Reciclando vidas: análise das relações de gênero e divisão sexual do trabalho com mulheres líderes de cooperativas de materiais recicláveis no Estado do Rio de Janeiro.

Após centenas de anos de exploração dos recursos naturais, a Terra começa a mostrar as consequências de seu uso descontrolado. Nas últimas quatro décadas o homem tem voltado seus olhos para a causa ambiental de forma mais intensa e conciliadora. Como resultado dessa nova maneira de pensar, a sociedade e a indústria, que se veem obrigadas a se adaptar às novas tendências de mercado e novas formas de produção. Produzindo melhor e consumindo menos, fecha-se uma cadeia de produção estruturada. Mas, por mais que se invista em tecnologia, um problema sempre existirá: o resíduo, incluindo-se nesta categoria, também os rejeitos produzidos pelas atividades humanas. O tratamento de resíduos é uma questão de difícil solução mesmo à longo prazo. As cooperativas de reciclagem se apresentam como uma nova forma de empreendimento, inserido em moldes mais modernos, baseados nos princípios da Economia Solidária, existente em países da Europa e América Latina, com destaque para o Brasil. É nesse cenário que se encontra o objeto de estudo da pesquisa: a mulher catadora/recicladora. Estatísticas apontam que em muitos estados do país elas chegam a 65% dos trabalhadores. Muitas dessas cooperativas são administradas por mulheres, quando não, frequentadas majoritariamente por elas. O objetivo geral desta pesquisa é analisar como se configuram as relações de gênero e divisão sexual do trabalho, partindo da visão das dirigentes das cooperativas. Questões semiestruturadas, com abordagem qualitativa foram elaboradas e aplicadas à nove líderes de associação de catadores da região metropolitana do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba Fluminense (Resende). As entrevistas foram filmadas para a elaboração de um documentário acadêmico, também produto desta pesquisa. Foram encontradas na pesquisa, convergências em relação à divisão sexual do trabalho, partindo de princípios sexistas onde os homens deveriam se encarregar do trabalho mais pesado e as mulheres do trabalho mais fino, como a triagem. No entanto, a realidade apontada pelas entrevistadas nos remete à naturalização do trabalho multitarefa, onde elas se incubem de realizar todos os procedimentos, estando ou não na presença de homens na cooperativa.

After hundreds of years of exploitation of its natural resources, the earth starts to show the consequences of being uncontrollably used. In the last four decades, man has turned his attention to the environment in a more concerned and responsible way. As a result, society and industry are forced to adapt to the new market trends and modes of production. Improved production and reduced consumption are structuring the new production chains. However, in spite of all tecnological advances, there will always be the problem of waste. Disposal of waste presents a challenge in the long term. Recycling co-operative societies, found in many countries in Europe and Latin America, and particularly in Brazil, are enterprises based on the principles of solidarity economics. The object of this research are the women working on such enterprises, the female collector/recycler and her environment. Statistics show that, in many states in Brazil, they may compose up to 65% of workers and often run the co-operatives themselves. The broad goal of this paper is to examine how gender issues, such as divison of labour are perceived by women running the co-operatives. Leading women from several collector co-operatives active in the metropolitan region of Rio de Janeiro and of the Vale do Paraíba region were asked to answer a series of semi-structured questions. Interviews were filmed and edited into a short documentary. Results showed a persistent trend of sexual division of labour where men were responsible for tasks requiring strengh , such as carring heavy loads and women were responsible for tasks requiring concentration and precision, such as sorting out materials. However, there was evidence of a growing tencency of women carrying out all activities, regardless of the presence of men.