism, behind which stood a polysemic understanding of "Sciences" which were the Academy´s object. These idiosyncratic characteristics account for the multifarious outlooks of its evolving programmatic nature: Economic society, medical society, government agency were the successive faces of these different transfigurations that marked the programmatic route of the Royal Academy of Sciences of Lisbon in the first fifty years of its existence.

Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), SFRH/BD/40417/2007

Identificador

http://hdl.handle.net/10451/17942

101268858

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Academia Real das Ciências de Lisboa #Hibridismo #Polissemia #Periferia #Teses de doutoramento - 2015
Tipo

doctoralThesis