Captura-recaptura como método epidemiológico a aplicarà esclerose múltipla


Autoria(s): Sá, João Carlos Correia de, 1959-
Contribuinte(s)

Ferro, José Manuel, 1951-

Montalban, Xavier

Data(s)

08/04/2014

08/04/2014

2014

Resumo

Tese de Doutoramento, Neurologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2014

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica do sistema nervoso central de etiologia desconhecida. A grande variabilidade da frequência da doença foi reconhecida desde Charcot. Foi contudo John Kurtzke quem, em 1975, postulou que a prevalência da doença aumentava nos dois hemisférios com a latitude, sendo praticamente inexistente nas regiões equatoriais. Estes conceitos perduraram como verdades científicas indiscutíveis durante mais de duas décadas, classificando os países da Europa do sul, entre os quais Portugal, como regiões da baixa prevalência da doença. Nos países do sul da Europa e nas ilhas do Mediterrâneo foram realizados nos anos oitenta e noventa elevado número de estudos epidemiológicos para aí determinar a prevalência da EM. Adoptaram estes estudos uma metodologia desenvolvida por Geoffrey Dean, que consiste em escrutinar uma região circunscrita, com uma população reduzida, durante um período de tempo considerável (quatro a cinco anos), utilizando todas as fontes de informação aí disponíveis. As taxas brutas de prevalência de EM, assim apuradas foram muito superiores às estimadas por Kurtzke, tendo sido refutada a existência duma variação linear da prevalência da doença com a latitude nesta região do hemisfério Norte. Verificou-se contudo existir aqui grande variabilidade na prevalência da doença, com diferenças importantes e inexplicadas entre regiões geográficas vizinhas. Desta forma é importante continuar a realizar estudos epidemiológicos para estimar localmente a prevalência da EM. Para tal é contudo necessário adoptar novos métodos que possibilitem produzir resultados de forma mais rápida e económica. Duas hipóteses estão subjacentes a esta dissertação: a primeira é que a prevalência da EM em Portugal é muito superior à anteriormente estimada por Kurtzke nos anos setenta e oitenta, situando-se actualmente em níveis de média e alta prevalência (superiores a 50/100.000); a segunda é que a metodologia de captura-recaptura, importada das ciências biológicas, uma vez aplicada à epidemiologia da esclerose múltipla, pode produzir, de forma muita mais rápida e exequível, resultados fidedignos, substituindo assim, com vantagens óbvias, os morosos métodos clássicos até aqui adoptados nos estudos de base populacional realizados. O trabalho conduzido no Concelho de Santarém entre 1994 e 1999 foi o primeiro estudo de base populacional realizado no país. Neste trabalho foi adoptada a metodologia clássica genericamente utilizada pelos investigadores do sul da Europa nos estudos de epidemiologia da EM aqui realizados. Apurou-se uma taxa bruta de prevalência de EM de 46,9 / 100.000 habitantes, número este classificável num intervalo de média-alta prevalência da doença. Ulteriormente, em 2009, utilizando a metodologia de captura-recaptura, realizei um estudo epidemiológico inovador para estimar a prevalência da EM em 3 centros de saúde da Unidade A da Região Setentrional da ARS de Lisboa (Odivelas, Benfica e Pontinha), apurando-se respectivamente taxas brutas de prevalência de 53, 62,4 e 57,5 por 100.000 habitantes, valores estes que não diferem significativamente da prevalência estimada previamente no Concelho de Santarém. Foi possível ainda estabelecer comparações entre variáveis demográficas e clínicas das populações de doentes identificadas nos dois estudos, que se revelaram muito semelhantes. Pode-se concluir que Portugal é um país em que a prevalência da EM é actualmente muito superior ao que era anteriormente admitido, não diferindo substancialmente dos valores relatados no grande maioria dos países da Europa do sul e que a metodologia de captura-recaptura aplicada à epidemiologia da EM, em estudos de base populacional em pequenas populações, pode ser utilizada com grandes vantagens face aos estudos clássicos muito exigentes em tempo e dedicação.

Multiple sclerosis (MS) is a chronic inflammatory disease of the central nervous system, of unknown etiology. The great variability in the frequency of the disease has been recognized since Charcot. However, it was John Kurtzke who, in 1975, postulated that the prevalence of the disease increased with latitude in both hemispheres and was practically nonexistent in the equatorial regions. These concepts have lasted as undisputed scientific truths for more than two decades, ranking the countries of southern Europe, including Portugal, as regions of low disease prevalence. During the decade of 80’s and 90’s, a large number of epidemiological studies were conducted in southern Europe countries and Mediterranean islands, to determine the prevalence of MS. These studies have adopted a methodology developed by Geoffrey Dean, which consists of investigating a circumscribed region, with a small population, for a considerable period of time (four to five years), using all the sources of information available there. The crude prevalence figures of MS, determined by this method, were much higher than those estimated by Kurtzke, having refuted the existence of a linear variation of disease prevalence with latitude in this region of the northern hemisphere. Nevertheless, it was found a great variability in prevalence of the disease, with significant unexplained differences between neighboring geographic regions. Thus, it is important to continue to carry out epidemiological studies to estimate the prevalence of MS at local level. However, to achieve that it is necessary to adopt new methods that allow the production of results in a faster and more economical way. Two assumptions underlie this dissertation: the first is that the prevalence of MS in Portugal is much higher than previously estimated by Kurtzke in the seventies and eighties, and actually stands at levels of medium and high prevalence (over 50/100.000); the second is that the capture-recapture method, imported from biological sciences, once applied to the epidemiology of MS, can produce, in a faster and feasible way, reliable results, thereby replacing, with obvious advantages, the time-consuming classical methods adopted so far in population-based studies. The study conducted in the Santarém district, between 1994 and 1999, was the first population-based study done in Portugal. In this work, it was adopted the classical methodology generally used by researchers in epidemiological studies of MS performed in southern Europe. It was found a crude prevalence of 46,9 per 100.000 inhabitants, a number classifiable in a range of medium-high disease prevalence. Subsequently, in 2009, using the capture-recapture methodology, I conducted an innovator epidemiological study to estimate the prevalence of MS of three geographically adjacent primary-care districts in Lisbon’s Northern Health Area (Odivelas, Benfica e Pontinha). The crude prevalence figures obtained were respectively 53; 62,4 and 57.5 per 100.000 habitants, values that do not differ significantly from the previously estimated prevalence in the Santarém district. It was also possible to establish comparisons between demographic and clinical variables of the patient populations identified in the two studies, which proved to be very similar. It was concluded that Portugal is a country where the prevalence of MS is currently much higher than was previously admitted, not differing substantially from the values reported in most of the southern Europe countries, and that the capture-recapture methodology applied to epidemiology of MS, in population-based studies of small populations, can be used with great advantage, compared to the time consuming and demanding classical studies.

Identificador

http://hdl.handle.net/10451/10837

101305117

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Esclerose múltipla #Epidemiologia #Prevalência #Neurologia #Portugal #Tese de Doutoramento - 2014
Tipo

doctoralThesis