Caracterização das capturas de tartaruga careta (Caretta caretta) e influência de parâmetros ambientais e pesqueiros, na pesca dirigida ao espadarte (Xiphias gladius) nos Açores


Autoria(s): Ferreira, Rogério Nuno Lopes
Contribuinte(s)

Erzini, Karim

Data(s)

25/10/2012

25/10/2012

2005

Resumo

Dissertação de mest., Estudos Marinhos e Costeiros, Faculdade de Ciências do Mar e Ambiente, Univ. do Algarve, 2005

Actualmente é do conhecimento comum que as tartarugas oceânicas sofrem vários impactos no seu habitat, sendo a pescaria com palangre de superfície uma preocupação mundial. No Pacífico esta pescaria é acusada de em 20 anos decrescer a população de tartarugas careta (Caretta caretta) em 80%, de aproximas a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea) da extinção e da sobre exploração de populações de tubarões pelágicos. Em águas açorianas, maioritariamente utilizadas por juvenis oceânicos de tartarugas careta, a pescaria com palangre de superfície está dirigida à captura de espadartes (Xiphias gladius) e tintureiras (Prionace glauca). A taxa de captura de caretas difere de acordo com qual das espécies é o alvo do lance. Os dados foram recolhidos durante uma experiência de modificação da arte, conduzida nos Açores entre Julho e Dezembro de 2000. Das 232 tartarugas careta registadas em 93 lances de pesca, 113 foram capturadas pela boca, 85 pela garganta e 34 encontravam-se ferradas externamente. Duas caretas estavam mortas por afogamento, todas as outras foram libertadas. Dessas, 31 ainda com o anzol na garganta, a sua mortalidade é alta. A classe de comprimento das tartarugas careta que se encontra a sofrer o impacto (24-72 cm comprimento curvo da carapaça), constitui a classe maior que ocorrem nas águas Açorianas e é considerada crucial para a sobrevivência da população Norte Atlântica. Os resultados mostram que as capturas não estão uniformemente distribuídas pelo esforço de pesca, com 1/3 dos lances a capturar 81% das tartarugas. A zona a leste do grupo oriental de ilhas caracterizou-se pela elevada captura de caretas, coincidindo com a presença na região da frente termohalina subtropical entre Agosto e Outubro. Para avaliar a influência dos parâmetros profundidade média, profundidade mínima, TSM, tempo de imersão, área varrida, fase lunar e velocidade do vento na taxa de captura de caretas ajustou-se o Modelo Linear Generalizado. Este procedimento também foi aplicado às espécies alvo, devido à sua aparente relação com a captura de tartarugas. Os parâmetros revelados pela análise foram os seguintes: para a careta, profundidade média e TSM; espadarte, profundidade mínima; tintureira profundidade média, TSM, velocidade do vento e tempo de imersão. Capturas elevadas de tartarugas encontravam-se associadas a captura elevadas de tintureiras, observadas em lances sobre águas profundas (>600br) e em lances com mais tempo de alagem. A relação entre as capturas superiores de caretas com a TSM mais altas é de esperar, devido à associação desta espécie com a zona frontal. Ainda em relação à TSM, a relação oposta encontrada entre tintureiras e tartarugas é abafada pela forte correlação encontrada entre as capturas e a profundidade média. As capturas elevadas a este das ilhas podem ser explicadas pelos redemoinhos aprisionados nessa área, referidos como normalmente presentes e induzidos pelas estruturas batimétricas. A relação entre a captura de espadarte e a profundidade mínima é esperada, visto que os lances sobre profundidades menores e/ou perto de bancos têm como alvo esta espécie. A agitação do aparelho, induzida pelo vento e ondas, aumenta a atracção da tintureira. Os juvenis de tartaruga careta habitam áreas oceânicas bem específicas, variáveis no tempo e no espaço, sendo possível prever a sua distribuição pela monitorização do oceano em relação a alguns parâmetros. Nos Açores, o impacto da pescaria nas caretas pode ser rapidamente diminuído através da gestão da pesca de tintureiras, da consciencialização dos pescadores para a conservação das tartarugas marinhas, incluindo métodos de manuseamento menos evasivos, e uma ou mais das seguintes medidas: após uma captura elevada de tartarugas deve-se mudar de área de pesca; interditar a pesca em áreas específicas e durante um período que poderá ou não ser fixo; monitorizar os parâmetros oceanográficos através de detecção remota e depois fornecer as instruções à frota. Resultados experimentais mostram que as modificações na arte de pesca têm o potencial para reduzir a captura acidental de tartarugas, mas a implementação de alterações obrigatórias do aparelho devem ser efectuadas com caução. Por exemplo, nos Açores a obrigatoriedade do uso de anzóis circulares poderá aumentar o esforço direccionado à pescaria de tintureira, levando a um aumento inesperado das interacções com as tartarugas. Deste modo é importante que a investigação continue, com a inclusão de aspectos sociais e locais, mas a implementação de medidas de minimização é de prioridade elevada se queremos manter as populações de tartarugas e tubarões do Atlântico.

Identificador

639.2 FER*Car 1

http://hdl.handle.net/10400.1/1782

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Tartaruga #Caretta #Palangre #Espadarte #Oceanografia #Conservação
Tipo

masterThesis