Prática desportiva, qualidade de vida, violência escolar, composição e satisfaçação corporal dos adolescentes algarvios


Autoria(s): Elias, Joana Isabel da Silva Santos
Contribuinte(s)

Gomes, Alexandra

Jesus, Saul

Data(s)

26/01/2016

26/01/2016

29/06/2015

2014

Resumo

Tese de douoramento, Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, 2014

O corpo humano, em consequência da atividade física regular, passa por alterações morfológicas e funcionais que produzem melhorias na sua capacidade de resposta ao esforço físico, promovem o estado de saúde geral e podem evitar ou adiar o aparecimento de determinadas doenças. Assim, entende-se que a atividade física e o desporto durante a infância e a adolescência são essenciais para a saúde física e mental, e constituem um dos pilares essenciais de um futuro estilo de vida mais ativo e consequentemente com mais qualidade. A qualidade de vida, conceito de grande relevância social, é hoje assumida numa perspetiva global e multidimensional. Trata-se de uma representação social concebida sob parâmetros subjetivos tais como o bem-estar, felicidade, amor, prazer e realização pessoal e ainda sob parâmetros objetivos tais como a satisfação das necessidades básicas e das necessidades inspiradas pela sociedade onde o individuo está inserido. É então a perceção que individuo têm da sua posição na vida e no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL, 1994). Existe uma relação consistente e positiva entre qualidade de vida e atividade física. Na adolescência, fase sensível e crítica do desenvolvimento humano, a prática frequente de atividade física representa um pilar fundamental para um melhor desenvolvimento físico, mental e social, premissas para uma boa qualidade de vida. O período da adolescência, marcado por profundas alterações morfológicas, psicológicas e socias é também de grande crescimento físico o que altera inevitavelmente a satisfação com a imagem corporal (Damasceno, 2006). A satisfação corporal é definida como uma avaliação subjetiva que o individuo tem da sua aparência física (Slade, 1994). A forma como este perceciona o seu corpo é condição fundamental na formação da sua identidade. Satisfação corporal é então um fator fundamental na autoestima dos indivíduos, uma vez que a insatisfação com o corpo transporta sentimentos e pensamentos negativos quanto à aparência influenciando fortemente o bem-estar do adolescente (McCabe, 2004). A existência de situações de violência e agressividade nas escolas tem evoluído na última década de um assunto interno para um tema recorrente na agenda política e educativa. Muitas são as investigações acerca da violência na adolescência pelas consequências que esta acarreta ao normal desenvolvimento dos jovens como implicações ao nível da saúde (Nansel, Overpeck Pilla, Ruan, Simons-Morton & Scheidt 2001), da baixa de autoestima (Engert, 2002), do aumento de comportamentos de risco, tal como o consumo de substâncias nocivas (Matos & Carvalhosa 2001) ou até de atitudes suicidas (Ferreira & Schramm, 2000). O adolescente que mais frequentemente é vítima de violência escolar, tem menor autoestima (Bandeira & Hutz, 2010). A prática regular de atividade física oferece mecanismos de defesa ao adolescente uma vez que aumenta a sua autoestima (Schmalz, Deane, Birch & Davison, 2007) e diminui a probabilidade de excesso de peso e de excesso de gordura corporal (Andersen, Crespo, Bartlett, Cheskin & Pratt, 1998). O excesso de peso e/ou uma composição corporal com maior percentagem de massa gorda além de ser prejudicial para a saúde física representa para o adolescente uma diminuição da sua autoestima e consequentemente uma maior exposição a comportamentos violentos dos pares. Interessa então, a toda a sociedade, encontrar mecanismos de proteção dos adolescentes expostos diariamente a comportamentos violentos. Na presente pesquisa, partimos com o propósito de relacionar a prática desportiva com a qualidade de vida, a composição corporal, a satisfação corporal e a violência escolar em adolescentes residentes no algarve. Pretendemos então, efetuar uma pesquisa de âmbitos diferenciados; por um lado a análise real de parâmetros objetivos relacionados com a saúde do adolescente ao avaliarmos o peso e a composição corporal nomeadamente a percentagem de gordura corporal e de massa muscular e por outro lado pretendemos efetuar a análise de parâmetros subjetivos em que o adolescente nos dá a sua perceção em relação a domínios fundamentais do seu bem-estar: a qualidade de vida a satisfação corporal e ainda a sua perceção de violência entre pares