Da Serra de Tavira ao Rif marroquino: analogias e mitos


Autoria(s): Campaniço, Carlos
Contribuinte(s)

Macias, Santiago

Data(s)

07/09/2011

07/09/2011

2007

Resumo

Dissertação de mest., Cultura Árabe e Islâmica e o Mediterrâneo, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, 2007

O presente trabalho teve como objectivo estudar a Organização do Espaço Rural na Serra de Tavira e no Rif Ocidental e confrontar as análises efectuadas, para aquilatar das suas semelhanças. O estudo da Organização do Espaço Rural, de ambos os espaços, foi conduzido por um estudo comparativo de caso entre dois pequenos povoados de montanhas, Alcaria do Cume e Onssare, incidindo sobre os seus espaços sociais: a casa, o povoado e os campos anexos. Verificámos, então, que há pouco em comum entre a Organização do Espaço Rural de Alcaria do Cume e de Onssare, embora tenhamos comprovado, em ambos os casos, as suas intrínsecas características arcaicas de povo de montanha, que pouco parecem ter sido alteradas pelos vários povos que ocuparam as suas respectivas regiões ao longo da História. Duas fortes semelhanças detectadas entre os dois povoados são atribuíveis a uma matriz mediterrânea amplamente difundida neste espaço civilizacional: a casa de pedra e a policultura de subsistência. São também muito semelhantes as distâncias e relações que Alcaria do Cume mantém com os montes vizinhos e que Onssare mantém com as dawawire vizinhas. No resto, as semelhanças são mínimas ou inexistentes. No Espaço Casa, verificámos que a tipologia das habitações são extremamente díspares, uma vez que temos em Alcaria do Cume casas baixas e exíguas, com um modelo definido, onde há duas ou três divisões na frontaria para os humanos e as mesmas divisões nas traseiras para animais, sob o mesmo tecto de duas águas, havendo uma separação definida dos espaços entre humanos e animais. Onssare apresenta duas tipologias distintas: uma com casa térrea e outra com elevação de primeiro andar. Em ambas as tipologias verificámos que os espaços de armazenamento, de abrigo para os animais e de habitação humana são um só, havendo, inclusive, uma só entrada e saída na casa para todos. Estas habitações caracterizam-se por serem habitações com três asas, viradas para um pátio de grandes dimensões, dentro de quatro paredes, com telhados de uma, duas ou quatro águas, tendo sempre um pátio de boas dimensões, dentro destas paredes. A funcionalidade dos espaços na casa também diverge grandemente entre Alcaria do Cume e Onssare. As divisões para dormir em Alcaria do Cume servem apenas para isso, havendo uma outra célula onde se preparam as refeições, se come, se convive, se recebem os convidados e se faz lume. Nas habitações de Onssare há sempre um quarto/sala principal que prevalece sobre o resto da casa, onde se dorme à noite, servindo para comer, conviver, receber os convidados ou fazer artesanato, durante o dia. As cozinhas são pequenas e apenas têm essa função, havendo um espaço dissociado para o lume, quando existente. No Espaço Povoado, as diferenças são imensas. Desde logo, a implementação de ambos os povoados, embora em espaço de montanha, obedeceu a critérios diferentes. Em Alcaria do Cume estabeleceu-se o Monte num dos cabeços mais altos da Serra, para se aproveitarem os vales, que têm maior capacidade agrícola. Onssare privilegiou a proximidade com a água, estando implementada junto às duas margens de um pequeno ribeiro, numa zona mais côncava da montanha. A forma de ambos os povoados também difere, porquanto Alcaria do Cume tem uma forma longitudinal, mercê de duas ruas, por as casas serem contíguas umas às outras, Onssare tem uma forma circular, estando as casas separadas umas das outras e em redor de um duplo centro, a mesquita e o riacho. Em Alcaria do Cume, o espaço pertencente à casa da família pode estar disseminado pelo Monte, havendo muitas divisões dissociadas da habitação principal, onde se destacam os palheiros circulares. Em Onssare o espaço de cada família é concentrado dentro daquelas quatro paredes. No Espaço Campo também encontramos inúmeras diferenças, principalmente no tamanho da propriedade e na posse da terra, uma vez que há entre os habitantes de Alcaria do Cume uma equitativa posse da terra, com cerca de cento e cinquenta pequenas parcelas por cada habitante, enquanto em Onssare há agricultores que têm dez hectares, repartidos por um máximo de dez parcelas, podendo outros ter somente meio hectare, dividido por uma ou duas parcelas. As parcelas de pequenas dimensões de Alcaria do Cume sustentam uma economia agro-pecuária de policultura e pecuária de subsistência, que se complementam. Em Onssare o maior tamanho das parcelas permite uma agricultura mercantil, não dissociada de uma policultura de subsistência, e uma fraca produção animal, por hegemonia da agricultura. Mas a maneira como se aproveita o espaço rural também difere. Em Onssare potencia-se a agricultura não deixando terrenos em pousio, no sistema de rotatividade das terras cultivadas, enquanto em Alcaria do Cume compensa-se a prática do pousio, extremamente necessária, com a inclusão da agricultura promíscua, semeando várias espécies num mesmo terreno, algo que os rifenhos não fazem. Embora com imensas diferenças entre si, os dois povoados estudados mantêm as suas essências anacrónicas, conservadas pelo poder arcaizante das montanhas, permitindo, ainda, que se estudem as suas características seculares, quiçá milenares, pelo que as generalizadas dissemelhanças entre a Organização dos seus Espaços deverão ser entendidas como endémicas às suas ancestrais civilizações.

Formato

application/pdf

Identificador

711 CAM*Da Cave

http://hdl.handle.net/10400.1/859

Idioma(s)

por

Direitos

openAccess

Palavras-Chave #Teses #Planeamento rural #Habitação #Povoados #Dieta mediterrânica
Tipo

masterThesis