Capital como Droga, Trabalho como Vício: subjetividade, euforia e depressão na pós-modernidade


Autoria(s): Mary Suely Souza Barradas
Contribuinte(s)

Jorge Coelho Soares

Amana Rocha Mattos

Maurílio Lima Botelho

Maria de Fátima Tardin Costa

Mauricio Miranda dos Santos Oliveira

Data(s)

10/11/2015

Resumo

O objetivo central deste estudo é examinar as novas formas de subjetivação e de mal-estar engendradas pelas exigências da sociedade do trabalho no contexto do capitalismo contemporâneo. A emergência de uma nova e perversa forma de sociabilidade e de uma subjetividade ligada a ela está intrinsecamente associada às transformações estruturais da sociedade capitalista e suas atuais condições da acumulação de capital. Considerando o caráter social e histórico da sociedade capitalista, do sujeito e da subjetividade, o foco deste trabalho deve ser o sujeito interpelado pela ideologia, clivado pelo inconsciente e individualizado pelo mercado. Busco, portanto, articular pontos teóricos entre os conceitos de ideologia, fetiche e inconsciente referenciados no materialismo histórico e na psicanálise. Ao apresentar o Capital como droga e o Trabalho como vicio, pretende-se de forma alegórica desvelar os impasses e sintomas de um sistema em crise que, apesar das sucessivas tentativas de recuperação, colapsa historicamente, levando sua dinâmica perversa aos limites do insuportável. Ao subordinar a reprodução da vida ao trabalho assalariado, ao mesmo tempo em que para se reproduzir tem sistematicamente de aboli-lo, o capitalismo engendra, na sua crise estrutural, uma das mais sofisticadas formas de dominação, sujeição e exploração: a utilização dos componentes do psiquismo e da subjetivação em nome dos interesses da ordem mercantil. No mundo globalizado pelo mercado, vem aumentando o uso de drogas lícitas, fruto ou não de prescrição médica, como um recurso para inibir todo tipo de mal-estar e impasse psíquico ou reações indesejáveis que possam comprometer a adequação dos indivíduos aos padrões da produtividade, a permanência no ambiente de trabalho, bem como o enfrentamento de conflitos e frustrações inerentes à condição humana. Essa manipulação química da subjetividade potencializa-se na atualidade, expandindo globalmente a drogadicção, no sentido amplo do termo, privando o sujeito da capacidade de pensar. Ela aponta também para as impossibilidades de o sujeito desenvolver suas faculdades ativas e criativas, assim como o diálogo com o outro, o que nos conduz cada vez mais a atitudes de intolerância e violência ou estados compulsivos e depressivos. Ao contrário do que o capitalismo podia propiciar em seu período de ascensão, os modos de inclusão imaginária engendrados pelo capitalismo pós-moderno estão baseados no consumo conspícuo e no gozo imediato, implicando novos contornos para o sofrimento psíquico, agora marcado por transtornos narcísico-identitários e saídas não-representacionais. A partir dessa reflexão, busco a crítica do conceito de sujeito configurado pelo trabalho e pelo psicologismo, que tem contribuído para práticas legitimadoras de exclusão no interior da própria psicologia. Esta crítica representa um compromisso ético-político pela desalienação do sujeito e pela superação do capitalismo, aqui entendido como um sistema que produz mercadorias e viciados em drogas.

The main goal of this study is to examine the new ways in which subjects arebeing produced and the malaise generated by the demands of the labour society in the context of contemporary capitalism. The emergency of a new and perverse form of sociability and of a subjectivity bound to it is intrinsically connected to the structural transformations of the capitalist society and the current settings of the accumulation of capital. Considering the social and historic nature of the capitalist society, of the subject and of the subjectivity, the focus of this work must be the subject challenged by ideology, chopped by the unconscious and individualized by the market. Therefore, I attempt to articulate theoretical points between the concepts of ideology, fetishism and unconscious elaborated by historical materialism and psychoanalysis. By presenting capital as a drug and labour as an addiction, I intend, in an allegorical way, to uncover the deadlocks and symptoms of a in crisis system which, in spite of the continuing attempts of recovering, historically collapses, taking its perverse dynamics to the limits of the unbearable. By subordinating the reproduction of life to wage labour at the same time as it, to survive, systematically needs to abolish labour itself, capitalism engenders, in its structural crisis, one of the most sophisticated forms of domination, subjection and exploitation: the use of the components of psychism and subjectivation for the sake of market society interests. In the world globalized by market, the use of licit drugs, with or without medical prescription, has been increasing as a an expedient to inhibit all kinds of malaise, psychic deadlocks or undesirable reactions that could jeopardize the adequacy of individuals to the patterns of productivity, the endurance in the labour ambient, as much as the tackling of conflicts and frustrations inherent to the human condition. This chemical manipulation of subjectivity gets stronger these days, expanding drug addiction throughout the world, in the broad sense of the term, preventing the subject to think. It also points to the impossibility of the subject to develop its active and creative faculties, to dialogue with the other, which leads us, more and more, to intolerant and violent attitudes or compulsive and depressive conditions. In a different way than that capitalism could offer in its ascendant period, the imaginary ways of inclusion engendered by postmodern capitalism are based in the conspicuous consumption and immediate gratification, bringing new outlines to the psychic suffering, now spotted by narcisic/identidy disorders and non-representational outgoings. From this reflection, I tempt to criticize the concept of subject brought forth by labour and psychologism, that has contributed to legitimisin practices of exclusion in the interior of psychology itself. This criticism represents an ethic-political commitment for the desalienation of the subject and the overcoming of capitalism, here understood as a system which produces commodities and drug addicts.

Formato

PDF

Identificador

http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9821

Idioma(s)

pt

Publicador

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ

Direitos

Liberar o conteúdo dos arquivos para acesso público

Palavras-Chave #capitalismo #pós-modernidade #trabalho #drogadicção #sofrimento psíquico #capitalism #postmodernity #labour #drug addiction #psychological distress #PSICOLOGIA SOCIAL
Tipo

Eletronic Thesis or Dissertation

Tese ou Dissertação Eletrônica