na escola. Entendemos por praticante de atividade desportiva o individuo que se encontra filiado a uma federação desportiva há mais de dois anos. Comparou-se a variável prática desportiva com as restantes variáveis de forma separada tendo sido concretizados quatro estudos distintos. No primeiro estudo verificámos o “Impacto da prática desportiva na composição corporal dos adolescentes” no segundo estudo analisámos “A qualidade de vida dos adolescentes praticantes de atividade física federada”. No terceiro estudo optámos por analisar a “Composição e satisfação corporal dos adolescentes praticantes e não praticantes de atividade física federada” e no último estudámos a “Violência escolar, composição corporal e prática desportiva na adolescência.” Para tal, analisámos uma amostra composta por 549 adolescentes, dos quais 255 adolescentes não são federados e 294 são federados. A média de idades é de 12,47 ± 0,98, sendo que 44,4% dos jovens são do sexo feminino e 55,6% são do sexo masculino. Como instrumentos de medida, utilizou-se a balança de bioimpedância, Omron BF 511 para determinar a percentagem de massa gorda (adiposidade), de massa muscular e o peso, um questionário sociométrico com questões relativas à prática desportiva, o questionário Kidscreen de Gaspar e Matos (2011), na versão para crianças e adolescentes para a avaliação da Qualidade de Vida, a Escala de Silhuetas proposta por Tiggemann e Barret (1998) para avaliar a Satisfação Corporal e o Inventário para a Avaliação da Violência na Escola (IAVE) de Matos, Simões e Jesus (2012) para analisar a violência escolar. Concluímos, relativamente à composição corporal, que os adolescentes da amostra têm valores médios mais baixos de adiposidade do que os valores de referência, situação que lhes confere melhores níveis de saúde. A prática desportiva regular e continuada condiciona positivamente a composição corporal dos adolescentes. Os resultados demonstraram que os adolescentes não integrados no desporto federado têm uma percentagem de massa gorda superior, e menor percentagem de massa muscular. As raparigas da amostra têm uma maior adiposidade corporal especialmente as não federadas. Os adolescentes que têm uma prática desportiva regular e sistemática têm também a perceção de uma melhor qualidade de vida. Quanto à qualidade de vida, observamos que os adolescentes que não praticam qualquer atividade física sentem-se mais alvo de provocações na escola e sentem-se com mais frequência “fartos, cansados e sozinhos”. As raparigas quando comparadas com os rapazes percecionam uma pior qualidade de vida especialmente nas questões relacionadas com a saúde, atividade física, sentimentos, autonomia e estado de humor. Relativamente à satisfação corporal, verificámos que os adolescentes inquiridos são, na sua maioria, indivíduos insatisfeitos com a sua imagem corporal, e que as raparigas estão mais insatisfeitas por excesso de volume à procura de uma silhueta abaixo da que têm. Os rapazes, mais insatisfeitos por defeito, ambicionam uma silhueta acima da que têm. Verificámos ainda que os adolescentes com níveis superiores de massa gorda estão mais insatisfeitos com a sua imagem corporal e gostariam de ter uma silhueta menos volumosa. Já os adolescentes com níveis mais baixos de massa gorda encontram-se insatisfeitos por defeito e gostariam de ter uma silhueta mais volumosa. Os adolescentes com níveis normais de massa gorda encontram-se maioritariamente satisfeitos com a sua imagem corporal. Concluímos ainda que os adolescentes que praticam uma modalidade desportiva são mais satisfeitos com o seu corpo. No que diz respeito à violência escolar, verificámos que a prática desportiva organizada parece oferecer aos jovens uma proteção contra este fenómeno uma vez que os indivíduos federados referiram que são menos agredidos e menos agressores. Os rapazes, quando comparados com as raparigas são mais agressores e também percecionam mais violência no espaço escolar. O peso e uma composição corporal com maior percentagem de massa gorda foram encontrados como fatores importantes na tendência da subida percentual de vítimas de violência escolar, ou seja foram estes adolescentes que mais se declararam como vítimas de ameaças e/ou agressões pelos seus pares.

Identificador

http://hdl.handle.net/10400.1/7503

101400225

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Psicologia #Adolescência #Atividade física #Composição corporal #Qualidade de vida #Saúde #Imagem corporal #Satisfação #Violência escolar #Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Psicologia
Tipo

doctoralThesis