Memória social de enfermeiros acerca do cuidado de Enfermagem no contexto do HIV/aids: enfrentamentos, afetos e construções representacionais


Autoria(s): Margarida Maria Rocha Bernardes
Contribuinte(s)

Fernando Rocha Porto

Denize Cristina de Oliveira

Karla Corrêa Lima Miranda

Gláucia Alexandre Formozo

Antonio Marcos Tosoli Gomes

Data(s)

24/02/2015

Resumo

Este estudo tem como objeto o cuidado de Enfermagem e suas memórias e representações sociais para enfermeiros hospitalares inseridos nas unidades de referências para pessoas que viviam com o HIV/aids no Rio de Janeiro, no decorrer de 1980 a 1991. Os objetivos específicos foram: identificar a memória social do cuidado de enfermagem implementado pelos enfermeiros aos acometidos pelo HIV/aids no Município do Rio de Janeiro; descrever as práticas de cuidado pelos enfermeiros no contexto do recorte temporal adotado no estudo; descrever o processo de enfrentamento da epidemia da aids pelos enfermeiros, tanto no contexto do cuidado de enfermagem no espaço hospitalar, quanto nas relações sociais estabelecidas; analisar as memórias e representações sociais de enfermeiros acerca do cuidado de Enfermagem prestado às pessoas com HIV/aids em situação de hospitalização na primeira década da epidemia. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, com abordagem qualitativa, baseada nos pressupostos teóricos da memória social propostos por Sá em sua interface com a teoria de representações sociais no campo da Psicologia Social. Realizada com 30 enfermeiros que atuaram em hospitais considerados de referência para o tratamento de clientes que viviam com HIV/aids. Os dados foram coletados por uma entrevista semiestruturada e a visualização de 12 fac-símiles escolhidos de forma aleatória na imprensa. A população de estudo é predominantemente do sexo feminino e com idade entre 51 a 60 anos. Os principais resultados apontam que a memória social do cuidado de enfermagem se constitui a partir de diferentes objetos representacionais (cuidado de enfermagem, aids e biossegurança), instâncias da memória social (pessoal, pública, prática, coletiva, comuns, histórica oral e histórica documental) e diversos elementos que constituem esta memória (ambiente de cuidado e relações sociais, familiares e laborais, dentre outras). Emergiram sete categorias de análise: O processo do cuidado de Enfermagem: do enfrentamento, da capacitação e do desenvolvimento; Sentimentos dos enfermeiros e dos clientes descritos pelos participantes no processo de cuidar; O processo de cuidado direto ao cliente no início da epidemia; Memórias da autoproteção profissional e da proteção ao cliente no contexto do HIV/aids; Os contextos do cuidado: ambiente, materiais e recursos humanos; Memórias dos enfermeiros sobre os clientes acometidos pelo HIV e Relacionamento interpessoal. Destaca-se que a memória do cuidado de enfermagem se mostra ligada à construção representacional da aids (não familiar/familiar), do cuidado de enfermagem (sem controle/sob controle) e à constituição de um grupo social com forte identidade, o dos enfermeiros da aids. Concluímos que o estudo mostrou o trabalho pioneiro dos enfermeiros com o HIV/aids no ambiente hospitalar. Esses profissionais tiveram que cuidar desses clientes em meio à possibilidade de contaminação, ao mesmo tempo em que desenvolviam um autocuidado, em alguns momentos exagerados devido ao desconhecimento sobre a síndrome, como forma de preservação da sua saúde, bem como de sua família. A memória social como conceito guarda-chuva mostrou-se pertinente para a análise dos dados, permitindo recuperar, ao menos em parte, a dinâmica do cuidado de enfermagem nos primeiros anos da síndrome.

The present study is concerned with the provision of care as well as with memories and social representations from nurses who worked in reference hospitals where HIV/aids patients were admitted to, in the city of Rio de Janeiro, from 1980 to 1991. It specifically aims to: Identify social memories related to nursing practices implemented by nurses and directed to HIV/aids patients in Rio de Janeiro; Describe nursing practices in the timespan aforementioned; Describe how nurses faced up to the epidemic in the professional context of the hospital where patients were being treated as well as regarding the social relationships that were established and, Analyse memories and social representations of care practitioners related to the nursing care provided to hospitalized HIV/aids patients in the decade following the onset of the epidemic. This descriptive field study has a qualitative approach based on the theoretical presuppositions of memory proposed by Sá in its interface with the theory of social representations from the field of Social Psychology. It has been conducted with the collaboration of 30 nurses who worked in facilities considered to be reference hospitals where HIV-infected patients were treated at the time. Data were collected by means of a semi-structured interview and from the subjects watching of 12 fac-símiles randomly chosen from the mass media. Subjects were predominantly females from 51 to 60 years of age. The main findings suggest that the social memory of nursing care is constructed from different representational objects (nursing care, aids and biosafety), instances of social memory (personal, public, practice, collective, common, verbal historical and documentational historical) as well as from several elements encompassed in that memory (care environment, family and work relationships, among others). Seven categories of analysis emerged: The process of nursing care: facing up to, capacitation and development; nurses and patients feelings described by care providers; the care provided directly to the patients in the beginning of the epidemic; memories of professional self-protection and protection to the patients; the contexts of the provision of care: environment, materials and human resources; Memories related to HIV patients, and interpersonal relationships. We highlight that the memories associated with the provision of care by nurses seem to be linked to the representational construction of aids (not-familiar/familiar), of the nursing care in itself (not in control/in control) and to the formation of a social group with a strong identity: the aids nurses group. We conclude that the study shows the pioneering aspect of the work performed by nurses who were in charge of HIV/aids patients in a hospital environment. These professionals provided care to HIV-infected patients while accounting for the possibility of contamination and developing auto-care practices (albeit sometimes exaggerated due to the lack of knowledge about the syndrome) as a means to protect their own health and the health of their families. Social memory as the umbrella concept of this study proves itself to be adequate to the data analysis, allowing to retrieve, at least partially, the dynamics of the nursing care in the first years of the syndrome.

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PDF

Identificador

http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=8658

Idioma(s)

pt

Publicador

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ

Direitos

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Palavras-Chave #Enfermagem #Cuidado de enfermagem #Memória social #HIV/aids #Representações sociais #Nursing #Nursing care #Social memory #HIV/aids #Social representations #ENFERMAGEM
Tipo

Eletronic Thesis or Dissertation

Tese ou Dissertação Eletrônica